quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Portugal. PASSOS SAIU À RUA NO MONTIJO E FOI RECEBIDO COM SIMPATIA E INSULTOS



Sofia Rodrigues – Público - ontem

Coligação PSD/CDS abriu excepção aos ambientes controlados que têm marcado a campanha.

Conhecem o pai de Passos Coelho desde Silva Porto (hoje Cuíto, em Angola) há mais de 50 anos. O casal tem uma retrosaria no centro do Montijo e foi nessa loja que o líder da coligação PSD/CDS entrou para cumprimentos, levado pelo braço da deputada e candidata local, Mercês Borges. A conversa foi de memórias, contou depois ao PÚBLICO a dona da loja, onde Passos Coelho se demorou no curto percurso da rua. “Mas também lhe disse para aliviar os impostos, mais o IRS”, confessou.

A coligação PSD/CDS saiu à rua, mas num ponto da agenda só colocado no próprio dia – e onde constava Paulo Portas - e que foi até antecipado em meia hora. Por perto da comitiva (sem o líder do CDS) estavam sobretudo os mais simpáticos e os que pareciam esperar Passos Coelho, acompanhado da cabeça de lista por Setúbal e ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.

Ao largo, quem passava soltava alguns insultos e indignação. “Prá rua!”, gritava uma mulher que já tinha entrado numa pastelaria para o tentar ver. “Não o consegui ver, está rodeado de seguranças”, comentou. Numa rua sem trânsito automóvel, duas reformadas, de braço dado, olhavam para a mancha que avançava formada pelos jotas, candidatos e os jornalistas. A questão das pensões deixa-as intranquilas. “Uns dizem uma coisa, outros dizem outra. A gente já não sabe”, observa. A outra complementa: “Se já não nos tirarem o pouco que temos, já não é mau”.

Não chegam a cumprimentá-lo. Os apertos de mão e os beijinhos mais calorosos aconteceriam numa esplanada. Uma desempregada que disse estar numa situação difícil deu a deixa da tarde, mesmo em frente as câmaras de televisão. “O senhor é muito jeitoso. É uma brasa”, disse, dirigindo-se para Passos Coelho. O candidato a primeiro-ministro confessou: “Até fico corado”. E minutos mais tarde retribuiu: “A senhora também é muito elegante”.

A marcação de um percurso na rua em cima da hora parecia adivinhar as perguntas dos jornalistas durante a manhã, no Barreiro, quando Passos Coelho esteve no local onde pode ser o futuro terminal de contentores. Questionado sobre se tem havido uma estratégia para evitar a exposição pública, o líder da coligação deu uma resposta negativa e assegurou que a agenda de campanha “foi fechada há muito tempo”.

Passos Coelho rejeita qualquer receio de ser confrontado na rua com lesados do BES com ou “senhoras de cor-de-rosa": “Eu não tenho nenhum problema em falar com toda a gente que encontro na rua e foi isso que eu fiz nos últimos quatro anos, em circunstâncias bem mais difíceis do que aquelas que vivemos agora". 

A manhã de campanha arrancou, no entanto, e mais uma vez num ambiente controlado. Foi uma visita ao Museu Industrial da antiga Cuf, onde se inteirou de todo o antigo complexo industrial, e também das capacidades do terminal do Porto de Lisboa. O líder da coligação mostrou-se informado: “A engenheira Maria de Lurdes Pintassilgo foi o primeiro quadro da Cuf”.

Já no local onde poderá ser o futuro terminal do Barreiro, Passos Coelho saudou o potencial investimento privado, o que é condizente com o discurso da coligação. Questionado sobre um possível reembolso ao FMI ainda este ano, Passos Coelho reconheceu que como “não foi concretizada a venda do Novo Branco dentro do prazo, o IGCP [instituição do Estado que faz a gestão da dívida pública] terá de adaptar agora a gestão da sua tesouraria a essa circunstância".

Foto Miguel Manso

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