segunda-feira, 15 de agosto de 2016

90 ANOS HONRANDO A VIDA!




1 – A melhor maneira da humanidade e de cada um de nós, seres humanos, dignificarmos e honrarmos o Comandante Fidel, é encararmos a vida, o homem e o planeta-azul, conforme seus olhos e sua consciência viram ao longo da epopeia de sua própria vida e ainda agora, na sua última intervenção sobre o seu próprio 90º aniversário!...

Essa legítima preocupação obriga-nos pedagogicamente a cada um, singular e coletivamente, interrogarmo-nos sobre nossos próprios atos e sobre sua densidade, com amor rigoroso e sensibilidade aferida aos imensos desafios e riscos que animam o século XXI, num momento em que a sofreguidão na exploração dos recursos já se encontra para além das possibilidades do próprio planeta.

Por isso deve ser permanente a reflexão e a consciência histórica, mais ainda aqui no continente-berço, pois apesar das conquistas alcançadas, está-se ainda muito longe do desenvolvimento sustentável, da justiça social, do equilíbrio e da harmonia humana, da solidariedade, do internacionalismo e do respeito para com a Mãe Terra, conformes à nossa obrigação de consciência traduzida em atos!

Nessa trilha, por respeito aos povos africanos e a nós próprios, há que ser um pouco como os Comandantes da Revolução Cubana e seus pares da Luta de Libertação em África… há que beber para a causa da humanidade, substantivamente, do pensamento e obra do Comandante Fidel!...

Essa trilha em busca incessante de paz e de vida, é o garante mais valioso da superação que pode conduzir ao próprio renascimento de África, aberta à oportunidade de sua liberdade coletiva!

2 – Logo nos primeiros anos da tomada de poder da Revolução Cubana, África esteve presente no internacionalismo e solidariedade dos jovens e ardentes guerrilheiros que a si se impuseram a missão de combater a opressão, o colonialismo, o “apartheid”, o neocolonialismo e o imperialismo.

Essa vontade gerada a partir de sua própria história, assumiu-a, somos testemunhos vivos e atuantes disso, o povo cubano no seu relacionamento para com os povos de todo o mundo e em particular no seu relacionamento para com os povos africanos, oprimidos e subjugados durante séculos!

A internacional fascista, colonialista, do “apartheid” e de suas sequelas, procurou sempre criar todo o tipo de obstáculos à legítima ânsia de libertar o homem do jugo de séculos que o tolhe e o torna hoje tremendamente vulnerável e marginal às possibilidades éticas globais que se prendem à própria sobrevivência da espécie e a uma exploração mais contida, comedida, aferida, justa e inteligente dos recursos existentes no planeta-azul. 

As ideologias “democratas-cristãs” proporcionadas pelo Le Cercle a favor dos círculos mais retrógrados do continente, estiveram sempre colocadas em defesa do capital e da contra revolução e nutriam as justificações dos serviços de inteligência retrógrados, incluindo (em tom variável) os serviços dos Estados Unidos da América no Centro e na parte Austral do continente africano.

Desde a Argélia em 1961, o internacionalismo e a solidariedade cubana buscou tornar-se parte integrante e ativa na Luta de Libertação do continente contra o colonialismo, o “apartheid” e suas sequelas, num processo que ganhou um redobrado vigor em 1965, em resposta ao neocolonialismo que foi imposto ao Congo, após o assassinato dum Primeiro-Ministro nacionalista e heroico como o foi Patrice Lumumba e ao desterro dos seus seguidores, aqueles que conseguiram escapar à barbárie!

Na altura as colónias portuguesas mantinham-se graças ao sacrifício do povo português e dos povos das próprias colónias, que serviam de “carne para canhão” na continuada opressão dos povos habitantes dos imensos espaços residuais do seu império, valendo-se o poder colonial das disponibilidades da NATO e do poder do império que instrumentalizava os Estados Unidos, em socorro do seu próprio projeto retrógrado à vida, quantas e quantas vezes da forma mais ambígua e perversa, impondo o saque a África!

3 – Os poderes coloniais e os do “apartheid”, beneficiando dessa internacional retrógrada, combinaram articulações inteligentes que abrangeram importantes fulcros de atuação nas capitais das regiões central e austral do continente africano, numa linha que abrangia sobretudo Kinshasa, Lusaka, Luanda, Salisbúria (Harare), Blantyre, Lourenço Marques (Maputo) e Pretória.

Esses fulcros cobertos pelos mais diversos instrumentos de inteligência, entrosavam-se de várias maneiras, recebendo “reforços” a partir da própria Europa, em particular de “destacamentos”provenientes das redes “stay behind” da NATO (como por exemplo a Aginter Press em socorro do colonialismo português), sustentando-se quase sempre dos interesses económicos e financeiros que serviam de guarida, por sua vez intimamente associados aos poderes e estruturas do colonialismo, do “apartheid”, do neocolonialismo e do próprio imperialismo (este sobretudo ávido das imensas riquezas minerais disponíveis e até então à sua inteira mercê)!

