VRIJ
NEDERLAND AMESTERDÃO
Será
que poderá manter a união monetária e evitar um drama grego? Numa altura em que Jeroen Dijsselbloem
deverá ser novamente nomeado como presidente do Eurogrupo, o Vrij Nederland
analisa a carreira e o estilo do ministro das Finanças holandês. Excertos.
Dijsselbloem
está à frente do Eurogrupo há mais de dois anos. Não tinha qualquer experiência
na política internacional quando aterrou subitamente no núcleo da política
europeia. O seu predecessor na presidência do Eurogrupo,Jean-Claude
Juncker, um veterano no circuito europeu, era conhecido pela sua linguagem
vaga, a sua política de bastidores e as suas longas reuniões noturnas. Desde
que foi nomeado, Dijsselbloem tem atuado de uma forma muito distinta. Raramente
deixa que as reuniões se prolonguem mais do que o estabelecido. Interrompe os
discursos morosos dos seus colegas ministros. Realça a importância de cumprir
os acordos. Utiliza uma linguagem clara e direta.
A
sua linguagem direta foi a maior mudança à qual Bruxelas teve de se habituar. A
franqueza de Dijsselbloem chegou mesmo a produzir um alvoroço internacional
durante a sua primeira grande prova: a gestão da crise do Chipre. Em março de
2013, numa entrevista ao Financial Times,
confirmou que uma das medidas adotadas contra a crise cipriota, isto é, a de os
depositantes também terem de contribuir para o resgate dos bancos, serviria de
plano de ação para outros países da zona euro. Foi então que surgiram muitas
críticas, dizendo que tinha lançado uma bomba verbal aos mercados financeiros.
No final, não acabou por ser uma ideia tão má como parecia, mas esta afirmação
perseguiu-o durante muito tempo. “Dijsselbloem consegue ser muito direto”,
afirma Peter
Spiegel, diretor da sede de Bruxelas do Financial Times, que recolheu a
declaração sobre o plano de ação. “Disse acidentalmente a verdade. É esse o seu
estilo. É o oposto de Juncker, que outrora afirmou: ‘Se as coisas se
complicarem, minta’”.
No
ano passado, a sinceridade de Dijsselbloem voltou a suscitar outra agitação
internacional, quando chamou ao próprio
Jean-Claude Juncker um “fumador e bebedor inveterado” no programa televisivo
holandês Knevel & Van den Brink. A frase correu o mundo. Juncker, que
acabava de anunciar a sua candidatura à presidência da Comissão Europeia,
viu-se obrigado a declarar publicamente que “não tinha
nenhum problema com o álcool”.
A
estratosfera de Bruxelas
Dijsselbloem
não acredita que o seu comentário tenha prejudicado a sua relação com Juncker
de forma permanente. “Foi uma brincadeira desafortunada que causou muitos
problemas ao Jean-Claude. Já lhe pedi desculpas duas vezes, primeiro por
telefone e, mais tarde, enquanto tomávamos café. O assunto deverá ficar assim
encerrado, não se pode prolongar para sempre”. Entretanto, diz Dijsselbloem, a
sua relação com Juncker “é boa”. “Falamos por telefone quase todas as semanas
para nos certificarmos de que mantemos a mesma posição quanto à Grécia. Sempre
que nos encontramos abraça-me e beija-me”. Acrescenta ainda sorrindo: “Mas
parece que faz isso com todas as pessoas”.
Para
obter bons resultados na estratosfera de Bruxelas, é preciso ter um jogo
político impecável. O presidente do Eurogrupo tem de lidar com os opositores de
dezassete nacionalidades, com grandes diferenças culturais, e egos ainda
maiores, antigas disputas e agendas ocultas. Com um inglês muitas vezes pouco
hábil, esta assembleia bragada tem de chegar a um acordo. Em princípio, todas
as decisões são tomadas de forma unânime, pelo que um “não” dito alto pode ter
um grande impacto. Enquanto presidente, Dijsselbloem tem de avaliar se se trata
de uma tática negativa com a finalidade de cimentar uma melhor posição na
negociação ou de uma posição ideológica e inflexível. Segundo fontes de
Bruxelas, Dijsselbloem está a apanhar o jeito. “A sua maior conquista”, explica
Peter Spiegel, “é que o Eurogrupo nunca esteve tão unido como agora, sob a sua
liderança”.
Dezembro
de 2012. Na terceira reunião dos ministros europeus das Finanças, à qual
Dijsselbloem assiste como ministro do Governo, este ouve que Wolfgang Schäuble,
o ministro francês Pierre Moscovici, o presidente do BCE Mario Draghi e o
comissário da UE Michel Barnier estão numa reunião separada para discutir a
formação da União Bancária. Decide assistir a essa reunião. Todos ficam
perplexos: quem é que este jovem holandês presunçoso pensa que é? Mas não lhe
pedem que saia. Arranjam uma cadeira para se sentar. Durante horas assiste à
reunião, falando sobre como combater a crise e salvar a união monetária. Nas
semanas seguintes, o contingente alemã começa a difundir o rumor de que
Dijsselbloem pode ser o sucessor ideal de Juncker. Dijsselbloem afirma que a
ideia é descabida quando a escuta dos seus funcionários e recusa-se a acreditar
que estejam a falar a sério. No entanto, na próxima reunião, Wolfgang Schaüble
nomeia-o pessoalmente como o candidato favorito. Os restantes presentes não
levantam qualquer objeção. Poucas semanas depois começa o seu novo emprego.
