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Barretos/SP –
A médica anestesista Carolina Bernardes está sendo alvo de um processo de
assédio moral e racismo, por parte da direção da Santa Casa de Barretos -
cidade localizada a 421 Km de S. Paulo, capital, na região de Ribeirão Preto -
que poderá resultar no afastamento de suas funções do hospital.
A
perseguição a anestesista – a única médica negra da cidade – começou no dia 07
deste mês, quando foi destratada pelo obstreta Fernando Carvalho Jorge. A
anestesista foi humilhada publicamente e chamada depreciativamente de
“negrinha”, por não ter deixado o paciente que estava socorrendo para atender a
um chamado do obstreta. Jorge é amigo pessoal e de infância do interventor da
Santa Casa, Eduardo Petrov.
Abalada
emocionalmente, a médica foi a Delegacia e registrou queixa por injúria racial
crime previsto no parágrafo 3º do art. 140 do Código Penal, que consiste na
ofensa a honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor,
etnia, religião ou origem. A pena prevista para esse tipo de crime é de um a três
anos de reclusão e multa.
Também
protocolou reclamação com o relato pormenorizado do caso, pedindo providências
ao Conselho Regional de Medicina de S. Paulo (Cremesp).
Em
represália a queixa e a denúncia ao Cremesp, a direção da Santa Casa instaurou
Sindicância interna em que a médica passou de vítima à ré, sendo acusada de
omissão de socorro. O hospital também está pedindo seu afastamento a
Cooperativa dos Anestesiologistas de Ribeirão Preto, grupo de profissionais que
presta serviços a Santa Casa.
Conheça
o caso
A
médica é funcionária da COOPANEST/RP – Cooperativa dos Anestesiologistas de
Ribeirão Preto - e estava de plantão no dia 07/junho, quando foi chamada pelo
ortopedista de plantão, para realizar anestesia em um paciente com fratura
exposta na tíbia.
No
momento em que aguardava no centro cirúrgico foi abordada por Fernando Carvalho
Jorge, com o pedido de que deixasse o local imediatamente para realizar uma
anestesia em uma paciente em trabalho de parto, que passaria por uma cesariana.
Embora
não esteja hierárquicamente subordinada a Carvalho, a médica explicou que
estava fazendo o atendimento programado ao paciente com a fratura e que, em, no
máximo 30 minutos, o atenderia. Nervoso, o obstreta reagiu afirmando, aos
gritos, que a anestesista “estava quebrando a mão", e que poderia
anestesiar sua paciente ao invés de ficar “sentada batendo papo”. Não
satisfeito com os insultos a chamou depreciativamente de “negrinha”.
Segundo
a médica o sentimento com o que ocorreu é de humilhação. “Humilhação por não
ser respeitada no meu ambiente de trabalho, humilhação por colocarem em dúvida
se ocorreu ou não o fato, humilhação por ser difamada e ter meu trabalho e
conduta médicas, questionados”, afirmou.
Tanto
a Cooperativa de Ribeirão Preto quanto o Cremesp acompanham o caso. A
Cooperativa, inclusive, já colocou o advogado Lauro Eduardo, do seu
Departamento Jurídico à disposição da anestesista e deve se posicionar nos
próximos dias.
Represálias
Segundo
denúncias, o provedor da Santa Casa Eduardo Petrov (foto abaixo) é amigo
pessoal e de infância de Fernando Jorge, o acusado, e estaria fazendo pressão
sobre testemunhas, inclusive, a funcionários da Santa Casa.
Em
ofício enviado a direção da Cooperativa, Petrov pede a substituição da médica
do quadro de anestesistas de Barretos mas garante que não se trata de punição
nem juízo prévio de valor em relação ao ocorrido, mas, “para preservar a
profissional envolvida, ao menos até que os fatos sejam esclarecidos com a
clareza e a imparcialidade necessárias”.
O
ofício com o pedido de afastamento, porém, não foi assinado pelo interventor,
mas pelo responsável pelo setor de compras, Tiago Soares de Oliveira Vidal.
Em
Nota, a Santa Casa tenta transformar a profissional, de vítima em ré, do
processo de assédio e racismo e afirma ser "contra toda e qualquer ato ou
atitude discriminatória". A Nota distribuída aos jornais de Barretos,
contrariando a anunciada disposição de esclareceer os fatos "com a clareza
e a imparcialidade necessárias", antecipa a acusação de omissão a médica e
acrescenta que “as testemunhas foram acionadas e que o caso será também encaminhado
ao Conselho Regional de Medicina para apuração técnica”.
Mesmo
sob a pressão e as ameaças de ser prejudicada no seu trabalho (o afastamento se
concretizado, além de transformá-la em ré num processo em que é vítima,
signifcará prejuízos financeiros e de salário, além da redução das
oportunidades de trabalho) a médica disse que não desistirá de lutar por
Justiça. “Ao mesmo tempo há um sentimento de indignação. De não aceitar que
isso ainda exista em nossa sociedade. Quero seguir em frente e não vou
desistir, pois acredito que nenhuma injustiça, nenhum crime deva ficar sem
punição”, acrescentou.
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