sexta-feira, 6 de março de 2015

SONHAR COM UMA JUSTIÇA DESCOMPROMETIDA. EXPRESSAMENTE. TODOS PRESOS!



Bom dia.

Quase sem preâmbulos servimos o Expresso Curto preparado por Mafalda Anjos, da E, a revista Expresso do tio Balsemão, um exemplo de longevidade. Assim como as pilhas Duracel. Fique por cá mais e veja se ultrapassa o Manuel Oliveira. Não seja é tão exigente como o Manel – é que ele conseguia (consegue?) causar esgotamentos e úlceras aos elementos das equipas de produção e de filmagens que era um fartote. Exigente mas também complicado. Mas ele dura, dura… Ainda bem. Vamos ao Expresso Curto. A começar com a amargura de prisão de alguém no caso BES. Pois é. Vê-se mesmo que a Mafalda anda a sonhar e não está em pleno a perceber a realidade do país. Como pode alguém ir preso se há muitos mais enleados na trama BES? Até o PR deu gás aos investidores dizendo que confiava… Mas o Cavaco diz que não referiu o BES. Mentiu. Ora vê, Mafalda, o país em que estamos? Para limpar o país muitos tinham de cumprir penas pesadas e isso não convém aos que até ocuparam e ocupam lugares cimeiros na sociedade dos mafiosos da política, da banca e do grande capital. Pergunte ao tio Balsemão se não é assim. Aquele jogo tem regras. A principal é manter a impunidade. Nem dá sonhar com uma Justiça descomprometida. Isso não existe em Portugal. Se existisse, expressamente, seriam quase todos presos! (PG)

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Mafalada Anjos, editora da E

E se, para variar, alguém fosse preso?

À justiça o que é da justiça. Depois de digeridas as 45 assombrosas páginas da auditoria forense do Banco de Portugal sobre o caso BES,carregadinhas de ilícitos criminais, a dúvida que a todos assalta e que tem eco no Expresso Diário de ontem através de fonte da direcção parlamentar do PSD, é apenas uma: como é que os administradores do BES com responsabilidades no caso ainda estão em liberdade? A bola está agora do lado do Ministério Público, que está a investigar, mas o que se espera é que o caso acabe, para variar, com condenações exemplares e penas de prisão. A lista de alegados crimes é longa: atos dolosos de gestão ruinosa, fraude, burla, manipulação de contas, falsificação de documentos. Helena Garrido escreve no editorial do Jornal de Negócios que “o BES era uma espécie de jogo de Ponzi, de Dona Branca do século XXI, um castelo de cartas”. Como Henrique Raposo colocou, ou “Ricardo Salgado cometeu crimes, ou coitadinho, não sabe contar pelos dedos da mão apesar de saber termos como ring fencing ou escrow account”. Embora todos sejam inocentes até prova e contrário, “é preciso cair no caldeirão da presunção de inocência em criança para acreditar em tantos acasos”, escreveu Pedro Santos Guerreiro.  

Salgado, que veio agora em comunicado pedir o contraditório, na verdade não colaborou quando teve oportunidade. 

Resta ainda saber que tipo de responsabilidades virão ainda a ser assacadas à crédula entidade de supervisão bancária, driblada como um menino de fraldas neste jogo da alta finança. 

OUTRAS NOTÍCIAS

Quão distraído pode ser um primeiro-ministro? Pelos visto, muito.“Atrasei-me por distracção e por falta de dinheiro”, diz Pedro Passos Coelho em declarações ao “Sol” de hoje. Nos últimos dias, o país ficou a saber que o chefe do governo é, além de um “cidadão imperfeito”, também absorto e com falta de memória. “Não guardo memória dos números de processo nem de valores, já que nunca vi interesse em conservar papéis anos a fio, de situações que ficaram regularizadas”, afirma. Numa democracia, merecemos os políticos que elegemos, mesmo os que comem muito queijo.

Hoje vai valer a pena acompanhar no Parlamento o debate sobre acriminalização do enriquecimento ilícito, ou injustificado, como agora preferem chamar-lhe. O assunto regressa à Assembleia, depois de vetado em 2012 pelo Tribunal Constitucional. De um lado o combate à corrupção, de outro a presunção da inocência. O tema desperta ódios e paixões: forma fácil de combater a incompetência da nossa polícia de investigação atiram uns, única maneira de conseguir apanhar certo tipo de fortunas conquistadas ilegalmente alegam outros.  Não há soluções perfeitas, apenas formas melhores ou piores de conciliar valores em confronto. 

Mudando de tema, foram divulgados ontem dados sobre asmulheres no mercado de trabalho. A situação continua longe de aceitável. Na União Europeia, as mulheres ganham menos 16% do que os homens. Dois em cada três quadros são do sexo masculino, e dois em cada três empregados de escritório são do sexo feminino. Um lapso que, a manter-se este ritmo, só desaparecerá dentro de 70 anos. Em Portugal, a diferença salarial está nos 13%, mas tem-se agravado nos últimos cinco anos (em 2008 era de 9,3%). Se por cá são as mulheres que melhor resistem ao desemprego em tempos de crise, elas estão dispostas a trabalhar mais por menos. O governo anunciou ontem que quer 30% de mulheres na gestão das empresas cotadas até 2018. Coincidência, ou talvez não, é a primeira vez este Expresso Curto é servido por mãos femininas. 

