Manuel Carvalho da Silva
| Jornal de Notícias | opinião
Após uma campanha que começou
serena e depois azedou um pouco com as habituais dramatizações - desta vez foi
o processo de Tancos - e com as teatralizações encenadas em ruas, feiras e
vielas, convém, no momento de decidir o voto, abstrair dos incidentes e pensar
no que realmente importa.
Pensemos em dois objetivos
cruciais que os portugueses precisam de tomar em mãos: (i) alterar
qualitativamente o perfil da economia; (ii) melhorar a matriz de
desenvolvimento da sociedade e do país.
Poderá dizer-se que estes
objetivos mexem com a política toda e é verdade, mas há prioridades e áreas
estruturantes.
É decisivo para o nosso futuro
próximo saber se a retribuição e os direitos no trabalho vão recuperar, nem que
seja de forma faseada. É que, vem-se consolidando uma injusta distribuição da
riqueza em desfavor dos trabalhadores quando é imperiosa a subida geral dos
salários. Acresce que, a parte relativa dos lucros que vai para investimento, é
cada vez menor.
O que vai ser feito para que o
investimento regresse forte, venha estimulado pelo rendimento do trabalho e
seja aplicado onde faz mais falta e mais valor possa criar?
O país precisa de políticas que
estanquem a sangria da emigração dos jovens e trabalhadores qualificados. E
temos de conseguir criar economia em territórios onde é preciso fixar e atrair
população jovem. E que políticas de emprego vão ser implementadas para que o
novo emprego seja, de facto, menos precário?
Vai mesmo apostar-se na
valorização do trabalho e da produção, puxando por setores que influenciem
positivamente o perfil da economia, promovendo a formação e procedendo a uma
real modernização e reforço das capacidades do Estado?
Serão adotadas medidas de
controlo e de regulação sobre o poder desmedido de grandes grupos económicos e
financeiros que usufruem de rendas excessivas, pagam apenas parte dos impostos
que deviam pagar e espremem milhares de pequenas e médias empresas?
Importa saber se vamos cuidar dos
territórios de forma a impedir o avanço dos desertos, que não são só o abandono
e o esgotamento produtivo da terra, mas também o total desaparecimento de
populações. Precisamos de aprender coletivamente a produzir mais e melhor e a
consumir sem delapidar os recursos que temos por natureza e por conquista, e
deitar mão de recursos novos em áreas como a ciência e a tecnologia.
Procuremos perceber se vão ser
garantidas a saúde, a educação e a justiça, em condições de qualidade e
igualdade de acesso, e assegurada valorização e qualificação aos seus
trabalhadores, pois o nosso desenvolvimento depende muito destas políticas.
Necessitamos saber se vamos ter
um Governo que leve ao limite as negociações com a União Europeia, pois não são
raras as vezes que as suas políticas e procedimentos chocam com os interesses
dos portugueses.
Enunciados os problemas e lidos
os programas dos partidos, até parece ser fácil obter acordos amplos na
sociedade, para uma boa governação.
O problema é que, escondidos nas
entrelinhas ou nas omissões desses programas e de outros documentos, há
interesses poderosos, nem sempre com o rabo de fora, que remam contra a maré.
É aí, a ler entre linhas e
silêncios, que o eleitor tem de ser perspicaz. VOTE!
*Investigador e professor
universitário
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