sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

DESDE QUE O MUNDO É MUNDO SEMPRE EXISTIRAM POBRES… E FILHOS DE MEGERAS



Bom dia. Mais um fim-de-semana para manter a coragem. Para as muitas centenas de milhares de desempregados a coragem está lá, o efeito psicológico de não encontrar um emprego é que desce nos indicadores de mais ou menos força anímica para ouvir “não foi selecionado(a)”. O mercado de trabalho está a transbordar de mão-de-obra a oferecer-se. Por isso os enormes abusos das entidades patronais. É o esclavagismo. E para se ser escravo é preciso muita força física e mental. Até porque se trabalha mas continua-se a passar fome. Menos. Mas a fome é certinha. O não ter verba para os transportes também. Sempre sujeitos à fiscalização e à vergonha de serem postos fora do transporte por indecentes e más-figuras… E assim está Portugal. Muito poucos vão bem, a maioria vai muito mal. E o pagamento da eletricidade, e do gás, e da água, e da renda de casa, e das dívidas acumuladas que estão a serem pagas às mijinhas devido a acordos (se não é o arresto da casa e dos bens que já são poucos e pouco valem mas são necessários à vida da família). Em tudo isto há os que vão muito bem na vida e nem fazem a mínima ideia das dificuldades daqueles que passam por eles nas ruas. Nem querem nisso pensar, preferindo olhar para as montras de artigos de marca caríssimos, e entrarem e comprarem. Assim sempre se sentem melhor e esquecem a miséria que os rodeia. São poucos, esses, mas que os há, há. Dizem os miseráveis que esses também fazem parte dos filhos das megeras que os pariram. Sim. Mas nem todos. Os filhos dessas estão longe das vistas dos miseráveis, nem com eles se cruzam. Ou então passam perto numa fugaz nuvem de roupas e perfumes caríssimos – em que o que gastam num simples frasquinho matava a fome a muitos dos miseráveis fechados nas suas grandes pobrezas envergonhadas.

A prosa vai longa para o que aqui devia ser abordado e que no Expresso Curto Henrique Monteiro, hoje seu autor, o faz a seu modo e como lhe convém para receber o ordenado e não cair nos milhões de pobres de Portugal. Aliás, a cabeça destes já nem sabem escrever sobre a fome, a miséria, a pobreza envergonhada dos famintos de quase tudo que vagabundeiam por Portugal inteiro, pelo mundo. Eles já não sabem escrever sobre isso ou nem nunca souberam. “Pensar nisso faz-me dores de cabeca”, dizem uns quantos. Ou, “sempre houve pobres e ricos desde que o mundo é mundo”. Pois. E também sempre houve filhos de megeras desde que o mundo é mundo. Mas isso agora aqui não interessa nada. O que interessa é ler nas linhas e entrelinhas o Expresso Curto.

Apesar de tudo… bom fim-de-semana. Coisa que para milhões de nós já não tem significado. Força. Um dia tudo será melhor e diferente. Vamos nessa, lutando quotidianamente.

Redação PG / MM

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Henrique Monteiro – Expresso

Já há Governo legítimo, com chefe, primeiro-ministro, BFFs e tudo

Pronto! Já há Governo com o primeiro-ministro António Costa e com todos os ff e rr, ou seja com plena legitimidade, como reconheceu Manuela Ferreira Leite, ou, ainda, e segundo a terminologia de Paulo Portas, com BFF (Best Friends Forever – Melhores amigos para sempre – o PS, o BE e o PCP). A moção de rejeição apresentada pelo PSD e CDS uniu todos os outros partidos, salvo o deputado do PAN que optou pela abstenção. A partir de agora é governar. Para já, escolha pessoal, os discursos mais conseguidos do ponto de vista do Governo foram de Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa e de Manuel Heitor,ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Foram dos que menos se refugiaram na retórica anti-governo passado, centrando-se mais no que querem fazer. Na Oposição, o melhor foi Pedro Passos Coelho – também provavelmente o menos crispado, aconselhando o PS a, caso necessite do PSD, devolver a palavra ao povo, como escreve Ângela Silva.

Se quiser ficar com a ideia do que se passou, leia Filipe Santos Costa, que viu tudo do princípio ao fim, ou veja o balanço mais leveque Marta Gonçalves (com fotografias de Marcos Borga) prepararam. Se quer saber se a direita fez bem ou mal em apresentar a moção de rejeição, leia (a favor) a opinião do diretor Ricardo Costaou deste vosso criado (contra). Se quiser saber o que quer dizer a última mensagem do Governo, pela voz de Augusto Santos Silva, que ondeou entre o consenso e a ameaça, leia o que escreveu Cristina Figueiredo. 

