@Verdade | Editorial
É grave a forma como tem vindo a
decorrer o processo com vista à paz efectiva de Moçambique, após as
hostilidades entre as Forças de Defesa e Segurança e os homens armados da
Renamo. O referido processo, diga-se em abono da verdade, prossegue em silêncio
e em segredo.
Esporadicamente e de forma lacónica, os moçambicanos são
dados a conhecer apenas parte do consenso alcançado.
Esta semana, Governo e a Renamo
formaram quatro comissões de trabalho compostas por 22 elementos, sendo 11 para
cada lado, nomeadamente para Assuntos Militares, Grupo Técnico Conjunto para
Enquadramento Representantes do Governo, Grupo Técnico Conjunto para
Desarmamento, Desmobilização e Reintegração Representantes do Governo e Equipa
de Monitoria e Verificação Representantes do Governo. As já criadas comissões
têm como objectivo a prossecução e a materialização do dossier sobre o
desarmamento da Renamo e a desmobilização e reintegração dos seus homens
armados, bem como a inclusão dos seus oficiais no Exército e na Polícia.
Não obstante se tratar de uma
decisão importante para o país, tendo em conta que a mesma surge no âmbito dos
consensos que têm sido alcançados pelas partes, com vista à paz afectiva, a
mesma abre precedentes para que se volte a as situações num passado recente.
Para evitar que isso volte acontecer, é importante que o processo seja
transparente de modo os moçambicanos saibam o que está por detrás de todos os
acordos assinados e promoções de oficiais vindo da Renamo.
Um dos aspectos que tornaria o
processo transparente é sem dúvidas o envolvimento de outras forças vivas da
sociedade moçambicana. O que não se percebe é o porquê de outros partidos
políticos não terem sido convidados para fazer parte do processo que decide o
futuro dos moçambicanos. Nem a sociedade civil e tampouco as organizações da
sociedade civil foram envolvidos. O mais intrigante é que o Governo e Renamo
criaram também um Grupo Internacional de Contacto, constituídos por
embaixadores de alguns países.
Essa é uma situação inaceitável,
porque o envolvimento da sociedade civil e outros partidos no processo é o
mínimo que se esperava, sobretudo de um Governo que sempre andou a cantar a
necessidade de se resolver os problemas internos entre os moçambicanos. Se pretende-se
criar um país inclusivo e não se volte a assistir a hostilidades, é necessário
que os outros actores estejam envolvidos nesse processo que hoje é visto como
excludente.
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