Os serviços de inteligência das potências colonizadoras, dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, de Portugal, da Bélgica, da Rodésia e da África do Sul, interligavam-se por via de manipulações, ingerências e influências, a serviços de inteligência formados em socorro dos poderes instalados em países-alvo de neocolonialismo como o Zaíre de Mobutu, ou a Zâmbia de Kenneth Kaunda, ou o Malawi de Hastings Banda, fosse explorando vínculos de relacionamento político-diplomático, fosse integrando o caudal de consórcios existentes, capazes de cobrir seus movimentos, sua dissimulação e sua atuação!

Entre esses consórcios salientam-se os interesses ligados às poderosas casas da aristocracia financeira mundial, como a casa Rockefeller (explorando as minas de cobre e do estanho do Zaíre e da Zâmbia, assim como o Caminho de Ferro de Benguela e o sistema de transportes da Compagnie Maritime Belge), ou a casa Rothchield (explorando por via do clã Oppenheimer à frente da Anglo-American, e da De Beers as minas de diamantes, de ouro e de platina em toda a região)…

Outras associadas agregavam-se a esses poderosos cartéis: a Lonrho tendo à frente Tiny Rowlands, ou os interesses de Champalimaud, dos Abecassis e dos Melos, que tinham à frente um agente da Aginter Press ao nível dum Jorge Jardim!

A tradicional ambiguidade político-diplomática portuguesa post 25 de Novembro de 1975 (e até aos nossos dias), tem origem nessa época e nessas experiências, conforme viria a ocorrer com Ramalho Eanes, com Mário Soares, com Cavaco Silva ou com Durão Barroso, socorrendo-se hoje do escancarar de portas provocado pela globalização formatada aos procedimentos do capitalismo neoliberal.

Em 1965 os interesses portugueses tinham representação em Kinshasa, onde pontificava o diplomata António Monteiro, que tirava partido duma importante comunidade de comerciantes (e traficantes de diamantes capazes de se ligar aos interesses de diamantes do clã de Mobutu, sob custódia dos interesses de Maurice Tempelsman e do nó de inteligência norte-americana e sul-africana do “apartheid”).

Explorando esse êxito, no leste do Congo os interesses neocoloniais desencadearam a Operação Dragão Vermelho que desarticulou a guerrilha dos rebeldes do Mouvement National Congolais, fiéis a Patrice Lumumba na enorme bolsa da província Oriental e dos Kivus, começando por retomar Stanleyville (Kisangani) com a utilização dum regimento de paraquedistas belgas, de unidades da Armée Nationale Congolaise (subordinadas a Mobutu) e de mercenários comandados por Mike Hoare (quase todos sul-africanos ligados ao “apartheid”), com todos os dispositivos cobertos pela inteligência e interesses belgas e norte-americanos.

4 – Empenhada no seu internacionalismo e solidariedade para com os povos africanos, Cuba encetou ligações ao Movimento de Libertação em África que procurava levar por diante a sua Luta, contando para o efeito com as iniciativas do Comandante Che Guevara, da Revolução Cubana e particularmente da implementação de dispositivos da inteligência cubana, nos ambientes progressistas e cosmopolitas de Brazzaville a oeste e próximo do Atlântico (que apoiaria a 2ª coluna do Che no Congo) e Dar es Salam a leste e no Índico (que apoiaria de forma clandestina a 1ª coluna com o próprio Che).

O Comandante Fidel de Castro acabou por ser um dos grandes impulsionadores (com seus pares africanos) duma nova geo estratégia da luta de Libertação na África Central e Austral, que procurou desde logo lançar as primeiras sementes no leste do Congo, para onde partiu o próprio Comandante Che Guevara, numa altura em que todavia as guerrilhas progressistas fiéis a Patrice Lumumba estavam já em desagregação.

Da passagem do Comandante Che Guevara pelo Congo, haveriam de subsistir no Congo e Grandes Lagos tendências progressistas que viriam a atuar com Laurent Kabila, pondo termo mais tarde ao poder de Mobutu…

Os Comandantes dos serviços de inteligência cubana como Manuel Piñero Losada e Ulisses Estrada Lescaille garantiram os esforços em prol das 1ª e 2ª colunas do Che e com isso reforçaram os relacionamentos com os dispositivos da FRELIMO (que atuava tendo como retaguarda a Tanzânia) e do MPLA, que atuava a partir de Brazzaville, sudoeste do Congo (em direção às suas Iª e IIª Regiões) e Lusaka (oeste da Zâmbia), em suporte das suas IIIª e IVª Regiões.