À noite soube-se que a UTAO diz que as metas do défice estão em risco, e que quase não há almofadas (como afirmam hoje vários jornais), que a esquerda exige mais ao PS (nomeadamente que Centeno puxe o caso do Novo Banco para si e não o deixe estar no BdP - ´Público' e´DN´' - e por isso nada nem ninguém pode estar muito tranquilo.

Mas há mais no mundo, vamos a isso.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Eurogrupo, perna da troika, e o BCE, outra perna, ainda não deixaram de ter Portugal sob vigilância. Ele há muito que negociar, sim senhor. Ora leiam aqui no Expresso ou na concorrência, no ‘Observador’, sendo que segunda-feira que vem o dito grupo do Euro vai ouvir Centeno e está - dizem - "curioso"

37500 euros. Se é muito ou pouco, cada um sabe. Mas é a quantia que Narciso Miranda, histórico do PS caído em desgraça e durante anos incontestado presidente da Câmara de Matosinhos, tem de pagar para não ir preso. Abuso de confiança e falsificação de documentossão os crimes por que foi condenado. Como o caso Mas Narciso recorre para a Relação e quer apresentar queixa-crime contra uma testemunha. Como o caso vem de 2009, temos novela para mais uns tempos.

Interrogatórios feitos a arguidos por magistrados passam na televisão? Em Portugal, passam! Foi na CMTV e envolveu o caso dos vistos Gold e o ex-ministro Miguel Macedo. A PGR abriu um inquéritoa este facto tão inédito quanto reprovável

Ainda na frente judicial, o semanário 'Sol' que afirma ir entrar numa nova fase pós-Newshold, noticia que Duarte Lima vai ser julgado em março, no Brasil, pela morte de Rosalina Ribeiro. É outra novela antiga

Duas pessoas foram assassinadas em Assilhó, Albergaria-a-Velha. Foi esta noite, junto a um café e desconhecem-se as causas

Apesar de parecer ter o mundo contra ele, António Tomás Correiavenceu destacado as eleições para a Associação Mutualista do Montepio Geral, dona do banco com o mesmo nome.Fê-lo com 58,7% dos votos. Nas eleições só participaram 13% dos associados, mesmo assim cerca de 57800 pessoas

Referendo na Dinamarca, o não à Europa ganhou. 53 por cento contra 47 disseram que não queriam mais integração, Isto é um problema para a UE? Claro que é! Como se já houvesse poucos. Entretanto a Suécia pondera fechar a ponte que a liga ao vizinho escandinavo

O jornal norte-americano Politico fez uma lista de 28 pessoas - uma por país da União Europeia - que estão a abalar e transformar a Europa. A escolha em Portugal recaíu sobre Catarina Martins.

O BCE fez o que tinha prometido, mas os mercados queriam mais. Resultado: queda das bolsas e aumento dos juros das dívidas. É a vida, como diria António Guterres… Para apimentar o caso, oFinancial Times enganou-se, deu uma notícia falsa e os mercados reagiram logo, De qualquer modo, o fluxo monetário vai estender-se até março de 2017

E o petróleo? Que está abaixo dos 40 dólares. A OPEP faz uma reunião, mas há quem aposte que o tiro (de diminuir a produção para aumentar o preço) lhes pode sair pela culatra. Se lhe interesssar, leia aquele bom trabalho do 'Observador', ou este mais técnico do WSJ

Já Vladimir Putin, com aquele tom que se conhece, diz que a Turquia se arrependerá de ter abatido um caça russo. A Turquiadesmente tê-lo feito, mas o caldo está entornado, sobretudo depois de Putin ter acusado Erdogan, presidente turco, de lucrar com o petróleo do Daesh (Estado Islâmico). Entretanto, à margem de uma reunião da OSCE os ministros dos negócios estrangeiros dos dois países reuniram-se. Mas nada se sabe

O tiroteio de San Bernardino, Califórnia, levado a cabo por um casal e que resultou em 14 mortos (e que há dúvidas sobre ter sido um ato terrorista hipótese logo colocada pelo correspondente do Expresso Ricardo Lourenço e depois corroborada pelo FBI que encontrou inúmeros explosivos na casa dos atacantes), levantou, de novo, a polémica sobre a venda de armas. Nicholas Kristof, editorialista doThe New York Times, deixa aqui um ponto de vista interessante

