segunda-feira, 6 de julho de 2015

E SE HOUVER ACORDO SR. PRIMEIRO-MINISTRO?



Bernardo Ferrão – Expresso, opinião

Se há, nesta altura, alguma certeza é que não há certeza nenhuma. Os próximos dias são uma verdadeira incógnita. Mas o ‘não’ da Grécia já nos diz várias coisas: Os gregos estão fartos de austeridade. Estão dispostos a arriscar. O medo não venceu. Venceu a soberania. E os credores têm agora um gigantesco sarilho para resolver. A Europa começa hoje um novo tempo.

O problema é saber que tempo será esse. As próximas horas são dramáticas. A decisão do BCE vai dar um importante sinal: Os bancos gregos estão sem liquidez – a hipótese de um bail-in foi posta em cima da mesa – e se Draghi não abrir a torneira, o colapso será um facto consumado. Mas estará a Europa disposta e preparada para que tal aconteça? As filas nos multibanco e os velhos em apuros para receberem as suas pensões foram só o arranque de um filme que pode acabar muito pior. Depois da tragédia, o que virá?

Para os credores vai ser extremamente difícil negociar com quem fez a campanha pelo ‘não’. E com quem se comportou de forma errada, errática e em permanente campanha interna. Mas o povo grego decidiu. Tsipras revelou-se. Ganhou o país. E dá um importante sinal para voltar à mesa das negociações: Varoufakis sai. Era um obstáculo.

Deixar cair Atenas comporta demasiados riscos: O contágio desemboca em “águas desconhecidas.” O fantasma de uma nova crise está ao virar da esquina. E não esqueçamos que o falhanço do projecto do Euro é oxigénio para os extremismos. Da esquerda radical, à direita nacionalista. 

Os líderes europeus ainda estão meio atordoados com o que se passou. Fecharam-se em copas. E Passos Coelho fez o mesmo. Só falará depois da reunião de Merkel e de Hollande. À espera de um guião, o primeiro-ministro fez no entanto questão de ir adiantando que a “Grécia tem de pagar os empréstimos feitos em condições muito excepcionais.” A declaração é clara como água: As linhas vermelhas estão traçadas. Não pode haver filhos e enteados. Ou Portugal não é a Grécia. Ou o “não pode haver excepções” de Cavaco Silva. Mas nos cálculos de Passos há um que certamente já o atormenta. É que se a Europa ceder a Atenas – e sobretudo se incluir alguma cedência na questão da dívida -, o jogo pode virar e esse seria o cenário do embaraço. Passos teria de justificar porque não seguiu outro caminho em vez do bom aluno que quis “ir além da troika”.

Os líderes europeus não vão facilitar. E Passos Coelho também não. O futuro da Grécia e do euro é uma cartada decisiva para as legislativas. E aprendemos com os últimos meses que não há cenários definitivos. António Costa já está chamuscado, mas ainda pode conseguir reverter os danos do seu ziguezaguear. Quanto a Passos Coelho será interessante perceber como se vai safar deste “conto de crianças” que abanou com a Europa dos adultos.

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