A linha da inteligência cubana que correspondia aos fulcros de Brazzaville e Dar es Salam, interligavam-se a correntes progressistas em cada uma dessas capitais, incluindo sectores de inteligência europeia, contribuindo para procurar ganhar o miolo do continente e estimulando os esforços do MPLA e da FRELIMO, face a face aos dispositivos da internacional fascista!

O MPLA com base no estreitamento dessa aliança, encontrou formas de guerrilha em direção às suas 1ª e 2ª Regiões em 1964 e 1965 (respetivamente Nambuangongo-Dembos e Cabinda) e Frente Leste, IIIª e IVª Regiões (facto consumado em 1966 no Moxico, no Cuando Cubango e em progressão para o Planalto Central).

Os expedientes da abertura da Frente Leste do MPLA, com entidades como Aníbal de Melo, Ciel da Conceição, Daniel Chipenda e outros, obedeceram a autênticas operações de inteligência que tiveram de enfrentar o ambiente hostil de Lusaka!

O MPLA possuía na Tanzânia e no fulcro de Dar es Salam apoios de inteligência que lhe permitiam chegar a esse ambiente hostil de Lusaka (onde as disputas com os sistemas de inteligência retrógrados eram desfavoráveis ou muito melindrosos, devido às vulnerabilidades de Keneth Kaunda e os seus “bons ofícios” para com os interesses económicos e financeiros ocidentais em toda a região).

A internacional fascista impediu a estabilização do apoio do Comandante Che Guevara aos rebeldes do Congo, onde terá chegado tarde… e montou arraiais de inteligência em Lusaka, como em Kinshasa e Blantyre, a ponto de em 1973, precisamente na altura da chegada a Lusaka de Jorge Jardim para encontros com Kenneth Kaunda (recorde-se, ligado à Lonrho e aos interesses de Champalimaud), conseguirem manipular a revolta do leste e com ela Daniel Chipenda e Holden Roberto.

5 – Apesar da evolução dos choques de inteligência e sócio-políticos que ocorreram no Congo e à volta do Congo Brazzaville, Lusaka e Dar es Salam, o Comandante Fidel de Castro deu continuidade às ligações da Revolução Cubana à Luta Armada sobretudo do PAIGC na Guiné Bissau e do MPLA em Angola, mesmo com a saída do Comandante Che Guevara do teatro de operações.

Com o MPLA essas relações haveriam de se tornar geo estratégicas nas imensas regiões Central e Austral do continente africano, pois com o fim do colonialismo, “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul”, conforme Agostinho Neto, “estava a continuação da luta” dos angolanos e de todos os progressistas unidos para derrotar o “apartheid” e suas sequelas.

Os esforços dos países da Linha da Frente contra o “apartheid” contaram também com o que nasceu a partir das sementes de inteligência que o Comandante Che Guevara havia trazido em seu apoio para Brazzaville e Dar es Salam, que fragilizariam os dispositivos da internacional fascista em Lusaka com o fim do colonialismo português e apesar do 25 de Novembro de 1975 em Portugal.

A tenacidade dos povos africanos em luta integrando as fileiras do Movimento de Libertação em África e da Revolução Cubana sob a direção do Comandante Fidel, alteraram profundamente o panorama sócio-político de África, inclusive no que aos Direitos Humanos dizia e diz respeito.

Efetivamente só com o fim do colonialismo, do “apartheid” e de algumas das suas sequelas, os povos africanos conseguiriam alcançar a paz e transferir seus abnegados esforços da Luta Armada para a Luta contra o subdesenvolvimento a que ainda estão votados.

A Operação Carlota que o Comandante Fidel comandou, foi decisiva para o reforço do MPLA no sentido da independência com a proclamação da República Popular de Angola e pode hoje ter continuidade com o empenho do apoio cubano na educação e na saúde, visando vencer os imensos obstáculos e dificuldades que estão ainda bem patentes na sociedade angolana no rescaldo de séculos de trevas.

Graças à geo estratégia a muito longo prazo que o Comandante Fidel e seus seguidores dão sequência, em estreita ligação com o rumo dos que, sob a direção do Presidente José Eduardo dos Santos, dão corpo ao MPLA, as oportunidades em benefício do povo angolano e dos povos africanos estão aí, apesar do choque e da terapia neoliberal!

Os 90 anos do Comandante Fidel, para aqueles que integraram e integram as fileiras do Movimento de Libertação em África, honram a vida e continuarão a honrá-la mesmo que um dia ocorra o desaparecimento físico do Comandante e de todos aqueles que, perante tantas dificuldades e desafios, de sua própria vida inexoravelmente se vão libertando!

Quanto se deve nessa trilha, desde os caboucos das geo estratégias, aos esforços ignotos mas por vezes tão decisivos, dos “homens da cor do silêncio”!? 

- Fotografias expostas na exposição alusiva ao 90º aniversário do Comandante Fidel, no Mausoléu de Agostinho Neto em Luanda (12 de Agosto de 2016).

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