"O
resultado espetacular da coligação nas sondagens corresponde aos seus mínimos
históricos. Seria inesperado que o núcleo duro do eleitorado do centro-direita
não se mostrasse disponível para votar no PSD e CDS coligados."
Pedro
Adão e Silva* - TSF, opinião
As
últimas sondagens têm sido recebidas com surpresa: é-nos dito que a coligação
PAF, contra todas as expectativas, está a resistir, enquanto o PS não descola.
Convenhamos que o único elemento de surpresa é o resultado do PS, a coligação
não só tem as intenções de voto expectáveis como está nos seus mínimos
históricos. Vamos por partes.
Com
pequenas variações de sondagem para sondagem, a coligação PSD/CDS tem hoje
intenções de voto em redor dos 35% (veja-se este gráfico no excelente POPSTAR). Vale a pena atentar
neste valor.
Se,
no dia das eleições, for este o resultado de PSD e CDS, os partidos baixarão a
fasquia simbólica dos 2 milhões de votantes e terão o seu resultado mais baixo
de sempre em legislativas. As eleições de 2005, com Santana Lopes e Paulo
Portas, representam o mínimo do voto somado nos dois partidos (36%). Em 2009,
PSD e CDS, somados, tiveram 40% dos votos (exclusivamente por força de um
crescimento do CDS por relação às eleições anteriores) e é preciso recuar à
Constituinte para PSD e CDS terem resultados mais fracos do que aqueles que
agora se anunciam nas sondagens. Ou seja, o resultado espetacular da coligação
nas sondagens corresponde aos seus mínimos históricos. Seria inesperado que o
núcleo duro do eleitorado do centro-direita não se mostrasse disponível para
votar no PSD e CDS coligados. Com um eleitorado natural, em contexto de
derrotas eleitorais, sempre em volta dos 40%, o que a coligação está a
conseguir é fixar os seus votantes mais fieis. Por mais malfeitorias que tenham
sido feitas no Governo, surpreendente seria que isso não acontecesse.
O
que é, de facto, novo na política portuguesa é o principal partido da oposição
não estar a crescer como no passado. Isto é, nas legislativas pré-crise de
2008, as perdas do PSD tendiam a corresponder a ganhos do PS e vice-versa
(mesmo que isso não correspondesse a transferências diretas de eleitores). E o
que é que pode explicar esta tendência?
Desde
logo, uma erosão, bem mais lenta do que nos outros países da Europa do Sul, dos
partidos que tiverem responsabilidades governativas desde as transições para a
democracia. A crise financeira, económica e social traduz-se também numa crise
de legitimidade dos partidos centrais (por todos, leia-se o excelente livro de Ignacio Sánchez-Cuenca,
"A Impotência Democrática"). Apesar de tudo, a excepcionalidade portuguesa a este propósito continua
a ser notável.
O
que explica então que, hoje, o PS mantenha apenas, em média, cerca de dois
pontos percentuais de vantagem face à coligação?
Em
primeiro lugar, a responsabilidade pela crise. Foi com o PS no Governo que o
país pediu o resgate, o que naturalmente continua a marcar os socialistas.
Depois, claro está, o processo Sócrates, que, por mais demarcação que António
Costa procure fazer, pode estar a penalizar eleitoralmente o PS. E, ainda, os
bloqueios estratégicos da política europeia, que diminuem a margem de manobra
dos Governos nacionais.
Mas
o próprio desenrolar da campanha não é independente das sondagens. A este
propósito, convém separar o ruído (no qual os políticos, jornalistas e
comentadores se tendem a concentrar) dos sinais (os fundamentos que podem
determinar o voto). A agenda mediática está muitas vezes sobreexposta ao ruído
(veja-se por exemplo o episódio dos outdoors que marcou Agosto), mas o que
conta são mesmo os fundamentos.
A
performance da economia, seja a sua degradação, seja a lenta recuperação do
emprego, ajuda a perceber a evolução da tendência de voto no PS e na coligação
PaF; as mentiras de campanha há 4 anos, que aliás tiveram várias réplicas ao
longo da legislatura (as últimas das quais com a resolução do BES, que foi
anunciada como não tendo custos, algo que todos já perceberam que não seria
nunca possível), geram um problema sério de credibilidade do primeiro-ministro
Passos Coelho; e a forma taticamente eficaz como a coligação tem conseguido
fazer da pré-campanha um escrutínio às propostas do PS, enquanto se escusa a
apresentar um programa, ao mesmo tempo que esconde os compromissos assumidos no
Programa de Estabilidade entregue em Bruxelas, dá um suplemento de oxigénio aos
partidos de Governo.
O
que não sabemos, ainda, é que efeito têm as sondagens no voto. Não seria a
primeira vez em que sondagens com empates técnicos a semanas das eleições se
transformavam em vitórias folgadas. Do passado vale a pena recuperar, a título
de exemplo, as legislativas de 1991 e as de 2011. No verão de 91, as poucas
sondagens existentes davam um empate entre o PS liderado por Jorge Sampaio e o
PSD de Cavaco Silva. A 6 de Outubro, o PSD teve o seu melhor resultado de
sempre (50,6%); e nas últimas legislativas, Sócrates disputava a vitória com
Passos Coelho até perto das eleições para depois perder por uma diferença de 10
pontos percentuais.
Quer
isto dizer que as sondagens erram? Não, quer dizer que têm também um efeito no
voto. Resta saber se, agora, o PSD e o CDS estão em condições de crescer para
além do seu núcleo eleitoral mais fiel ou se, pelo contrário, a perspetiva de
eleições disputadas e o espectro da vitória de Passos Coelho ajudam o PS a
bipolarizar e a mobilizar o eleitorado que, convém não esquecer, rejeita por
uma larga maioria o Governo.
*Politólogo e comentador do Bloco Central TSF - Na foto: Pedro Adão e Silva
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