Pedro
Tadeu – Diário de Notícias, opinião
Achei
a convocação do referendo na Grécia, de rejeição às medidas de austeridade, um
suicídio político. Achei a cedência do primeiro-ministro Alexis Tsipras às
exigências da troika, 24 horas depois do referendo, uma traição ao povo grego.
Achei o fecho dos bancos e o racionamento de dinheiro através das caixas
automáticas, durante semanas e semanas, o resultado violento de uma nabice
extrema do governo Syriza/Anel. Acho esta segunda vitória eleitoral do Syriza
uma bofetada dada pelo povo grego ao poder europeu, com ainda maior estalo do
que aquele que soou a 25 de janeiro passado.
A
troika pôs os gregos a pão e água, quase literalmente, através do Banco Central
Europeu, quando este fechou a torneira ao sistema financeiro grego logo após a
vitória do "não à austeridade" no referendo de 5 de julho. A
cumplicidade do BCE com o poder político europeu era linear, óbvia, evidente e
foi muito grave o governo grego ter, mansamente, deixado chegar as coisas a
esse estado sem ter alternativa viável - e a convocação do referendo soou,
portanto, como declaração patética para uma guerra antecipadamente perdida, um
pretexto para o inimigo proceder ao aniquilamento de toda a resistência numa
única batalha. E, de facto, em horas, o Syriza/Anel aceitou rapidamente e sem
condições a inevitável capitulação.
Os
vencedores dessa luta, liderados politicamente pela Alemanha e pela França,
trataram de restabelecer uma relativa normalidade na vida quotidiana dos
gregos, levando BCE, FMI e Comissão Europeia a concederem novos empréstimos e
garantindo verdadeiros despojos de guerra que a imposição de inúmeras
privatizações lhes oferece.
Pois
acontece que nestas legislativas o eleitorado grego (que quer no referendo quer
neste domingo recusou validar sondagens da treta) informou agora a Europa que a
guerra, afinal, ainda não acabou.
O
que a renovação quase intacta dos votos concedidos ao Syriza/Anel declara é que
os gregos não desistiram: não podem ganhar rapidamente a Merkel, Hollande,
Dijsselbloem, Draghi, Juncker e Lagarde então, pacientemente, propõem-se
prolongar a luta, com avanços e recuos, com vitórias e derrotas, certamente com
contradições e erros, mas tentando sempre caminhar no sentido do seu objetivo
principal: garantir que quem manda na terra dos gregos são mesmo os gregos...
Têm-nos no sítio.
Olho
para a disputa eleitoral portuguesa. Oiço os debates dos dirigentes que têm
acesso à televisão, à rádio, à imprensa generalista. Quem será capaz de, sem
perder o sentido da responsabilidade, com calma e bom senso, garantir o início de
um caminho para Portugal voltar a ser, um dia, verdadeiramente pertença dos
portugueses?...
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