Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Houve
um tempo em que o Governo desafiava os portugueses a abandonar a "zona de
conforto" e a procurar saída no estrangeiro. Comecemos pela imagem: só por
notório mau gosto se pode chamar zona de conforto a uma situação de desemprego.
Por certo, o autor desta mensagem - um jovem secretário de Estado cuja
notoriedade se resume à metáfora infeliz, replicada por vários membros deste
Governo - nunca viveu num lugar tão amargo.
Os
tempos mudaram, assim se faz a roda do mundo. As eleições legislativas
aproximam-se. O mesmo Governo que exortava os portugueses a procurar a
sobrevivência lá fora lança agora, de forma pomposa, "um programa
estratégico para as migrações". Medida deveras inesperada, esta do
Executivo do PSD/CDS. Prevê apoio ao regresso dos emigrantes enxotados pela
austeridade, criando condições, em sintonia com o Instituto de Emprego e
Formação Profissional, para as empresas que contratem desempregados portugueses
no estrangeiro.
Uma
verdadeira quimera, engendrada para maquilhar a realidade, é quase insulto à
inteligência. O programa anunciado por um jovem secretário de Estado -
contratado para fazer a propaganda do Governo de Passos e Portas, em briefings
diários, de que já ninguém se lembra - designa-se VEM. Como vai convencer a
voltar quem foi obrigado a sair não conseguiu explicar. Do programa deveras
espantoso se sabe, apenas, que é destinado a 50 (cinquenta) almas.
Se
desde 2008, mais de meio milhão de portugueses foram forçados a entrar nas
rotas da emigração (tendo mais de metade entre 20 e 39 anos), a proposta do
Governo, aprovada em Conselho de Ministros, parece um truque de mau gosto da
mesma índole da metáfora "zona de conforto". Os tempos não estão para
comédias destas, sobretudo quando se trata da vida de pessoas - deixaram tudo
porque o país onde nasceram não é capaz de lhes proporcionar vida digna.
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