terça-feira, 19 de maio de 2015

Angola. E SÓ OS SINDICATOS RECLAMAM…



Novo Jornal, opinião

Não temos tradição de sindicalismo. Como não temos tradição no exercício da cidadania. Como não temos tradição de muitos valores, essenciais para quem defende, aparentemente já num plano meramente teórico, o socialismo democrático como projecto integrado de desenvolvimento para o país.

Falar de "socialismo democrático" ou de "social-democracia" faz-nos olhar para países como a Noruega ou como a Suécia, paradigmas a seguir - ainda que tenhamos trinta ou quarenta anos para lá chegar - onde é dado livre curso à iniciativa privada, onde o investimento, nacional ou estrangeiro é sempre bem-vindo.

Mas onde, ao mesmo tempo, as grandes riquezas são devida e proporcionalmente taxadas, quem é mais rico, paga mais impostos e promove-se, num sistema de mercado regulado efectivamente pelo estado, um nivelamento das desigualdades sociais.

Ao que parece, no nosso país, cada vez têm menos importância os compromissos eleitorais assumidos com a população. Os programas eleitorais, as promessas em tempos de campanha, entre vozes sedutoras que, no meio de festas e músicas e palanques e bebida barata, nos dizem… "vem por aqui…" E que nos convencem a pôr uma cruzinha no boletim de voto, sem que fique claro para cada um o dia seguinte, quanto nos confrontamos, já não com a teoria, mas com a prática que resulta da acção dos partidos políticos.

Em entrevistas dada a semana passada a este semanário, por dirigentes, quer da UNTA- CS, quer da CGSILA, a reclamação é conjunta e solidária: ambas as centrais sindicais, não foram tidas nem achadas, no que diz respeito às questões estruturantes da nova Lei Geral do Trabalho Que o governo pretenda impor as suas regras do jogo e defender as suas políticas, isso é intrínseco a qualquer executivo. Faz escolhas, certas ou erradas, sempre discutíveis e paga por isso, para o bem ou para o mal, no momento do voto.

Perguntamo-nos: E o parlamento? E os deputados que juraram defender uma Constituição e, generalizadamente, defender os mais desprotegidos, os mais vulneráveis e pugnar por um verdadeiro sistema de justiça social? Não perguntam? Não têm dúvidas? Não põem a sua consciência a funcionar? Não se interrogam? Será que votam em "rebanho" ou estudam seriamente as matérias e dirigem o seu voto em função do dever que assumiram para com todos nós?

A aprovação de nova legislação sobre uma matéria tão séria e tão melindrosa como a que se relaciona com os direitos e deveres dos trabalhadores e das mais diversas entidades empregadoras, obrigaria, naturalmente a saber, em primeiro lugar, quais seriam as contribuições das centrais sindicais. Que ainda existem, para eventual tristeza de alguns, mas que devem ser respeitadas até que uma nova legislação as venha extinguir, por suposição.

Até lá e enquanto assim não for, devem os parlamentares interrogar-se para que projecto de sociedade estão hoje a criar as bases legais. E se a sua função é defender a grande massa de trabalhadores, que é quem verdadeiramente produz riqueza; se é estar ao lado do patronato em regime de exclusividade; ou, de forma séria, ponderada e respeitando escrupulosamente o contrato social que assinaram com os cidadãos, chegar a formas razoáveis, que, dando margem de manobra a patrões, não empurrem os trabalhadores para condições que julgávamos ultrapassadas, velhas e relhas.

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