Sofia Rodrigues – Público -
ontem
Coligação
PSD/CDS abriu excepção aos ambientes controlados que têm marcado a campanha.
Conhecem
o pai de Passos Coelho desde Silva Porto (hoje Cuíto, em Angola) há mais de 50
anos. O casal tem uma retrosaria no centro do Montijo e foi nessa loja que o
líder da coligação PSD/CDS entrou para cumprimentos, levado pelo braço da
deputada e candidata local, Mercês Borges. A conversa foi de memórias, contou
depois ao PÚBLICO a dona da loja, onde Passos Coelho se demorou no curto
percurso da rua. “Mas também lhe disse para aliviar os impostos, mais o IRS”,
confessou.
A coligação
PSD/CDS saiu à rua, mas num ponto da agenda só colocado no próprio dia – e onde
constava Paulo Portas - e que foi até antecipado em meia hora. Por perto da
comitiva (sem o líder do CDS) estavam sobretudo os mais simpáticos e os que
pareciam esperar Passos Coelho, acompanhado da cabeça de lista por Setúbal e
ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.
Ao
largo, quem passava soltava alguns insultos e indignação. “Prá rua!”, gritava
uma mulher que já tinha entrado numa pastelaria para o tentar ver. “Não o
consegui ver, está rodeado de seguranças”, comentou. Numa rua sem trânsito
automóvel, duas reformadas, de braço dado, olhavam para a mancha que avançava
formada pelos jotas, candidatos e os jornalistas. A questão das pensões
deixa-as intranquilas. “Uns dizem uma coisa, outros dizem outra. A gente já não
sabe”, observa. A outra complementa: “Se já não nos tirarem o pouco que temos,
já não é mau”.
Não
chegam a cumprimentá-lo. Os apertos de mão e os beijinhos mais calorosos
aconteceriam numa esplanada. Uma desempregada que disse estar numa situação
difícil deu a deixa da tarde, mesmo em frente as câmaras de televisão. “O
senhor é muito jeitoso. É uma brasa”, disse, dirigindo-se para Passos Coelho. O
candidato a primeiro-ministro confessou: “Até fico corado”. E minutos mais
tarde retribuiu: “A senhora também é muito elegante”.
A
marcação de um percurso na rua em cima da hora parecia adivinhar as perguntas
dos jornalistas durante a manhã, no Barreiro, quando Passos Coelho esteve no
local onde pode ser o futuro terminal de contentores. Questionado sobre se tem
havido uma estratégia para evitar a exposição pública, o líder da coligação deu
uma resposta negativa e assegurou que a agenda de campanha “foi fechada há
muito tempo”.
Passos
Coelho rejeita qualquer receio de ser confrontado na rua com lesados do
BES com ou “senhoras de cor-de-rosa": “Eu não tenho nenhum problema em
falar com toda a gente que encontro na rua e foi isso que eu fiz nos últimos
quatro anos, em circunstâncias bem mais difíceis do que aquelas que vivemos
agora".
A
manhã de campanha arrancou, no entanto, e mais uma vez num ambiente controlado.
Foi uma visita ao Museu Industrial da antiga Cuf, onde se inteirou de todo o
antigo complexo industrial, e também das capacidades do terminal do Porto de
Lisboa. O líder da coligação mostrou-se informado: “A engenheira Maria de
Lurdes Pintassilgo foi o primeiro quadro da Cuf”.
Já
no local onde poderá ser o futuro terminal do Barreiro, Passos Coelho saudou o
potencial investimento privado, o que é condizente com o discurso da coligação. Questionado sobre um possível reembolso ao FMI ainda este ano, Passos Coelho
reconheceu que como “não foi concretizada a venda do Novo Branco dentro do
prazo, o IGCP [instituição do Estado que faz a gestão da dívida pública] terá
de adaptar agora a gestão da sua tesouraria a essa circunstância".
Foto
Miguel Manso
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