Pequim, 26 nov 2019 (Lusa) - A
ampla vitória dos candidatos da oposição nas eleições do conselho distrital de
Hong Kong foi hoje ignorada pela imprensa chinesa, com apenas as edições em
inglês a referirem uma votação "distorcida" a favor do campo
pró-democracia.
A imprensa controlada pelo regime
chinês, que no fim de semana apelou aos cidadãos de Hong Kong que fossem às
urnas "dizer não à violência" com o voto nos candidatos pró-Pequim,
absteve-se hoje de publicar os resultados eleitorais.
Na segunda-feira à noite, o
jornal da noite na televisão estatal CCTV absteve-se de falar sobre as eleições
em Hong Kong, enquanto o jornal oficial do Partido Comunista, o Diário do Povo,
observou que as manifestações que assolam o território "perturbaram
seriamente o processo eleitoral", mas também sem detalhar os resultados.
A imprensa oficial de Pequim em
inglês, que é voltada para leitores estrangeiros, preferiu desvalorizar o
resultado.
Num editorial, o jornal oficial
China Daily considerou que as eleições foram "distorcidas por manobras
intimidadoras" e "golpes".
No seu serviço em inglês, a
agência noticiosa China News Agency afirmou que a eleição para os conselheiros distritais
foi "sabotada" por "manifestantes".
"A campanha de alguns
candidatos patriotas foi gravemente interrompida", garantiu a agência.
"Um candidato foi ferido durante um ataque e o assédio aos candidatos
patriotas continuou no dia da eleição", acusou.
O jornal Global Times reconheceu
que o resultado da pesquisa vai incentivar à "reflexão", mas que não
é necessário "interpretar demais a vitória" do campo pró-democracia.
O jornal observou que, segundo o
método de votação, este venceu "80% dos assentos com apenas 60% dos
votos".
Os partidos pró-democracia
venceram pelo menos 388 dos 452 assentos, depois de não terem conseguido um
único conselho nas últimas eleições locais, realizadas há quatro anos, enquanto
os candidatos pró-Pequim caíram para 59.
Cerca de três milhões de pessoas
votaram, quase o dobro do que em 2015, representando mais de 70% dos eleitores
registados.
Os resultados destas eleições são
um indicador do amplo apoio aos protestos antigovernamentais que há seis meses
atingem Hong Kong, apesar dos contornos cada vez mais violentos, com frequentes
atos de vandalismo e confrontos com a polícia.
As manifestações iniciaram-se
devido a um projeto de lei que permitiria extraditar criminosos para países sem
acordos prévios, como é o caso da China continental. Apesar de, entretanto,
retirado, o projeto de lei deu origem a um movimento que exige reformas
democráticas e se opõe à crescente interferência de Pequim no território.
À semelhança de Macau, para a
antiga colónia britânica foi acordado um período de 50 anos após a transferência
da soberania para a China, mantendo um elevado grau de autonomia, a nível
executivo, legislativo e judicial, de acordo com a fórmula 'um país, dois
sistemas'.
JPI // MIM
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