quinta-feira, 14 de maio de 2015

Angola. DESAPARECIMENTO DE ADOLESCENTE NO ROCHA PINTO



POLÍCIA É ACUSADA DE ENCOBRIMENTO

Dionísio Halata – Folha 8 digital (ao) 09 maio 2015

A cidadã Feli­zarda José, moradora do bairro Gamek, Comuna do Rocha Pinto, acusa os operativos afecto ao departamento de investigação criminal da esquadra policial do Catinton, pertencente a Divisão da Maianga, de estarem a encobrir o assassinato e, consequente, o desapareci­mento do filho, adolescen­te, Gabriel Monteiro.

Segundo Felizarda José, o caso remonta desde 28 de Junho do ano passado, al­tura em que os pais nota­ram a ausência de Gabriel José Monteiro, de 16 anos de idade, do convívio familiar; as primeiras infor­mações sobre a morte do adolescente foram obtidas na casa mortuária, onde ficaram a saber que o cor­po fora deixado lá por um carro-patrulha adstrito à esquadra policial do Ca­tinton, com argumento de que tivera sido encontrado na via pública, suposta­mente vítima de morte sú­bita; o mesmo foi registado (na casa mortuária) com o nome verdadeiro e com­pleto, facto contraditório, pois jamais levava consi­go quaisquer documentos pessoais.

Ao tomar nota disso, os familiares de Gabriel di­rigiram-se à esquadra do Catinton, onde, depois de terem feito alguma con­fusão, conseguiram verifi­car cópia de um processo acerca do mesmo; o do­cumento foi encontrado numa estante, escondi­da, na sala operativa dos agentes afectos ao depar­tamento de investigação criminal daquela unidade da polícia nacional. De acordo com o processo, Gabriel José Monteiro fora trans­ferido dali para a direcção provincial de investigação criminal (DPIC) no dia 18 de Julho de 2014, curiosa­mente, um dia após os pais terem apresentado queixa sobre o desaparecimento do adolescente na mesma esquadra.

Um dia antes do Gabriel ter dado entrada na esqua­dra do Catinton nós já tí­nhamos ido lá abrir o pro­cesso do desaparecimento, deixamos uma fotografia, cópia do bilhete de identidade dele e contactos te­lefónicos para facilitar em caso de alguma informa­ção por parte dos agentes, que pudesse nos levar a localizá-lo; de realçar ainda que durante os dias subse­quentes estivemos naque­la unidade várias vezes, nunca nos disseram nada porquê? Após algumas in­vestigações (procura) nos apercebemos que o Ga­briel tivera sido espancado algures no bairro Gamek, próximo da conhecida rua da parabólica, por um grupo de jovens, em casa de uma senhora identifica­da por Jú, o que resultou, provavelmente, na morte dele, antes de irmos ter com a senhora fomos nova­mente avisar a polícia, nos fizeram de parvos o tempo todo, afirmou Felizarda José, mãe da vítima.

Durante as nossas buscas passamos por todas as unidades afectadas à Di­visão da Maianga, sempre sob orientação do oficial operativo da investigação criminal do Catinton, que, afinal, estava a fingir, por­quanto já sabia de tudo há bastante tempo, até por­que ficamos a saber que o relatório da morte do nos­so filho estava na esqua­dra desde 29 de Junho de 2014 e, segundo o chefe da DNIC ali todos os agentes tinham conhecimento, um dia após termos notado o desaparecimento em casa do miúdo, e em nenhum momento nos disseram alguma coisa, lamentou Felizarda José. Dado o fac­to que perdemos a credibilidade naqueles polícias, achamos conveniente le­var o assunto à direcção provincial de investigação criminal, onde na voz do chefe Amaro Neto fo­mos informados acerca das verdadeiras causas da morte, na presença do agente José Bernardo que até nos mostrou a men­sagem que lhe tinha sido enviada da esquadra do Catinton a propósito dessa matéria, dando conta da morte de Gabriel, nas instalações da aludida uni­dade, após espancamento por parte de vários indi­víduos que, felizmente, também já estavam deti­dos ali e cujos familiares haviam sido contactados. Isso tudo é mentira, disse, inconformada, a senhora Felizarda José. Jamais fo­mos avisados, concluiu a progenitora. Face a isso, foi aberto um inquérito para apurar os factos, mas dada a lentidão fomos procu­rar a senhora Jú, em cuja residência o nosso filho tinha sido espancado, ini­cialmente; para o efeito, usamos os diáconos e o pastor (Tecas) da igreja dela como intermediário, tivemos bom acolhimento e, no encontro, a Jú con­firmou que o Gabriel es­teve em sua casa, adiantou também que houve lá uma briga entre o meu filho e o genro dela, que na oca­sião ficou ferido, facto que, eventualmente, terá ori­ginado o cárcere e conse­quente espancamento do nosso Gabriel, deixando-o num estado muito crítico, incapaz de locomover-se, sendo necessário irem procurar um carro-patru­lha para o levar para a es­quadra, contrariamente a um hospital, obtida a via­tura, pertencente à unida­de do Catinton, os agentes em serviço recusaram-se receber o mesmo ao ve­rem o estado de debili­dade gravíssimo em que este estava. Isto obrigou a dona Jú e seus cúmplices a contratarem um carro par­ticular que os levou até à esquadra do bairro Huam­bo, onde o deixaram por volta das duas da manhã; com estas informações fo­mos à DPIC e explicamos tudo, tendo sido criado um processo com o códi­go 5717-DH, mas passado quase um ano, ficamos a saber da procuradoria­-geral junto da DPIC que o caso está parado por falta de provas. Não é possível, nós, hoje, já conhecemos as pessoas, temos tudo, até testemunhas que viram o ocorrido; até agora ainda não vimos o corpo nem sa­bemos onde foi enterrado, e paradoxalmente a polícia jamais consegue emitir a certidão de óbito e o agen­te da DPIC responsável do processo têm-nos dado bailes, isso é inédito, afir­mou Felizarda José, ques­tionando o caro leitor se assim ainda há razão para uma mãe viver.


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