Maria
João Guimarães - Público
Crise
grega mantém-se quando vence o primeiro prazo para pagamento de parte do
empréstimo do FMI.
À
medida que se aproximam prazos de pagamento de empréstimos, e com medo de que
as verbas se esgotem, o Governo grego desdobra-se em viagens – e estas não são
a capitais dos parceiros europeus.
O
ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, foi no domingo a Washington reunir-se
com a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde
e garantir que a Grécia “planeia
cumprir todas as obrigações com os seus credores, ad infinitum”. “O
governo grego", disse Varoufakis, "sempre cumpriu as suas obrigações
e continuará a fazê-lo.”
Um
dia depois, o ministro reuniu-se com responsáveis do Tesouro dos EUA – a
Administração Obama tem repetido que impor mais austeridade não será a solução,
mas ao mesmo tempo espera que a Grécia cumpra as suas obrigações.
Houve
muita especulação sobre se o Governo grego iria pagar o empréstimo ao FMI – o
primeiro pagamento, de 448 milhões de euros, tem de ser feito até 9 de Abril,
seguindo-se outro de 200 milhões a 1 de Maio (e a 14 o Governo tem de pagar
1700 milhões em salários e pensões).
Enquanto
isso, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, prepara-se para voar para Moscovo
onde, na quarta-feira, se reunirá com Vladimir Putin num encontro visto por
alguns como uma tentativa de encontrar apoio ou de um plano B; e como uma
visita simbólica para pressionar os parceiros europeus a aceitarem um acordo
com a Grécia, na opinião de outros.
Antes
da visita ao maior parceiro comercial da Grécia, Tsipras defendeu o fim das
sanções da UE à Rússia, cuja economia está em recessão. Na agenda
do encontro Tsipras-Putin estão restrições russas a produtos alimentares
gregos, relações bilaterais, comércio, etc. – responsáveis frisaram que
não estava prevista qualquer ajuda de Moscovo a Atenas.
As
saídas extra-europeias levaram a muitas leituras e a oposição veio mesmo dizer
que, depois de ter cortejado a China para alguns negócios em curso, o Governo
liderado pelo Syriza estava a tentar ter contactos com o Irão. O antigo
primeiro-ministro e agora líder da oposição Antonis Samaras disse que o
primeiro-ministro “mandou um primo ao Irão para pedir ao Governo de Teerão para
comprar obrigações gregas”.
A
Grécia não recebe qualquer financiamento externo desde Agosto e é grande a
pressão para impor medidas que o Governo tem rejeitado por contradizerem o seu
programa eleitoral.
Eleições
ou referendo?
Se a pressão externa aumenta pela potencial falta de liquidez, a pressão interna também é forte. Alguns ministros têm feito afirmações que são depois contrariadas (ainda na semana passada um ministro disse que se a escolha fosse pagar salários e pensões ou o empréstimo do FMI, escolheria pagar os salários e pensões, entrando em incumprimento com o FMI). E a ala esquerda do Syriza tem deputados suficientes para, em caso de revolta, deixar o Governo em minoria no Parlamento.
Muitos
responsáveis europeus, diz o Financial Times, têm manifestado frustração
com a influência desta ala esquerda e acham que o primeiro-ministro grego devia
formar uma nova coligação com partidos moderados. “Ele tem de decidir se quer
ser primeiro-ministro da Grécia ou líder do Syriza”, disse mesmo um
responsável, sob anonimato.
Entre
a espada e a parede, Tsipras tem considerado uma opção radical: ir de novo às
urnas, ou para um referendo ou para novas eleições.
As
sondagens mostram um quadro que lhe seria muito favorável: um inquérito online
feito entre 30 de Março e 2 de Abril pelo centro de estudos Bridging Europe,
com sede em Atenas, mostra que o partido de Tsipras conseguiria 44,6% contra
apenas 12,2% para o principal partido da oposição e seu antecessor Nova Democracia
– nas legislativas antecipadas de Janeiro, o Syriza conseguiu 36,6% dos votos e
a Nova Democracia 27,8%.
Na
sondagem online, logo a seguir aparecem os Gregos Independentes, parceiros de
coligação do Syriza, com 8,8%, o partido de extrema-direita Aurora Dourada com
5,7%, To Potami (O Rio) com 4,7% e o Partido Socialista (Pasok) nem sequer
entraria no Parlamento: com 2,7% ficaria aquém do limite de 3%.
“Se
não ficarmos satisfeitos [com os resultados das conversações com o Eurogrupo]
iremos ao povo”, declarou o deputado do Syriza Kostas Chrysogonos. Vários
membros do Governo têm acusado os parceiros europeus de aproveitarem a pressão
para conseguirem concessões do Executivo.
O
ministro das Finanças disse pelo seu lado numa entrevista ao diárioNaftemporiki que
espera um acordo na reunião do Eurogrupo de 24 de Abril, mas garantiu que,
enquanto deseja que as negociações acabem “logo que seja possível”, não iria
aceitar um acordo que ache prejudicial. “Não vamos condenar o país, como
fizeram governos anteriores, a uma asfixia a longo prazo”, declarou, sugerindo
ainda que os credores foram mais tolerantes para com os Executivos
anteriores.
Atenas
apresentou um pacote de medidas mais detalhado na semana passada, mas este não
foi ainda discutido. Antes do encontro decisivo de dia 24, há ainda uma reunião
de "vices" do Eurogrupo no final desta semana, do qual não se espera
um acordo.
Em
Bruxelas a posição dominante é a de conseguir um forte compromisso da Grécia
com reformas que, para o Eurogrupo, ainda não são suficientes para justificar a
libertação da terceira tranche do empréstimo.
Mas,
diz o Financial Times, já há vozes que temem que, se o impasse continuar,
e se a Grécia fosse obrigada a impor controlos de capital, a posição do Syriza
acabaria por sair fortalecida e não enfraquecida.
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