segunda-feira, 11 de junho de 2018

Moçambique | O perigo da exclusão social


@Verdade | Editorial

A onda de terror na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, cresce de forma assustadora. Nas últimas semanas, sete pessoas foram assassinadas na aldeia de Naunde, no distrito de Macomia, outros dez cidadãos foram decapitados no passado dia 27. Os crimes são perpetrados com armas brancas, do tipo catana.

O grupo supostamente constituído por jovens, para além de destruir residências, assaltou estabelecimentos comerciais, uma mesquita e uma unidade sanitária, onde se apoderaram de diversos medicamentos. Apelidado pelos locais de Al Shabaab, este movimento de jovens aparentemente sem rosto tem vindo a intensificar as suas incursões colocando à prova a Polícia moçambicana e as Forças de Defesa e Segurança, que parecem desnorteados. Devido a essa situação, centenas de pessoas já começam a abandonar as suas habitações.

As investidas de movimento de jovens em Cabo Delgado são entendidas no norte de Moçambique como uma retaliação às desigualdades económicas e as gritantes assimetrias regionais em Moçambique. Os jovens assistem, todos os dias, a grandes investimentos ou empreendimentos tomando forma naquela parcela do país e, na mesma velocidade, veem a sua condição de vida definhar.

Sem emprego e oportunidades de formação, os jovens vivem sem nenhuma perspectiva e, muitas vezes, na incerteza do que há-de comer no dia seguinte. Grande parte dos moradores das zonas onde estejam a ser exploradores algum tipo de recurso acredita que lhe está a ser roubado os seus recursos e a oportunidade de trabalho. Há um pensamento segundo a qual há um grupo de pessoas que estão a viver à custa do seu sofrimento.

O sentimento de exclusão, sobretudo nas questões ligadas ao desenvolvimento económico, e abandono pelo Estado moçambicano tem estado a ganhar corpo de forma assustadora na província de Cabo Delgado. Aliás, nas regiões onde se tem registado os ataques à cidadãos inocentes falta quase tudo, desde escolas condignas, hospitais até ao acesso à água potável.

Obviamente, nada justifica a violência e o terror, mas cada vez que a Polícia moçambicana vem a público afirmar que está a controlar a situação, o grupo procurar provar o contrário, ou seja, parece mais forte e sem nada a perder.

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