O
lacaio dos alemães
“Wolfgang
Schäuble inventou Dijsselbloem”, diz um dos funcionários do ministro alemão.
“Mantém uma relação quase paternal com ele”. Dijsselbloem também parece sentir
o mesmo. “Schäuble é um político experiente. É um negociador fabuloso. Assim
que o conhecemos melhor, também é engraçado. Adora antagonizar as pessoas de
forma sarcástica, sempre com um sorriso nos lábios. É um homem malicioso”.
A
forte relação que os une também tem um lado negativo: desde o momento que
Dijsselbloem foi nomeado como presidente após a nomeação de Schäuble, ficou
conhecido, sobretudo nos países do sul, como o lacaio dos todo-poderosos
alemães. O frugal holandês também ganhou a reputação de ser o maior aliado da
Alemanha na aplicação das normas orçamentais sacrossantas. Os meios de
comunicação chamam-lhe "o lacaio de Schäuble" e "alemão com
tamancos".
Mas
as fontes internas dizem que Dijsselbloem sem dúvida também se opõe aos alemães
de vez em quando. Por
exemplo, em janeiro decidiu viajar para Atenas imediatamente após a vitória das
eleições do partido de esquerda radical Syriza, contra a vontade de Schäuble.
Dijsselbloem
é o rosto do Eurogrupo, mas a maior parte do seu trabalho ocorre nos
bastidores, em reuniões privadas e chamadas telefónicas com colegas e líderes
políticas. Apoia-se muito nos seus funcionários de Bruxelas, o Grupo de
Trabalho do Eurogrupo dirigido pelo austríaco Thomas Wieser, e um pequeno grupo
de funcionários do seu próprio departamento ministerial.
Segundo
Thomas Wieser, Dijsselbloem mantém sempre a calma, independentemente das
dificuldades que os ministros do Eurogrupo lhe coloquem. “Mantém-se sempre
tranquilo no centro da tempestade”, explica. “Nunca vi o Jeroen chatear-se. Tem
uma paciência infinita. É como um pica-pau a fazer um buraco num carvalho. É
esse o método de Dijsselbloem. Se ainda não tiver a solução depois de tentar
cinco vezes, volta a tentar”.
Respeito
ganho
As
fontes internas de Bruxelas dizem que graças aos seus conhecimentos e ao seu
talento para o pensamento criativo, Dijsselbloem ganhou o respeito de muitos
dos seus homólogos do Eurogrupo. Segundo afirma o mesmo, é algo que também o
ajudou a superar as suas inseguranças: “Ocorreu-me o mesmo quado estava na
Câmara de Representantes: quero saber tudo ao pormenor, quero dominar todos os
assuntos. Caso contrário, sinto-me inseguro ao assistir a uma reunião.
Preocupa-me o facto de alguém me colocar uma proposta e eu não a entender”.
Quando
Dijsselbloem fala ao telefone com Alexis Tsipras no dia 25 de abril, depois de
regressar de uma reunião do Eurogrupo em Riga, este explica-lhe que não podem
continuar assim. O progresso é demasiado lento. As negociações com os ministros
e as autoridades gregas não estão estruturadas, são fragmentadas e
descoordenadas. Insiste para que Tsipras volte a assumir o controlo.
Duas
semanas mais tarde, após a seguinte reunião do Eurogrupo em Bruxelas,
Dijsselbloem anuncia numa conferência de imprensa que, pela primeira vez, se
progrediu. O que parecia uma tarefa impossível em Riga (chegar a um acordo com
a Grécia antes do dia 1 de julho para evitar a falência do país) parece agora
um resultado possível. “Ainda temos de colmatar diferenças consideráveis”, diz,
“mas as negociações estão agora a progredir de forma mais eficiente e
construtiva”.
Entretanto,
o primeiro mandato de Dijsselbloem está a chegar ao fim. Oficialmente ainda não
é candidato, mas já começaram as ações de lobbying para que volte a ser
nomeado. A questão da sua potencial candidatura já foi várias vezes subtilmente
levantada nas últimas semanas, nas suas visitas a Paris, Berlim e Roma. As suas
possibilidades parecem estar a aumentar. Segundo os analistas de Bruxelas, o
apoio que Angela Merkel expressou ao ministro espanhol De Guindos não significa
de forma alguma que Dijsselbloem não tenha quaisquer possibilidades. “Merkel é
conhecida por deixar de apoiar alguém quando é necessário”, diz Peter Spiegel.
“Nada é definitivo”, explica Markus Ferber, “em novembro realizar-se-ão
eleições em Espanha. O
que torna o futuro político de Guindos incerto”. Por outro lado, existem muitas
possibilidades de que os poderosos alemães não queiram "Keine
Experimente", isto é, nenhuma experiência, nestes momentos difíceis. A
melhor opção seria, portanto, Jeroen Dijsselbloem.
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