José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
Um fait
divers um tanto insólito tem vindo a provocar polémica em Portugal nos
últimos dias. É o caso de um professor universitário, Pedro Cosme Vieira, o
qual assina textos incrivelmente estúpidos e incrivelmente racistas (acho que
cometi um pleonasmo), num blogue intitulado Económico-Financeiro.
Pedro
Cosme Vieira tornou-se famoso da noite para o dia depois que um deputado do
Partido Social Democrata (PSD), Duarte Marques, citou um dos seus estudos.
Francisco Louçã veio então a terreno, indignado, denunciar o pensamento racista
do apagado académico.
No
seu blogue, Cosme Vieira defende toda a sorte de disparates, desde a importação
da «pretalhada», expressão pela qual parece ter particular apreço, que, segundo
ele, deveria trabalhar em regime de semi-escravidão, até à ideia de que o
racismo está codificado nos nossos genes. Mistura alhos com bugalhos, confunde
o espanhol com o galego, dá erros de ortografia a torto e a direito, e faz isto
tudo com a alegria de um adolescente depois de fumar o seu primeiro cigarro de
liamba.
A
mim, o que me inquieta não são tanto as ideias de Cosme Vieira (o mundo está
cheio de imbecis) e sim o facto deste indivíduo dar aulas numa universidade. A
Faculdade de Economia da Universidade do Porto, onde o referido professor
lecciona, veio a público dizer que as opiniões de Cosme Vieira veiculam apenas
o próprio. Ou seja, veio sacudir a água do capote.
A
legislação portuguesa criminaliza o fomento do ódio racial. Como é possível que
uma universidade pública portuguesa mantenha nos seus quadros um indivíduo que
se assume como racista, e defende práticas de segregação e exploração das
pessoas em função da sua suposta «raça»?
A
direcção da Universidade do Porto não pode simplesmente assobiar para o lado.
As afirmações do senhor Pedro Cosme Vieira são públicas. A Universidade do
Porto corre o risco de ser acusada de cumplicidade num crime de ódio racial.
Em
primeiro lugar é legítimo supor que um sujeito assumidamente racista, não
tratará da mesma forma todos os estudantes, independentemente da sua origem
étnica. Que garantia têm pois os estudantes africanos, e de origem africana, de
que não serão desfavorecidos relativamente aos seus colegas com a pele mais
clara?
Por
outro lado – o que ensina este indivíduo nas suas aulas? Faz a apologia do ódio
racial?
Como
é possível que a direcção da Universidade do Porto nunca tenha dado por nada?
Espero
que as autoridades portuguesas não demorem a responder a estas questões. É a
própria dignidade da universidade que está em causa. É a imagem de Portugal que
está em causa.
Sem comentários:
Enviar um comentário