Perto
de 1,2 milhões trabalhadores (um em cada três) leva para casa menos de 600
euros no final do mês. E 61% não vão além dos 900 euros de salário líquido.
A
caminho das eleições, nas semanas de campanha eleitoral, a TSF selecionou 10
perguntas para o futuro governo. Hoje a questão é antiga e arrasta-se há
décadas:Quando é que os portugueses vão poder, finalmente, ter salários mais
altos?
Os
números do Inquérito ao Emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE)
revelam que em 2014 o salário médio líquido em Portugal rondava os 813 euros.
Avaliando por setor de atividade, esse valor ficava pelos 578 euros na
"Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca", 751 euros na
"Indústria, construção, energia e água" e 842 euros nos
"serviços".
Na
divisão por regiões, Lisboa leva clara vantagem com uma média de 958 euros. No
resto do país (Norte, Centro, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira) esse valor
desce para perto de 750 euros. E estamos a falar, recorde-se, em média (grande
parte ganha bastante menos).
Quando
se olha para os diferentes escalões de rendimento, 34% dos portugueses recebem
menos de 600 euros limpos por mês (a Norte são 40%) e 61% não ultrapassam os
900 euros. Apenas 39% ganham mais do que isso.
Números
que ajudam a perceber o que leva Portugal a ser o quinto país da zona Euro onde
mais pessoas que trabalham vivem em risco de pobreza: 10,5%.
O
caso do têxtil
Um
dos vários sectores conhecidos em Portugal pelos salários baixos é o têxtil e
vestuário que emprega perto de 130 mil pessoas.
O
presidente da associação que representa os empresários desta área sublinha que
há exceções, mas admite que a maioria dos ordenados pouco mais valem do que o
salário mínimo. João costa garante, contudo, que é uma questão de sobrevivência
pois há muitos países, mesmo europeus, que pagam ainda pior.
João
Costa explica que os empresários gostavam de aumentar os salários, mas
"não adianta reclamá-los com a especialização e atividades que existem no
país pois isso significaria a inviabilidade e encerramento das empresas.
O
empresário argumenta que os baixos salários só se invertem aumentando a
especialização das empresas portuguesas e fazendo produtos e serviços mais
caros no mercado internacional.
Para
quem diz que o problema está na fatia dos lucros que vai para os patrões, João
Costa garante que isso não é verdade pois nos últimos anos grande parte das
empresas tem tido prejuízos.
Ricardo
Cabral, economista na Universidade da Madeira, diz que um dos
"dramas" da economia portuguesa é ter um baixo rendimento per capita
e produtividade. É preciso um crescimento sustentado e, na prática, o principal
motivo para recebermos salários baixos está no facto de não termos produtos
competitivos internacionalmente.
O
economista admite que "não é compreensível existirem ordenados tão
pequenos quando comparamos com o que acontece em países vizinhos, pelo que o
desafio é aumentar a produtividade, o crescimento económico e a
competitividade... mas não através dos baixos salários".
Um
prémio na maternidade
Na
Gouveia e Campos, uma empresa têxtil de Viseu, trabalham perto de 400 pessoas.
A gestora Ângela Castanheira admite que os funcionários merecem mais, mas é
impossível, neste sector, ter ordenados acima do Salário Mínimo Nacional.
Para
colmatar as limitações financeiras, a empresa dá apoios extra. Entre eles, um
salário extra quando as funcionárias são mães, um prémio de 250 euros para quem
completa 25 anos de casa e um médico que diariamente assiste as funcionárias e
os filhos.
Em
Vila Nova de Paiva os salários pagos na Novacable são mais elevados do que no
têxtil. Não é muito comparando com o que acontece noutras áreas, mas 700 euros
é bastante num concelho pobre do Interior.
A
empresa vive das exportações para a indústria da Defesa ou de carros topo de
gama (entre eles a Ferrari) e consegue, também, por vezes, dar alguns bónus aos
trabalhadores. O patrão, Manuel Lopes, defende que "trabalhadores felizes,
sem problemas, andam mais motivados e são, também, mais produtivos".
Nuno
Guedes com Amadeu Araújo - TSF
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