sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Portugal | Um racista militante pode ser inteligente?


Pedro Tadeu | TSF | opinião

Um racista militante é, simplesmente, um estúpido ignorante.

Infelizmente há muitas pessoas racistas, cultas, e há outras pessoas racistas menos cultivadas.

Os racistas cultos acham o racismo razoável, dentro de alguns limites que defendem ser racionais: não querem fazer mal a ninguém mas preferem não conviver com pessoas de outras raças, querem mandá-las para a "terra delas", mesmo quando essas pessoas nasceram na mesma pátria que eles.

Os racistas menos cultos nem percebem como são racistas, dizem que até têm amigos de outras raças, mas acham que essas pessoas são diferentes delas e apontam-lhes alguns defeitos através de generalizações patetas: ou porque são mais preguiçosas, ou porque são lentas, ou porque falam alto nos transportes públicos, ou porque andam a roubar, ou porque não trabalham ou porque lhes ficam com os empregos ou por outra coisa qualquer que os incomoda.

Mas, seja por vergonha, seja por receio da pressão do resto da sociedade, seja por terem medo de serem condenados por um crime, normalmente os racistas portugueses, sejam os mais cultos, sejam os menos cultivados, evitam, com vergonha, praticar o seu racismo.

Um racista militante joga em outro campeonato.

Um racista militante é estúpido e não quer saber das consequências do seu racismo. Por isso, grita-o com toda a força, com todo o ar que esteja guardado nos seus pulmões.

Um racista militante não pensa, não ouve, não lê, não elabora sobre o seu racismo - apenas quer vomitar a sua ira a outras raças.

Um racista militante é um borjeço, um animal que não controla o impulso de querer bater, mutilar e mesmo matar as pessoas de outras raças.

Um racista militante é como um boi de uma manada que investe furiosa, descontrolada, contra todos os obstáculos que tentam impedir a sua correria pelo ódio.

No futebol, o racista militante encontrou a manada que precisa para fazer essa correria e exprimir, brutalmente, o quanto detesta os outros.

O futebol, berço e escola no nosso país da corrupção de colarinho branco; treino de bebedeiras, pancadaria, facadas e até de homicídios em grupo; universidade de insultos e impropérios; escola oficial da má criação, grande educador generalizado para o sectarismo e clubismo - é também centro de formação de fascistoides e de racistas.

É no futebol que os racistas cultos e os racistas menos cultos acabam por perder a vergonha de exprimir publicamente o seu racismo, contagiados pelo ambiente, pela linguagem, pela permissão de tudo o que a sociedade, lá fora, condena. Juntam-se assim à manada do ódio e começam, nas suas vidas pessoais e profissionais, a ser agentes de uma campanha de normalização das ideias do racismo.

Mesmo assim ainda têm má consciência e culpam as outras raças pela sua violência e alegam sentirem-se provocados pelo chamado "politicamente correcto", por "agora não se poder dizer nada".

É assim que vemos o líder do Chega, a propósito do caso Marega, o jogador do Futebol Clube do Porto que saiu do campo em protesto contra os insultos racistas do público, a comentar dessa forma as reações de apoio ao jogador e a dizer que agora "tudo é racismo".

André Ventura é um bom exemplo de como alguém encontrou na estupidez uma forma de se valorizar na sociedade: ele tentou notabilizar-se na sociedade do "politicamente correto", com crónicas e comentários inteligentes, através do que sabia sobre lei e direito, mas quando passou a opinar sobre futebol rapidamente encontrou o êxito pessoal e uma tropa de apoio na manada dos ridiculamente estúpidos, onde se encontram os racistas militantes. Ele acha que os pode manipular. É uma pena...

O futebol tem de deixar de ser uma escola dos piores hábitos da sociedade e tem de ser limpo. Esta deveria ser uma tarefa prioritária dos dirigentes dos clubes e dos governos.

Isto não só salvará o futebol de si próprio como, principalmente, tornará novamente eficaz aquilo que durante muitos anos conteve a expressão pública do racismo latente dentro de muitos de nós e que a educação não conseguiu eliminar: a vergonha de ser racista.

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