Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos reafirma que é do
interesse de Angola que haja "transparência" na investigação sobre
alegado massacre no Huambo. E não vai pedir desculpas, como Luanda exigiu.
Na
semana passada, o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos
Humanos (ACNUDH) em Genebra, na Suíça, pediu que fosse nomeada uma comissão
independente para investigar os confrontos
na Serra Sumé, no Huambo, entre a polícia angolana e fiéis da seita "A Luz
do Mundo", liderada por Julino Kalupeteka.
Segundo
o organismo da ONU, há "factos por esclarecer" e "grandes
diferenças no número de vítimas". As autoridades falam em nove polícias
mortos e 13 vítimas entre os fiéis. Mas outros relatórios referem uma centena
de mortos e a oposição angolana contabilizou mais de mil mortos.
O
pedido de inquérito caiu mal ao Governo angolano. Na sexta-feira passada
(15.05), Luanda repudiou as declarações da ONU. Diz que "não são
sustentadas por quaisquer provas" e que foram "amparadas por falsas
declarações prestadas por elementos tendenciosos e absolutamente
irresponsáveis, com a intenção de difamar" o país.
A
reacção de Angola foi inesperada, disse à DW África o porta-voz do Alto
Comissariado, Rupert Colville. "Fiquei um pouco surpreendido porque há
sérias alegações de que algo aconteceu. Segundo a versão das autoridades,
morreram nove polícias e 13 civis. E isso já é suficiente para ordenar uma
investigação".
O
porta-voz do ACNUDH acredita que "é do interesse do Governo que seja feita
uma investigação independente e transparente, porque se essa versão dos eventos
for verdadeira, isso só iria ajudá-los."
ACNUDH
não pede desculpas
O
ACNUDH esclarece que se limitou a fazer um "pedido básico" e que
reage desta forma sempre que há mortes de civis.
Sublinha
também que não está a "fomentar especulações", como acusa o Governo
de Luanda. Por isso, não haverá nenhum pedido de oficial de desculpas a Angola.
"Não
temos nada que pedir desculpas. Só pedimos que a situação fosse esclarecida, o
que é do interesse de todos", explica Rupert Colville. "Há muitos
relatórios diferentes sobre o que aconteceu e não podem ser todos verdadeiros.
Só precisamos de mais clareza sobre o que aconteceu."
É
"crucial" que a investigação que foi iniciada pelo Governo angolano
seja independente, sublinha ainda o porta-voz do ACNUDH.
"Quem
não deve não teme"
Já
a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) sugere que o
Executivo "abra as portas do Huambo à ONU" para que se possa
averiguar o que aconteceu. A ideia é defendida por Raúl Danda, líder da bancada
parlamentar do maior partido da oposição angolana, que se encontra atualmente
nos Estados Unidos da América, num "périplo diplomático" para dar a
conhecer a "real situação angolana".
"Quem
não deve não teme", afirma Raúl Danda, lembrando que o grupo parlamentar
da UNITA esteve no Huambo e que "o Governo angolano simplesmente impediu
que os deputados se deslocassem à área onde aconteceu esse genocídio". Por
isso, defende que o Executivo, "em vez de estar a acusar toda a gente,
devia abrir espaço para um inquérito imparcial, e até internacional, para se
poder apurar a verdade."
O
Governo angolano afirma que é "difícil acreditar que tenham sido mortas e
enterradas mais de mil pessoas durante uma noite, sem deixar vestígios".
Salienta que o líder da seita está detido a aguardar julgamento e que o caso
está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República.
Raúl
Danda insiste que o que se passou no Huambo foi "um genocídio".
"Não é possível que o Governo angolano esconda as mortes", que
"ultrapassarão as mil", sublinha o dirigente da UNITA. "As
pessoas desapareceram. Há familiares de pessoas que estão a fazer relatos do
que aconteceu e há pessoas que escaparam do monte e que dizem que, de facto,
morreu muita gente. É difícil precisar o número, mas com o tempo vai-se
precisando", conclui.
Madalena
Sampaio – Deutsche Welle
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