Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Ainda
me lembro da primeira (e única) loja dos 300 que abriu na minha terra. Ficava
ali a seguir ao largo da Câmara, logo depois do talho da Fatinha, e vendia
tudo, mas mais barato. Ontem, quando olhei para as capas dos jornais, senti-me
a viver numa loja dos 300. Os chineses da Fosun dizem que Portugal é o melhor
país da Europa para vir às compras. Não vêm comprar sapatos, nem vidro da
Marinha Grande, querem as empresas. Em três jornais distintos aparecem ligados
a negócios na saúde, turismo, agricultura e comunicação social. Não para
investir ou criar emprego, mas adquirir o que já existe e foi, tantas vezes,
criado com o nosso dinheiro.
Percebe-se,
o negócio que fizeram com a Fidelidade, que era pública, deixou um sabor a
pouco. Foi há um ano que a Fosun se endividou (a 5%) para comprar a maior
seguradora portuguesa por mil milhões de euros. Entretanto a Fidelidade usou os
seus recursos para emprestar esse valor à Fosun, que precisava de reduzir o
endividamento, mas a 3%. E ainda sobraram umas centenas de milhões para comprar
imóveis de um outro negócio que o fundo decidiu fazer. A Fidelidade é uma
árvore das patacas e dá imenso jeito à Fosun ter um jardim delas. Também dava
jeito ao Estado, mas para isso era preciso que não tivesse sido privatizada.
Os
chineses da Fosun não são os únicos, nem os primeiros. Se há muito que as
fronteiras travam e destratam quem procura uma vida melhor em Portugal e na
Europa, o mesmo não se aplica ao dinheiro. Os aeroportos portugueses são, na
verdade, franceses, assim como a gestão das duas maiores pontes sobre o Tejo. A
eletricidade portuguesa é, na verdade, chinesa. As infraestruturas elétricas
nacionais são, na verdade, do Qatar. Os bancos são angolanos, como parte da
comunicação social, onde agora também os fundos chineses querem entrar.
Irónico, ou perigoso, dada a difícil relação que ambos os países mantêm com a
noção de liberdade e democracia.
Mas
ainda falta! Falta o Novo Banco, a TAP que vai, em parte, e pelo que se sabe,
para o Estado brasileiro. Ainda faltam hospitais, transportes, resíduos e quem
sabe, em breve, a água. O Governo esforça-se, apressa os processos e leva o
país ao Mundo, em road shows para investidores em que apresenta as vantagens do
paraíso português, onde tudo se vende, barato e fácil, com direito a um visto
dourado. É prò menino e prà menina.
Que
toquem as trompetas e se alegrem as cortes, a estratégia resultou. Portugal
entrou no mapa! É a loja dos 300 da Europa.
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