domingo, 17 de maio de 2015

CRIME NA UNIVERSIDADE PORTUGUESA



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Um fait divers um tanto insólito tem vindo a provocar polémica em Portugal nos últimos dias. É o caso de um professor universitário, Pedro Cosme Vieira, o qual assina textos incrivelmente estúpidos e incrivelmente racistas (acho que cometi um pleonasmo), num blogue intitulado Económico-Financeiro.

Pedro Cosme Vieira tornou-se famoso da noite para o dia depois que um deputado do Partido Social Democrata (PSD), Duarte Marques, citou um dos seus estudos. Francisco Louçã veio então a terreno, indignado, denunciar o pensamento racista do apagado académico.

No seu blogue, Cosme Vieira defende toda a sorte de disparates, desde a importação da «pretalhada», expressão pela qual parece ter particular apreço, que, segundo ele, deveria trabalhar em regime de semi-escravidão, até à ideia de que o racismo está codificado nos nossos genes. Mistura alhos com bugalhos, confunde o espanhol com o galego, dá erros de ortografia a torto e a direito, e faz isto tudo com a alegria de um adolescente depois de fumar o seu primeiro cigarro de liamba.

A mim, o que me inquieta não são tanto as ideias de Cosme Vieira (o mundo está cheio de imbecis) e sim o facto deste indivíduo dar aulas numa universidade. A Faculdade de Economia da Universidade do Porto, onde o referido professor lecciona, veio a público dizer que as opiniões de Cosme Vieira veiculam apenas o próprio. Ou seja, veio sacudir a água do capote.

A legislação portuguesa criminaliza o fomento do ódio racial. Como é possível que uma universidade pública portuguesa mantenha nos seus quadros um indivíduo que se assume como racista, e defende práticas de segregação e exploração das pessoas em função da sua suposta «raça»?

A direcção da Universidade do Porto não pode simplesmente assobiar para o lado. As afirmações do senhor Pedro Cosme Vieira são públicas. A Universidade do Porto corre o risco de ser acusada de cumplicidade num crime de ódio racial.

Em primeiro lugar é legítimo supor que um sujeito assumidamente racista, não tratará da mesma forma todos os estudantes, independentemente da sua origem étnica. Que garantia têm pois os estudantes africanos, e de origem africana, de que não serão desfavorecidos relativamente aos seus colegas com a pele mais clara?

Por outro lado – o que ensina este indivíduo nas suas aulas? Faz a apologia do ódio racial?

Como é possível que a direcção da Universidade do Porto nunca tenha dado por nada?

Espero que as autoridades portuguesas não demorem a responder a estas questões. É a própria dignidade da universidade que está em causa. É a imagem de Portugal que está em causa.


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