Pedro Ivo Carvalho
| Jornal de Notícias | opinião
Não há um português sério que não
esteja comprometido com o Governo, o de turno ou outro qualquer, no objetivo de
melhorar os serviços públicos de saúde.
Mitigar as falhas na resposta do
Estado a uma cada vez mais exigente e envelhecida população constitui
porventura o maior desafio da ação política e legislativa contemporânea, não só
porque todos os dias descobrimos um novo fundo sombrio do problema, mas porque
se trata de uma área de vida ou de morte que envolve sofrimento.
Acresce que é na saúde que mais
facilmente se desvirtua o princípio de que somos todos iguais aos olhos da
Constituição, mas uns acabam por ser mais iguais do que outros. No caso, os que
têm seguro de saúde ou ADSE. Não é aceitável que um doente cardíaco da Guarda
tenha de esperar cinco anos por uma primeira consulta.
Não é compreensível que uma
população de meio milhão de pessoas da margem sul do Tejo fique privada de uma
urgência pediátrica noturna durante pelo menos seis meses. Não é admissível que
o tempo máximo de espera para cirurgias oncológicas continue a derrapar. E não
se entende que um doente prioritário de Ortopedia em Faro tenha de aguardar
quase quatro anos por uma consulta.
É certo que a sangria dos últimos
anos no Serviço Nacional de Saúde (por via dos cortes ou das cativações) não se
estanca por magia ou por decreto, mas o nível de impotência na reação que temos
presenciado chega a ser assustador, obrigando, por isso, a um plano de ação
coletivo, sem picardias políticas estéreis, vícios corporativistas ou cegueiras
ideológicas.
Governo, partidos, profissionais
de saúde, setor social e gestores (públicos e privados) têm de trabalhar em
conjunto para salvar o que ainda é possível salvar a médio e longo prazos. Vai
demorar muitos anos a reparar o mal feito, mas não podemos compactuar com a
ideia (e o risco) de termos um Serviço Nacional de Saúde só para desvalidos.
Feito o diagnóstico, a dúvida
mantém-se: de quanto dinheiro vamos precisar (e, sobretudo, de quanto vamos
querer dispor) para tirar das urgências os cuidados médicos públicos prestados
aos cidadãos? Ou vamos acreditar no mito de que o dinheiro não traz saúde?
*Diretor-adjunto
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