terça-feira, 23 de junho de 2015

O RISCO DE DEIXAR CAIR A GRÉCIA



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Temia-se que o dia de ontem terminasse com a Grécia a entrar em default, todavia parece haver uma luz no fundo da noite. A dissonante voz alemã, entretanto, veio dizer que tudo continuava na mesma. Mas não estava. As propostas do Governo grego foram acolhidas "como um passo na direção certa" - espera-se, agora, um acordo até ao final da semana.

Terão os dirigentes europeus percebido, finalmente, a situação perigosa de afastar os gregos da Zona Euro? Esperemos que sim. Nesta Europa em que a Hungria - o seu primeiro-ministo é cumprimentado, pelo presidente da Comissão Europeia , com um "Olá, ditador"! - se prepara para construir um muro, ao longo de 175 quilómetros, para obstruir a entrada de imigrantes, deixar cair a Grécia, ignorando a geopolítica europeia, seria jogada arriscada. Nada se encontra, é verdade, consumado: a turbulência, como em qualquer vulcão, pode estar apenas adormecida.

Jean Claude Juncker, que acolheu o chefe do Governo húngaro tratando-o por ditador (além do novo muro da vergonha, sonha restaurar a pena de morte na Europa), como se fosse natural na União Europeia haver um ditador no seu seio, recebeu ontem Alex Tsipras com duas palmadinhas na cara. Um gesto que por muito bem intencionado que possa parecer, pela complacência para com o Governo grego, é revelador de como Bruxelas olha para Atenas. Depois da gaffe de Lagarde (a única forma de classificar a arrogância da diretora do FMI) ao dizer que era importante recomeçar o diálogo, mas com adultos na sala, o simbólico gesto de Juncker não augura nada de bom.

Depois terem dado como certa a saída da Grécia do euro, o bom senso, enfim, pode ter voltado. Mario Draghi - o presidente do BCE reuniu mais uma vez com Alex Tsipras - colocou alguma realidade no discurso europeu quando disse que os efeitos da saída da Grécia do euro seriam completamente imprevisíveis. Palavras sábias a pôr um travão na leviandade. Ontem, Passos Coelho, o primeiro-ministro de um país sem medo do contágio grego, por ter os cofres "cheios" (de dívida) já o temia. Para já, apenas político. Mas há de lá chegar. O contágio não será apenas político. Por imprevisível, será demasiado perigoso. E os nossos "cofres cheios" poderão ser o próximo alvo dos atentos mercados. Quem o diz é o insuspeito Teixeira dos Santos. Passos deveria ouvi-lo.

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