POLÍCIA
É ACUSADA DE ENCOBRIMENTO
Dionísio
Halata – Folha 8 digital (ao) 09 maio 2015
A
cidadã Felizarda José, moradora do bairro Gamek, Comuna do Rocha Pinto, acusa
os operativos afecto ao departamento de investigação criminal da esquadra
policial do Catinton, pertencente a Divisão da Maianga, de estarem a encobrir
o assassinato e, consequente, o desaparecimento do filho, adolescente, Gabriel
Monteiro.
Segundo
Felizarda José, o caso remonta desde 28 de Junho do ano passado, altura em que
os pais notaram a ausência de Gabriel José Monteiro, de 16 anos de idade, do
convívio familiar; as primeiras informações sobre a morte do adolescente
foram obtidas na casa mortuária, onde ficaram a saber que o corpo fora deixado
lá por um carro-patrulha adstrito à esquadra policial do Catinton, com
argumento de que tivera sido encontrado na via pública, supostamente vítima de
morte súbita; o mesmo foi registado (na casa mortuária) com o nome verdadeiro
e completo, facto contraditório, pois jamais levava consigo quaisquer
documentos pessoais.
Ao
tomar nota disso, os familiares de Gabriel dirigiram-se à esquadra do
Catinton, onde, depois de terem feito alguma confusão, conseguiram verificar
cópia de um processo acerca do mesmo; o documento foi encontrado numa estante,
escondida, na sala operativa dos agentes afectos ao departamento de
investigação criminal daquela unidade da polícia nacional. De acordo com o
processo, Gabriel José Monteiro fora transferido dali para a direcção
provincial de investigação criminal (DPIC) no dia 18 de Julho de 2014, curiosamente,
um dia após os pais terem apresentado queixa sobre o desaparecimento do
adolescente na mesma esquadra.
Um
dia antes do Gabriel ter dado entrada na esquadra do Catinton nós já tínhamos
ido lá abrir o processo do desaparecimento, deixamos uma fotografia, cópia do
bilhete de identidade dele e contactos telefónicos para facilitar em caso de
alguma informação por parte dos agentes, que pudesse nos levar a localizá-lo;
de realçar ainda que durante os dias subsequentes estivemos naquela unidade
várias vezes, nunca nos disseram nada porquê? Após algumas investigações
(procura) nos apercebemos que o Gabriel tivera sido espancado algures no
bairro Gamek, próximo da conhecida rua da parabólica, por um grupo de jovens,
em casa de uma senhora identificada por Jú, o que resultou, provavelmente, na
morte dele, antes de irmos ter com a senhora fomos novamente avisar a polícia,
nos fizeram de parvos o tempo todo, afirmou Felizarda José, mãe da vítima.
Durante
as nossas buscas passamos por todas as unidades afectadas à Divisão da
Maianga, sempre sob orientação do oficial operativo da investigação criminal do
Catinton, que, afinal, estava a fingir, porquanto já sabia de tudo há bastante
tempo, até porque ficamos a saber que o relatório da morte do nosso filho
estava na esquadra desde 29 de Junho de 2014 e, segundo o chefe da DNIC ali
todos os agentes tinham conhecimento, um dia após termos notado o
desaparecimento em casa do miúdo, e em nenhum momento nos disseram alguma
coisa, lamentou Felizarda José. Dado o facto que perdemos a credibilidade
naqueles polícias, achamos conveniente levar o assunto à direcção provincial
de investigação criminal, onde na voz do chefe Amaro Neto fomos informados
acerca das verdadeiras causas da morte, na presença do agente José Bernardo que
até nos mostrou a mensagem que lhe tinha sido enviada da esquadra do Catinton
a propósito dessa matéria, dando conta da morte de Gabriel, nas instalações da
aludida unidade, após espancamento por parte de vários indivíduos que,
felizmente, também já estavam detidos ali e cujos familiares haviam sido
contactados. Isso tudo é mentira, disse, inconformada, a senhora Felizarda
José. Jamais fomos avisados, concluiu a progenitora. Face a isso, foi aberto
um inquérito para apurar os factos, mas dada a lentidão fomos procurar a
senhora Jú, em cuja residência o nosso filho tinha sido espancado, inicialmente;
para o efeito, usamos os diáconos e o pastor (Tecas) da igreja dela como
intermediário, tivemos bom acolhimento e, no encontro, a Jú confirmou que o
Gabriel esteve em sua casa, adiantou também que houve lá uma briga entre o meu
filho e o genro dela, que na ocasião ficou ferido, facto que, eventualmente,
terá originado o cárcere e consequente espancamento do nosso Gabriel,
deixando-o num estado muito crítico, incapaz de locomover-se, sendo necessário
irem procurar um carro-patrulha para o levar para a esquadra, contrariamente
a um hospital, obtida a viatura, pertencente à unidade do Catinton, os
agentes em serviço recusaram-se receber o mesmo ao verem o estado de debilidade
gravíssimo em que este estava. Isto obrigou a dona Jú e seus cúmplices a contratarem um carro particular que os levou até à esquadra do bairro Huambo,
onde o deixaram por volta das duas da manhã; com estas informações fomos à DPIC e explicamos tudo, tendo sido criado um processo com o código 5717-DH,
mas passado quase um ano, ficamos a saber da procuradoria-geral junto da DPIC
que o caso está parado por falta de provas. Não é possível, nós, hoje, já
conhecemos as pessoas, temos tudo, até testemunhas que viram o ocorrido; até
agora ainda não vimos o corpo nem sabemos onde foi enterrado, e paradoxalmente
a polícia jamais consegue emitir a certidão de óbito e o agente da DPIC
responsável do processo têm-nos dado bailes, isso é inédito, afirmou Felizarda
José, questionando o caro leitor se assim ainda há razão para uma mãe viver.
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