Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Temia-se
que o dia de ontem terminasse com a Grécia a entrar em default, todavia parece
haver uma luz no fundo da noite. A dissonante voz alemã, entretanto, veio dizer
que tudo continuava na mesma. Mas não estava. As propostas do Governo grego
foram acolhidas "como um passo na direção certa" - espera-se, agora,
um acordo até ao final da semana.
Terão
os dirigentes europeus percebido, finalmente, a situação perigosa de afastar os
gregos da Zona Euro? Esperemos que sim. Nesta Europa em que a Hungria - o seu primeiro-ministo
é cumprimentado, pelo presidente da Comissão Europeia , com um "Olá,
ditador"! - se prepara para construir um muro, ao longo de 175
quilómetros, para obstruir a entrada de imigrantes, deixar cair a Grécia,
ignorando a geopolítica europeia, seria jogada arriscada. Nada se encontra, é
verdade, consumado: a turbulência, como em qualquer vulcão, pode estar apenas
adormecida.
Jean
Claude Juncker, que acolheu o chefe do Governo húngaro tratando-o por ditador
(além do novo muro da vergonha, sonha restaurar a pena de morte na Europa),
como se fosse natural na União Europeia haver um ditador no seu seio, recebeu
ontem Alex Tsipras com duas palmadinhas na cara. Um gesto que por muito bem
intencionado que possa parecer, pela complacência para com o Governo grego, é
revelador de como Bruxelas olha para Atenas. Depois da gaffe de Lagarde (a
única forma de classificar a arrogância da diretora do FMI) ao dizer que era
importante recomeçar o diálogo, mas com adultos na sala, o simbólico gesto de
Juncker não augura nada de bom.
Depois
terem dado como certa a saída da Grécia do euro, o bom senso, enfim, pode ter
voltado. Mario Draghi - o presidente do BCE reuniu mais uma vez com Alex
Tsipras - colocou alguma realidade no discurso europeu quando disse que os efeitos
da saída da Grécia do euro seriam completamente imprevisíveis. Palavras sábias
a pôr um travão na leviandade. Ontem, Passos Coelho, o primeiro-ministro de um
país sem medo do contágio grego, por ter os cofres "cheios" (de
dívida) já o temia. Para já, apenas político. Mas há de lá chegar. O contágio
não será apenas político. Por imprevisível, será demasiado perigoso. E os
nossos "cofres cheios" poderão ser o próximo alvo dos atentos
mercados. Quem o diz é o insuspeito Teixeira dos Santos. Passos deveria ouvi-lo.
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