Jovens de quatro províncias de
Angola, incluindo Luanda, marcharam contra o desemprego no país. Na capital, a
manifestação foi marcada por críticas ao Presidente João Lourenço e pela
repressão policial.
Centenas de jovens manifestaram-se
este sábado (24.08) em Angola, nas províncias de Luanda, Bengo, Kwanza Norte e
Uíge, contra o que chamam de incumprimento na criação de 500 mil postos de
trabalho prometidos pelo Presidente João Lourenço durante a campanha eleitoral
de 2017.
A marcha dos manifestantes da
capital angolana, que pretendiam chegar ao palácio presidencial, foi
interrompida pela Polícia Nacional logo à entrada da Cidade Alta.
O largo Sagrada Família foi o
local escolhido como ponto de partida dos manifestantes. O objetivo era único:
exigir os 500 mil empregos prometidos pelo Presidente João Lourenço durante a
campanha eleitoral das eleições gerais de 2017, vencidas pelo seu partido, o
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
No chão havia cartazes com
dizeres como "Já sou formado, quero emprego", "Desemprego
marginaliza" e "Estou cansado de jogar 'Não Te Irrites'", este
último a citar um tradicional jogo de Luanda disputado com dois dados que rolam
sobre um pano com números e casas dos jogadores. A brincadeira é praticada
maioritariamente por jovens desempregados, sobretudo nas zonas periféricas da
capital angolana.
"O Presidente da República
disse durante a campanha eleitoral que ia criar 500 mil postos de trabalho, mas
eu não estou a ver isso. Eu estou desempregado há dois anos", disse à DW
África Elson Germano, um dos manifestantes.
Marchas pelo país
Foram quatro províncias que
marcharam contra o desemprego: Luanda, Bengo, Kuanza Norte e Uíge. Os protestos
da capital angolana, que foram marcados inicialmente pelo desentendimento entre
organizadores e agentes da polícia presentes no local para garantir a ordem e
tranquilidade públicas, começaram por volta das 12h locais.
"A carta endereçada às
autoridades tem como destino a Presidência da República. Vamos ficar a 100 metros [do Palácio
presidencial], como recomenda a lei. Mas a polícia não quer assim",
desabafou um dos organizadores. No entanto, a polícia queria apenas que a
marcha terminasse no Largo da Maianga, a cerca de 300 metros do palácio
presidencial, alegando questão de segurança.
Durante a marcha, dezenas de
jovens entoavam habituais cânticos como "João Lourenço me mandou esperar,
até agora não me deu emprego" e "Mostra o marimbondo, está ali, está
ali", indicando os edifícios da UNITEL, uma das telefonias móveis
angolanas que tem como acionista a empresária Isabel dos Santos, filha do
ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
"Estamos aqui para marchar
porque o emprego está cada vez mais difícil. A questão do emprego ainda
continua a ser a base de compadrio, 'familiarismo' e não por competência. Mesmo
depois de formado não há emprego", disse à DW África, Francisco Teixeira,
presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA).
Ação policial
A polícia garantiu a segurança
desde o local de concentração até à baixa de Luanda. O cordão de segurança
começou a ser reforçado no Largo da Maianga, a poucos metros da cidade
presidencial. "Violência não... Polícia é do povo, não é do MPLA",
gritavam os manifestantes que romperam a primeira barreira imposta pela
corporação.
À entrada da Cidade Alta foram
soltos cães e aumentado o número de efetivos para impedir que os manifestantes
chegassem à zona presidencial. Por alguns minutos houve desentendimento e
confrontos entre manifestantes e a polícia. Um dos participantes ficou ligeiramente
ferido.
"No primeiro cordão,
espancaram; no segundo cordão também espancaram as pessoas e neste momento
estamos a ser impedidos de chegar até ao local", disse Sérgio Geraldo
Dala, porta-voz da marcha. "A polícia começou a intimidar-nos a partir do
local de concentração e nós resistimos até aqui. A nossa manifestação é
pacífica", acrescentou.
A Polícia Nacional negou-se a
prestar qualquer declaração à imprensa. Durante algumas horas as principias
vias da baixa de Luanda ficaram bloqueadas.
Lourenço vai ao Japão
A macha ocorre numa altura em que
o Presidente angolano, João Lourenço, prepara-se para viajar este domingo
(25.08) para o Japão, onde vai participar na 7ª Conferência Internacional de
Tóquio Sobre o Desenvolvimento de África (TICAD7), a decorrer de 28 a 30, em Yokohama.
Segundo uma nota de imprensa da
Casa Civil do Presidente da República, na quinta-feira (22.08), o Chefe de
Estado angolano tem previsto um encontro, à margem do evento, com o
primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, no âmbito da diplomacia angolana.
Nos últimos tempos, o presidente
João Lourenço tem estado a receber elogios da comunidade internacional, bem
como o Banco Mundial e os Estados Unidos da América, pelas reformas que está a
efetuar ao nível do Estado.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
Imagem: Polícia tenta conter
manifestação que pretendia chegar à Cidade Alta, em Luanda
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