As eleições estão quase a chegar
e uma das questões mais importantes é se será possível manter a paz e a
estabilidade em Moçambique. As ONGs consideram que o país atravessa um período
positivo, mas há vários desafios.
O Dia Mundial da Paz celebra-se
este sábado, 21 de setembro, em todo o mundo. Em Moçambique, este dia tem um
peso maior, pois assinou-se um acordo de paz recentemente. A visita do Papa
este mês veio reforçar esse espírito.
Um novo ciclo político e
económico aproxima-se com as eleições do próximo dia 15 de outubro. A paz e a
estabilidade são necessárias para o futuro do país. Há várias organizações que
estão no terreno e tentam ajudar as populações mais necessitadas, além de
acompanhar de perto a realidade fora da capital. Este acompanhamento é crucial
para ter noção quais as necessidades mais prementes e se a paz é algo que está
em causa.
Dom João Carlos Nunes, presidente
da Comissão de Comunicação da Conferência Episcopal, faz parte de uma entidade
que sabe quais as prioridades para manter a paz, mas reconhece os desafios que
isso representa.
"O momento atual de
Moçambique é bastante desafiador, porque apresenta várias nuances e exige uma
atenção redobrada e muito específica. Estamos a caminhar bem, mas é preciso
sempre acarinhar aquilo que de bom está a acontecer, vincar esses aspetos
positivos e dar propostas para superar aquilo que eventualmente possa minar o
processo todo", afirmou.
A Fundação para o Desenvolvimento
da Comunidade (FDC) também trabalha para promover a paz e a solidariedade.
Joaquim Oliveira, diretor de advocacia desta organização, considera que estão
criadas as bases para uma nova fase e que as eleições são o ponto de partida.
"Eu penso que as condições
estão criadas para haver mais estabilidade. Ainda há problemas de nível
estrutural que têm de ser considerados, nomeadamente, o resultado, a forma como
as eleições vão ser conduzidas até agora e depois divulgadas, portanto a
transparência. A justeza das eleições e a sua transparência serão
determinantes", comentou Oliveira.
O desafio da RENAMO
O acordo de paz assinado entre a
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o atual Governo da Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi um passo fundamental para garantir a
paz, contudo nem tudo depende do Governo central.
A força da RENAMO em Moçambique
ainda tem um peso determinante na estabilidade moçambicana, como afirma Joaquim
Oliveira. "Os consensos dentro da RENAMO serão determinantes para uma
maior estabilidade", sublinha.
A autoproclamada "Juntar Militar" da RENAMO procura também um processo de reintegração e isso pode ser fundamental para trazer maior estabilidade, como explica Dom João Carlos Nunes.
"Os homens continuam lá e
apresentaram as suas revindicações a aquilo que eles não concordam, mas ainda
não apareceu uma proposta em relação a eles e como vai ser integração",
disse o porta-voz da Conferência Episcopal.
Mensagem do Papa
Um dos momentos mais marcantes em
Moçambique nestes últimos meses foi a visita do Papa Francisco que esteve no
país nos dias 4, 5 e 6 de setembro. A mensagem de paz foi reforçada e Dom João
Carlos Nunes salientou a forma positiva como o Papa falou aos moçambicanos.
"Eu penso que surpreendeu
pela positiva, porque o Papa veio vincar o aspecto de povo que somos, nação que
se está a reconstruir, que está a buscar caminhos de paz e reconciliação",
realçou Dom João Carlos Nunes.
O momento de quase pré-campanha
levantou algumas dúvidas em relação ao se o momento da visita do Papa era o
ideal, mas Joaquim Oliveira, da FDC, também destacou as palavras do Santo
Padre.
"Foi muito benéfica. Muito
mais benéfica ainda não só pela mensagem daquelas três palavras que encerram
uma magia para a solução aos problemas que Moçambique tem. Paz, esperança e
reconciliação: Essa é uma mensagem muito simples, mas muito significativa. E
não podia chegar num momento melhor, na altura da assinatura do terceiro acordo
de paz e num momento em que estamos a começar as eleições", sublinhou
Joaquim Oliveira.
Todo o processo de paz é mais
complexo do que muitas notícias deixam transparecer, mas Joaquim Oliveira
comenta que um dos caminhos para alcançar esta estabilidade é descentralizar
este processo para que a paz chegue a todos os moçambicanos.
"Eu penso que é necessário
em primeiro lugar descentralizar os processos de paz e reconciliação e não
centralizar. Não colocar ao nível dos dois principais contendores. Eu penso que
é preciso descentralizar, é preciso criar maior apropriação com os próprios
moçambicanos independentemente das suas cores políticas para abraçarem e
sentirem-se donos dos processos. É preciso também alargar a base de inclusão,
não se cingir apenas naquelas comissões, que são formadas essencialmente por
membros que representam dois partidos políticos", sugeriu Oliveira.
Rodrigo Vaz Pinto | Deutsche Welle
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