Bloco nacionalista de direita e
sua política de ocupação são os grandes vencedores deste pleito. Para os
palestinos, o resultado é trágico, afirma o analista Rainer Sollich.
Ao que tudo indica, o futuro
chefe de governo de Israel vai se chamar, de novo, Benjamin Netanyahu. A margem
é estreita, mas uma maioria de israelenses se decidiu a favor da coalizão de
forças nacionalistas e ultraconservadoras favorecida por ele.
"Bibi" foi ajudado
sobretudo pelos presentes de campanha dados a ele pelo presidente dos EUA,
Donald Trump: a transferência da embaixada americana para Jerusalém, a
"capital indivisível" de Israel, e o reconhecimento das Colinas de
Golã, anexadas em 1981, como território de Israel, apesar de elas pertencerem à
Síria, segundo o direito internacional.
O próximo passo de Netanyahu
poderá ser anexar os territórios ocupados por Israel na Cisjordânia, se
Trump assim o permitir. Netanyahu já anunciou que quer dar esse passo. Em Israel,
ele não precisa temer grande resistência, pois as urnas mostraram de forma
clara que, diante das ameaças sérias existentes na região – vindas
principalmente do Irão e da Faixa de Gaza –, os cidadãos de Israel optam por
segurança, e não por negociações ou diálogo. As poucas forças que ainda
acreditam num acordo justo com os palestinos não desempenham mais nenhum papel
na política de Israel.
O bloco nacionalista de direita
pode se considerar vencedor mesmo se Netanyahu, nas próximas semanas, levar uma
rasteira política do inquérito anticorrupção do qual é alvo. Pode ser que
ele já esteja mesmo na lona, como alguns analistas afirmam, mas uma coisa é
certa: nem o maior rival de Neyanyahu nesta eleição, o ex-chefe do Estado Maior
Benny Gantz, nem outros políticos de ponta de Israel poderiam adotar um rumo
totalmente diferente em relação aos palestinos ou vizinhos árabes ou até mesmo
ousar devolver os presentes de campanha de Trump. Não há maioria para isso em
Israel.
Mesmo assim, a democracia
israelense é uma das grandes vencedoras desta eleição. Por mais assustadoras
que sejam a fragmentação político-partidária e os inúmeros conflitos internos
da sociedade israelense que essa fragmentação reflete, é dever constatar que
Israel é – talvez com exceção da Tunísia – a única democracia na região cujos
resultados eleitorais não estão sob suspeita.
Se Netanyahu vier a ser chefe de
governo pela quinta vez, ele ocupará o cargo por uma vez a mais do que o até
pouco tempo atrás eterno todo-poderoso da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, que
renunciou após forte pressão. Mas, ao contrário dos países vizinhos, em Israel
foi mesmo o povo que assim decidiu.
Mas esta eleição tem também
grandes perdedores, em especial os palestinos e os árabes que vivem em Israel,
dos quais muitos também se vêem como palestinos. Para ambos, o resultado é
trágico.
Os árabes que vivem em Israel têm
direito irrestrito de voto, mas praticamente não fizeram uso dele desta vez
porque uma lei defendida por Netanyahu os rebaixou a cidadãos de segunda categoria,
na condição de minoria não judia. A lei é e continuará sendo um escândalo, mas
é pouco provável que ela seja revogada ou pelo menos abrandada num curto espaço
de tempo – muito menos se o premiê for Netanyahu.
Os palestinos que vivem na Faixa
de Gaza e na Cisjordânia são perdedores ainda maiores. Trump anunciara que,
logo depois da eleição em Israel, iria expor seus planos para uma ampla
paz no Oriente Médio. Resta esperar para ver como eles serão e quais concessões
serão exigidas de Israel, mas uma coisa já se sabe: os palestinos só terão a
opção de pegar o que lhes for oferecido. Ao contrário dos israelenses, eles
praticamente não podem decidir sobre o próprio destino, e não há muito apoio a
ser esperado dos países árabes vizinhos.
Por décadas, esses regimes usaram
a questão palestina como carta populista para legitimar o próprio domínio
com uma "irmandade" pan-árabe ou pan-islâmica. É o que a Turquia e o
Irã fazem até hoje. Na verdade, porém, o destino dos palestinos pouco interessa
à maioria dos regimes árabes e muito menos à potência regional Arábia Saudita.
Esta tem um novo inimigo, que é o mesmo de Netanyahu: o Irão.
Rainer Sollich (as) | Deutsche
Welle | opinião
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