Lúcio
Rodrigues, um conhecido chefe tradicional da região de Cacheu, norte da
Guiné-Bissau está contra a "tentativa de apagar da história" do país
a presença da colonização portuguesa que diz ser "mais que evidente".
Antigo
deputado ao Parlamento e agora régulo (chefe tradicional), Lúcio Rodrigues
disse à Lusa que não entende como é que na Guiné-Bissau "as estátuas de
figuras da colonização são atiradas ao esquecimento", quando nos outros
países são preservadas, referiu.
Estátuas
de figuras como Diogo Cão, Nuno Tristão, Teixeira Pinto, Honório Barreto, entre
outras, estão amontoadas no pátio do antigo forte de Cacheu depois de terem
sido arrancadas de diferentes lugares do novo Estado independente em 1973.
"É
uma ignorância total", defende Lúcio Rodrigues, que afirma que embora o
país seja independente "a história não se apaga" pelo que é pela
reposição das estátuas nos seus lugares.
"O
processo até à independência passou pela colonização, pelo comércio dos
escravos. Faz parte da nossa história. É esta ignorância total que impera nas
nossas cabeças que têm que ser lavadas", observou o régulo Rodrigues.
Defende
ainda que aos alunos deve ser ensinada essa parte da história do país, para que
possam saber, por exemplo, que Nuno Tristão foi morto no rio Cacheu, pelos
felupes, um dos grupos étnicos da Guiné-Bissau.
Mesmo
que tenham sido "matadores, ditadores, pacificadores", a memória dos
promotores da colonização da atual Guiné-Bissau deve ser preservada, indicou o
responsável tradicional.
"Seja
lá que o tenham sido, fazem parte da nossa história", insistiu Lúcio
Rodrigues, para quem atualmente o país também os seus "matadores e
ditadores" que não serão apagados da história.
Sobre
o facto de ser um chefe tradicional a defender a preservação da presença
colonial, Lúcio Rodrigues diz pensar pela própria cabeça e ainda ser "um
profundo respeitador dos elementos da história".
A
cidade de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau, acolhe desde sexta-feira até
domingo, o quarto festival cultural Caminhos de Escravos, para evocar o facto
de milhares de escravos terem embarcado no porto local para as américas.
Segundo
Lúcio Rodrigues seriam entre três mil a três mil e quinhentos escravos
guineenses e de outros países da Costa Ocidental africana por cada navio
negreiro que zarpou de Cacheu.
MB
// EL – Lusa
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