Nas
ruas da capital moçambicana, onde o constitucionalista foi morto, e nas redes
sociais, multiplicam-se as homenagens. Mas também são colocadas muitas
perguntas, ainda sem resposta.
"Paz
à sua alma. É uma perda irreparável", escreveu Mário Árabe, um habitante
de Maputo, napágina do Facebook da DW África após a notícia do
assassinato do académico Gilles Cistac, na terça-feira (03.03). É um sentimento
ecoado por muitos. "A Universidade Eduardo Mondlane, as Escolas Superiores
nos arredores de Maputo e o próprio país perderam um grande Professor",
acrescentou, por exemplo, o utilizador moçambicano João Alfândega.
"O
que é que ele fez?" era uma das perguntas que mais se ouvia junto às
bancas de jornais, conta a revista IDOLO na sua página online. Há dias, Cistac
"defendeu que é possível termos províncias autónomas em Moçambique sem
violar a Constituição", era a resposta. Ao que seguiam mais perguntas:
"E depois? Se defendeu isso é preciso matar?", relata ainda a
publicação moçambicana.
Em
memória
Nas
ruas de Maputo, e não só, multiplicam-se as homenagens ao constitucionalista
moçambicano, de origem francesa, morto a tiro por desconhecidos, quando saía de
um café.
Os
populares juntaram-se em vigílias noturnas, acendendo velas e depositando no
chão ramos de flores em memória de Gilles Cistac.
Também
tem havido marchas de solidariedade para com Gilles Cistac e a sua família e em
defesa da liberdade de expressão.
Na
Beira, a polícia
impediu uma manifestação de docentes e estudantes, que, ainda assim,
estiveram nas ruas. Em Maputo, os ex-trabalhadores moçambicanos na antiga
República Democrática Alemã, conhecidos como madgermanes, também condenaram o assassinato. Está ainda programada uma
marcha de protesto para este sábado, às sete horas da manhã, hora local, no
sítio em que Cistac
foi morto.
Muitos
têm também homenageado Cistac nas redes sociais. Houve quem colocasse a imagem
do constitucionalista como foto perfil no Facebook ou no Twitter, nota
André Mulungo, do jornal Canalmoz. Começaram também a circular vários posts
com o hashtag #jesuiscistac, numa referência à frase #jesuischarlie, usada em
todo o mundo por defensores da liberdade de expressão depois do ataque de
extremistas islâmicos ao jornal satírico Charlie Hebdo, em janeiro.
Mas,
claro, os utilizadores homenageiam Cistac sobretudo através das suas mensagens
de condolências. No Facebook
da DW África, o utilizador "Agape Angola" conclui: "Mataram
o homem, mas não mataram o espírito. O ideal que ele defendia, esse irá com o
vento para onde quiser. E vencerá".
Perguntas
por responder
A
onda de solidariedade nas ruas de Moçambique e nas redes sociais é pontuada
pela indignação e por muitas perguntas: quem matou Gilles Cistac e porquê?
Até
agora, a tendência nas redes sociais tem sido apontar o dedo ao próprio regime.
Porque, ao defender publicamente a possibilidade constitucional de criar de
províncias autónomas, o académico deu força à principal exigência do maior
partido da oposição, a RENAMO, que tem reivindicado autonomia para as zonas
onde obteve uma maioria dos votos nas eleições de outubro.
"Essa
morte é muito estranha, com certeza alguém ou um grupinho se quiseram
beneficiar dela. Que país é este, afinal, onde alguém para manter a sua riqueza
deve matar os outros?", questiona o utilizador "Frenk Amado" na
página da DW África no Facebook. Por seu lado, "Marlon Foliche"
cita o rapper moçambicano Azagaia: "Esses não são libertadores, são
combatentes da fortuna, a liberdade existirá até onde for oportuna."
O
partido no poder, a FRELIMO, nega
estar envolvido no assassinato.
Outra
das perguntas frequentes nas redes sociais, que também já
foi colocada por quatro organizações moçambicanas num comunicado, é: será
que o homicídio de Gilles Cistac vai ficar por esclarecer, como aconteceu com
outros casos no passado?
José
António Simões questiona
no Facebook: "Quem matou Eduardo Mondlane? Quem matou Samora Machel?
Quem matou o general Sebastião Marcos Mabote? Quem matou Uria Simango? Quem
matou o jornalista Carlos Cardoso? Quem matou Siba-Siba Macuácua?"
Jossias
Ramos diz que não quer "imaginar o que teria acontecido a António Muchanga
e companhia se a RENAMO não tivesse homens armados. Urge acabar com o
pensamento radical dentro deste regime, senão continuaremos assim, sem
mandantes do assassinato de Mondlane, Samora, Carlos Cardoso, Siba-Siba
Macuácua e, agora, Gilles Cistac."
O
ministro moçambicano do Interior, Jaime Basílio Monteiro, garante que as
autoridades não vão descansar até encontrarem os criminosos. O governante disse
esta quinta-feira (05.03) que Moçambique está a colaborar com a Polícia
Internacional (Interpol) e as polícias dos países da África Austral para
encontrar os assassinos, não avançando, no entanto, detalhes sobre a
investigação.
Na
página do Facebook da DW África, Avestino Augusto Fundai escreve que
"o esclarecimento breve da morte do Dr. Cistac vai depender do empenho da
polícia de investigação criminal e do envolvimento de toda a sociedade civil."
Tendo
em conta a "inquietação que cresce no país", onde se continua a conjeturar
possíveis suspeitos, o sociólogo Carlos Serra, colega de Cistac na Universidade
Eduardo Mondlane, pede no seu blogue ao Presidente Filipe Nyusi que fale à
Nação: "Fale ao Povo inspire confiança e legitimidade, […] ouse mudar
a história com auxílio do seu elenco governamental, ouse ser o processo e o
futuro, por favor ouse mostrar que o que parece, não é."
Guilherme
Correia da Silva - Deutsche Welle
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