Ângelo
Alves – Avante, opinião
Tornou-se
um lugar comum... Quando a contestação social alastra e a alternância parece
ameaçada surge o «debate» da necessidade de «novos actores políticos» que
«modernizem a política». Com os partidos da política de direita (PS, PSD e CDS)
em claras dificuldades e as eleições à porta, eles aí estão. Entre
recauchutagens de velhos projectos e partidos «novos» cheios de caras
«experientes» aí estão os «últimos gritos» da política nacional, tudo com nomes
«altamente». O Livre, do «novato» e «desconhecido» Rui Tavares juntou-se a Ana
Drago, essa onda de frescura acabada de sair do Bloco de Esquerda, e fundam o
tempo de aparecer, perdão: «tempo de avançar». Um Partido tão «novo» que abriu
concurso na sua página web para candidatos. Basta aceitar as condições, pôr o
nome, enviar a foto e já está! Até se pode escolher o círculo eleitoral.
Moderno, sem dúvida! Tão moderno como o «junto podemos» de Joana Amaral Dias,
um exemplo muito interessante de domínio da linguística ao decidir dar o nome
de «juntos» a um movimento que resulta de uma divisão de anteriores projectos.
Já
esse «desconhecido» da política nacional, de seu nome Marinho e Pinto, que
prometeu nas eleições para o Parlamento Europeu «revolucionar a política
nacional» está a cumprir a promessa. Em menos de um ano conseguiu: ser cabeça
de lista do MPT; sair do Parlamento Europeu quando disse que ia cumprir o
mandato até ao fim; filiar-se no MPT depois de ser eleito, desfiliar-se desse
mesmo MPT, fundar o seu próprio Partido – o Partido Democrático Republicano – e
suspender a primeira convenção do PDR porque entretanto surgiu uma lista
alternativa que poderia ganhar as eleições internas.
Parece
uma anedota, mas não é. Ao olhar para estes casos quase que nos sentimos
tentados a parafrasear Marisa Matias, a deputada do Bloco de Esquerda (a
«grande novidade política» do início do século) que afirma – falando sobre
aquela que parece ser uma doença auto-imune de divisões em cadeia no seu
Partido – que a questão é patológica, do foro psiquiátrico e não política. Mas
não é. É mesmo política e ideológica. É que a novidade da política reside na
sua essência, no seu conteúdo, no seu compromisso de classe e na coerência das
posições que se assumem. Psiquiatria só se for pelo autismo de alguns que não
percebem que as muitas manobras da «novidade» visam impedir o crescimento de reais
alternativas políticas.
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