terça-feira, 7 de abril de 2015

Portugal – Desemprego. QUAL REALIDADE?



Sílvia de Oliveira – Dinheiro Vivo, editorial

O clima gelou com a divulgação, pelo INE, dos últimos dados do desemprego em Portugal. Compreensível. A taxa de janeiro passou de uns provisórios 13,3% para um valor definitivo de 13,8%, em alta de cinco décimas; e o valor provisório do desemprego em fevereiro, agora anunciado, fixou-se, também a subir, em 14,1%.

O primeiro-ministro admitiu que se tratou de uma "revisão sensível", mas acrescentou que estes dados "não são um embaraço para o governo" e pediu ao INE que "apresente um fundamento sério" para a revisão.

Merece resposta, mas, admitindo que estes valores refletem apenas alterações metodológicas, mais importante do que saber o que justifica os dados revistos pelo INE é tentar perceber o que, realmente, se passa: o desemprego em Portugal parou de cair?

Verifica-se uma inversão da tendência, ou seja, o desemprego vai voltar a subir? E para isso ainda é preciso esperar uns meses.

Para já, os economistas antecipam uma estagnação, ou seja, admitem que os números permaneçam entre os 13% e os 14% - valores bem mais baixos do que o máximo de 16,9%, mas ainda assim inaceitáveis, como bem lembrou nesta semana Angel Gurría, o secretário-geral da OCDE.

Nunca se percebeu, aliás, a festa feita pelo governo a cada descida publicada pelo INE. Bruxelas e o FMI têm avisado que os níveis de desemprego em Portugal vão manter-se elevados.

As previsões não são, de facto, "vacas sagradas", conforme sublinhou Passos Coelho, mas se a economia vai crescer lentamente - mesmo os 2% de Cavaco Silva não são nenhuma fartura -, se o investimento privado não vai disparar e se não estão previstas políticas públicas reforçadas de criação de emprego, onde está a surpresa?

As previsões podem falhar, a realidade até pode superar as melhores estimativas, mas a verdade é que falamos sempre de décimas.

O desemprego continua e continuará a ser um problema grave da economia portuguesa, e não se prevê que deixe de o ser tão cedo. O primeiro-ministro bem pode pedir que as previsões de organismos internacionais se aproximem do país, mas o que fazer se é este o que temos?

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