Na novela da OPA ao BPI, a administração chumba a oferta do Caixabank e diz que o preço da oferta devia ser 70% superior. Fica assim mais próxima uma solução de fusão da instituição liderada por Ulrich e o BCP. 

Para terminar, outro tipo de noticiário: Harrison Ford sofreu umacidente de avião e ficou ferido com gravidade, mas está fora de perigo. Esperam-se hordas de fãs desoladas em frente ao hospital. 

Desoladas vão ficar também as fãs de Cristiano Ronaldo com o "pé de chumbo" que ostenta num anúncio em que aparece a dançar... muito mal. Pode ser uma estrela, mas certamente não da pista de dança.

FRASES

“Não é pelo facto de existir uma parceria estratégica que eu tenho, desculpem-me a expressão, de engolir o que me oferecem.” Luís Pacheco de Melo, ex-administrador financeiro da PT, ouvido ontem na comissão de inquérito, não poupou ninguém. Disse que que muitas vezes discordou do que lhe era pedido, e garantiu que a decisão de investir na Rio Forte foi de Henrique Granadeiro.

“Deus o ajude. Deus ajude Portugal", disse Stuart Holland, que assinou com Varoufakis a modesta proposta para Resolver a  Crise do Euro, criticando a postura de Passos Coelho e do governo português no debate das medidas de apoio à Grécia.

“Somos todos digitais, somos todos vulneráveis e tudo é um instante – tão instantâneo. Sucesso instantâneo e falhanço instantâneo. Descoberta instantânea, destruição instantânea e construção instantânea.  É tão esplêndido e maravilhoso como é devastador.” Madonna, falando a propósito do lançamento do seu novo álbum, “Rebel  Heart”.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS

1000.000.000 dólares

A avaliação de mercado astronómica da Farfetch está a deixar alguns analistas de cabelos em pé, que alegam que é mais um exemplo de que a bolha nas empresas tecnológicas é uma realidade. O site de moda especializado em luxo, número dois do mundo, foi fundado pelo português José Neves e tem sede em Matosinhos e Guimarães. A empresa facturou quase 300 milhões de euros e foi agora avaliada em mil milhões de dólares na última ronda de financiamento. O déjà vu de uma irracionalidade em torno das dotcoms, que fez manchete no Financial Times de ontem, é também assunto em destaque na Quartz, que alega que esta bolha é ainda maior do que a anterior.  Assustador…

O QUE EU ANDO A LER

Uma gigante armadilha. É assim que a Time coloca esta semana na sua capa a questão da entrada dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico ou Daesh, na nomenclatura que preferimos no Expresso. Vale  a pena ler o trabalho da revista, que sublinha que enquanto o grupo radical estagnou no campo de batalha, tem vindo a ganhar uma inquietante influência no terreno fértil da internet e redes sociais. Os números divulgados são impressionantes:

- 200.000 tweets diários de apoiantes e membros do Daesh
- 45.000 contas de Twitter associadas a apoiantes no outono de 2014
- 100 contas de Twitter que apenas um apoiante viu suspensas

A este propósito, não deixe ainda de ler o texto de análise da Atlantic que explica porque é tão difícil de parar a propaganda do Daesh, verdadeiramente eficiente. Recorda a publicação que já em 2005 o número dois da al Qaeda Ayman al-Zawahiri tinha  dito que “metade da guerra tem lugar no campo de batalha dos media”.

E para algo completamente diferente – há que distrair a cabeça da desolação do noticiário político e económico –, sugiro a leitura do tema de capa da Wired de Março. A revista que tão bem apanha as tendências das novas tecnologias (mas com um nome ironicamente tão “old school” num mundo em que tudo é wireless) debruça-se sobre o tema quente do sexo na era digital. Por mais visceral ou fugaz que seja, no seu âmago o sexo é conexão. E hoje vivemos na era mais conectada da história. Fazê-lo é diferente hoje, e a tecnologia faz uma enorme parte da equação em várias etapas do processo. A revista explica tudo aqui, mas eu não dispenso o toque: não há como as 40 páginas que o tema merece na versão em papel. 

A propósito de relações, já viu o vídeo que se tornou viral nas redes sociais? Espreite, o amor é lindo e diversificado.

Por fim, uma sugestão que ainda não li, mas que quero muito ver: está nas bancas a primeira capa de revista em HD. É o print a tornar-se digital. Esta edição limitada da AnOther, que traz a Rihanna na capa, custa 125 euros mas já está esgotada.  

Amanhã, como sempre, há Expresso semanal numa banca perto de si. Numa altura em que tanto se fala por cá de “cidadania imperfeita” e “miséria moral”, recomendo o tema de capa da revista E, com umabelíssima entrevista a José Mujica, o presidente do Uruguai que deixou o cargo na semana passada e que ganhou o epíteto do político mais honesto do mundo. Continuou a viver numa casa de 45 metros quadrados com teto de zinco e dispensou seguranças e os luxos do poder. É pôr os olhos neste senhor.      

Desejo-lhe um bom dia e um bom fim de semana, cá o esperamos novamente na segunda-feira com a actualidade que interessa servida pela fresca por Pedro Candeias num mail com cheirinho a café.

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