Oscar Pistorius, o mais célebre atleta sul-africano, vai voltar para a cadeia depois do tribunal de apelo ter revisto a pena e considerar que se tratou de homicídio

Quem conseguir não deve deixar de ler com atenção: tudo sobre a moderna escravatura de homens e mulheres. Um trabalho exemplar do FT

E onde estão as mulheres? No L’Obs, uma diretora do CNRS (centro de pesquisas sociais), Mariette Sineau, analisa porquequase só há homens numa cimeira que reuniu mais de 150 dirigentes internacionais. A cimeira sobre o clima, em Paris COP 21. Segundo a autora, até são as mulheres as primeiras vítimas das alterações climáticas. Há sempre alterações para se fazer e como se vê, na melhor intenção cai a nódoa

Se quiser saber o que pode fazer pelo clima, veja este gráfico interativo do NYT, quando o 'Diário Económico' anuncia um investimento de mil milhões em energia solar em Portugal, para uma produção igual a duas barragens de Alqueva

FRASES

"Vale a pena registar para memória futura que o PS procurou e, mais do que isso, aceitou depender de uma máquina [PCP] que só dura hoje em Portugal e é hoje uma das piores aberrações do séc. XX", Vasco Pulido Valente, hoje no 'Público'

"O Governo mostrou também a força e fragilidade. Protege salários e pensões e esse alívio vai sentir-se, tem impulso para o primeiro ano. Depois, confia na sorte e que a Europa nos esqueça", Francisco Louçã, hoje no 'Público'

“Senhor Presidente, senhor primeiro-ministro não eleito”, Telmo Correia, do CDS, no discurso de encerramento do debate do programa do Governo

“Não varremos para debaixo do tapete as matérias difíceis”, Pedro Soares, do BE, no encerramento do debate, referindo-se às divergências com o PS

“Escolheram um Governo nas costas do povo”, Pedro Passos Coelho, do PSD, no encerramento do debate

“Ainda bem que o botão não funcionou porque assim fica clara a posição do PCP”, Jerónimo de Sousa, do PCP, ao explicar que não tinha conseguido votar eletronicamente contra a moção de rejeição ao Governo

“Temos uma lista de pessoas que não podem passar num aeroporto, mas não as podemos impedir de entrar numa loja e comprar armas”, Barack Obama, presidente do EUA, a propósito do tiroteio de San Bernadino

O QUE EU ANDO A LER

José Manuel Félix Ribeiro é um génio pouco conhecido da nossa geoeconomia e geoestratégia. Tímido e recatado, recusando vedetismos, tem sido ao longo da vida um servidor público exemplar, com lugares de destaque em departamentos de prospetiva e planeamento de vários governos de várias cores políticas. Sensivelmente há um ano publicou “Portugal, a Economia de uma Nação Rebelde”. Agora lançou “EUA versus China – Confronto ou Coexistência – A Globalização e os Desafios do Novo Milénio”. O título parece enorme, mas a história que nos é traçada vem desde o início da globalização que o autor situa em 1979/1980. Paradoxalmente, o livro tem cerca de 200 páginas, porque as décadas de 70, 80 e 90 estão na Internet, acedendo-se às páginas e muitos gráficos respetivos através de um QR Code que se encontra no livro. Félix Ribeiro não só repõe a sua visão geopolítica e geoeconomia histórica desses anos como prospetiva até 2030. Os atores principais são os EUA e a China (pela primeira vez os EUA têm pela frente um competidor também económico, uma vez que a anterior superpotência que lhe disputava o mundo, a URSS, não tinha capacidade económica, mas apenas militar), havendo outros a ter em conta. Desde logo a Índia, a Rússia, a Turquia, a Alemanha. Má notícia para nós: Portugal não vale quase nada neste jogo. E má notícia para a UE, porque a própria União Europeia vale pouco. Má notícia ainda para a conferência de Paris sobre o ambiente: o centro da disputa das potências continuará a ser o Médio Oriente e o petróleo. Boa notícia para os leitores: concordando ou não, ficamos muito mais informados com um livro que nos faz pensar e também nos inquieta.

E por agora é tudo. Logo às 18 horas em ponto tem o Expresso Diário. Amanhã é o dia do Expresso semanal e das escolhas do Editor, no formato digital. Segunda-feira por esta hora volta o Expresso Curto pela mão de Ricardo Costa que, não tocando piano, como o Pedro Candeias ou eu, trabalha com outros teclados a velocidade impressionante.

Bom descanso e bom fim de semana.

Sem comentários:

Mais lidas da semana