@Verdade | Editorial
A onda de terror na província de
Cabo Delgado, norte de Moçambique, cresce de forma assustadora. Nas últimas
semanas, sete pessoas foram assassinadas na aldeia de Naunde, no distrito de
Macomia, outros dez cidadãos foram decapitados no passado dia 27. Os crimes são
perpetrados com armas brancas, do tipo catana.
O grupo supostamente constituído
por jovens, para além de destruir residências, assaltou estabelecimentos
comerciais, uma mesquita e uma unidade sanitária, onde se apoderaram de
diversos medicamentos. Apelidado pelos locais de Al Shabaab, este movimento de
jovens aparentemente sem rosto tem vindo a intensificar as suas incursões
colocando à prova a Polícia moçambicana e as Forças de Defesa e Segurança, que
parecem desnorteados. Devido a essa situação, centenas de pessoas já começam a
abandonar as suas habitações.
As investidas de movimento de
jovens em Cabo Delgado são entendidas no norte de Moçambique como uma
retaliação às desigualdades económicas e as gritantes assimetrias regionais em
Moçambique. Os jovens assistem, todos os dias, a grandes investimentos ou
empreendimentos tomando forma naquela parcela do país e, na mesma velocidade,
veem a sua condição de vida definhar.
Sem emprego e oportunidades de
formação, os jovens vivem sem nenhuma perspectiva e, muitas vezes, na incerteza
do que há-de comer no dia seguinte. Grande parte dos moradores das zonas onde
estejam a ser exploradores algum tipo de recurso acredita que lhe está a ser
roubado os seus recursos e a oportunidade de trabalho. Há um pensamento segundo
a qual há um grupo de pessoas que estão a viver à custa do seu sofrimento.
O sentimento de exclusão,
sobretudo nas questões ligadas ao desenvolvimento económico, e abandono pelo
Estado moçambicano tem estado a ganhar corpo de forma assustadora na província
de Cabo Delgado. Aliás, nas regiões onde se tem registado os ataques à cidadãos
inocentes falta quase tudo, desde escolas condignas, hospitais até ao acesso à
água potável.
Obviamente, nada justifica a
violência e o terror, mas cada vez que a Polícia moçambicana vem a público
afirmar que está a controlar a situação, o grupo procurar provar o contrário,
ou seja, parece mais forte e sem nada a perder.
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