Sabemos,
finalmente, o que Passos Coelho quer de Portugal, finalmente indicou um modelo
a seguir: Dias Loureiro.
Sabemos,
finalmente, o que Passos Coelho quer de Portugal. Depois de anos em que nos
incitou abstratamente a sairmos da zona de conforto, a sermos empreendedores, a
não nos queixarmos da má sorte que a vida nos deu por ter calhado vivermos nas
grandes depressões e recessões económicas, finalmente indicou um modelo a
seguir: Dias Loureiro.
Em
Aguiar da Beira, o primeiro-ministro descobriu, escondido entre o público da
Queijaria Sabores do Dão, para assistir ao seu discurso, Dias Loureiro. Para
quem não sabia de Loureiro desde que ele desapareceu para Cabo Verde enquanto
era investigado por causa do BPN, ei-lo ressurgido. Ressurgido e tornado novo
ideal. Passos olhou Loureiro e encontrou um espelho da medida de
empreendedorismo que deseja para o país. Dizendo de Loureiro que “conheceu
mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e
sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer
na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser
exigentes, metódicos”, o primeiro destacou as capacidades impressionantes do
ex-ministro do PSD.
Começando
pela mobilidade, é evidente a mobilidade internacional de Dias Loureiro,
destacada aquando da sua magnífica fuga para longe de qualquer tribunal
português enquanto se julgava o caso BPN, mas também enquanto tratava dos
negócios da SLN no exterior, em
Porto Rico e em Marrocos. É ainda relevante a sua mobilidade
interna, social e económica.
Diz
que quando saiu da política “não tinha dinheiro nenhum” e poucos anos mais tarde
declarava no IRS anual mais de 200 mil contos (1 milhão de euros). Enquanto
Ministro da Administração Interna de Cavaco Silva, mandou carregar sobre os
manifestantes no buzinão da Ponte 25 de Abril, que protestavam contra o aumento
das portagens para financiar a construção da segunda ponte, também da
Lusoponte, de outro empreendedor e ex-ministro do PSD, Ferreira do Amaral. O
seu sucessor na Administração Interna foi Jorge Coelho, com quem Loureiro
jogava à bola, e que sairia, anos mais tarde, para liderar a Mota-Engil. Novos
exemplos de mobilidade.
Dias
Loureiro venceu amplamente na vida, saiu de Aguiar da Beira para o mundo,
montou um percurso de clareza
e transparência, e nem ter sido arguido do maior "roubo" alguma
vez feito num banco em Portugal ou ter mentido à Comissão Parlamentar de
Inquérito sobre o BPN podem apagar os seus feitos. Enquanto ministro exigia às
secretas relatórios ilegais de líderes políticos e sociais, perseguia
sindicalistas e colocava os seus conhecidos em posições-chave. Depois ,
foi esperar: jogava golfe, conseguia a adjudicação da rede de vigilância do SIS
à SLN, dava-se com traficantes de armas, emocionava-se com o "Menino de
Oiro" (biografia de Sócrates), e geria SLN e BPN sem saber nada das
tropelias que por lá se passavam. Passos Coelho também acha que o modelo de
empresa a seguir é o de uma empresa privada que vive à conta de subsídios
públicos e que aumenta os preços dos seus serviços enquanto distribuiu
milionários lucros pelos acionistas, liderada por um ex-ministro do PSD. Isso
foi apenas dois dias antes de Loureiro, quando Passos Coelho disse aquele que é
o “exemplo para as outras empresas”: a EDP.
Só
há um problema com as recomendações: com 10 milhões de Dias Loureiros a
“empreender” e 10 EDPs teríamos de ter vinte vezes o PIB da Noruega para
saquear.
*
Engenheiro agrónomo e dirigente do Bloco de Esquerda. Deputado municipal do
Bloco na Amadora
Esquerda.net
- Artigo publicado em p3.publico.pt a 4 de maio de 2015
-Recorte
de imagem de Correio da Manhã
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