“Nunca ande pelo caminho traçado,
pois ele conduz somente até onde os outros já foram” (Graham Bell)
Carlos Roberto Saraiva da Costa
Leite* | Porto Alegre | Brasil
No início da
telefonia no Brasil, o escocês Alexander Graham Bell (1847-1922) presenteou o
nosso imperador dom Pedro II (1825-1891) com um aparelho - fabricado por ele
próprio - que foi instalado , em 1877, no Palácio Imperial de São Cristovão, na
Quinta da Boa Vista, atual Museu Nacional do Rio de Janeiro. Chegava, assim, o
primeiro telefone em solo brasileiro.
O
imperador do Brasil e Graham Bell
Nosso imperador teve o
primeiro contato com esta invenção na Exposição Internacional Centenária na
Filadélfia (1876), que ocorreu durante as comemorações da Independência dos
Estados Unidos das Américas (1776-1876). Além do telefone, estavam sendo
expostos: a lâmpada elétrica, um telégrafo musical , a máquina de escrever,
entre outros inventos importantes. Reza a tradição de que dom Pedro II, ao
levar o fone até o ouvido, escutou surpreso o verso do texto de Hamlet,
extraído da peça de Wiliam Shakespeare (1564 -1616): “To be, or not to be, that
is the question”. Naquele momento, nosso imperador teria dito surpreso: “Meu
Deus isto fala !”.
O primeiro
telefone em Porto Alegre
Em 15 de setembro de
1886, o telefone chegou a Porto Alegre por meio da União Telephonica do Brazil,
cuja sede se localizava no Rio de Janeiro. Inaugurado pelo então presidente da
Província do Rio Grande do Sul, Gen. Manoel Deodoro da Fonseca (1827-1892),
este alagoano teve a primazia da primeira ligação. Ao dizer “Alô”, ele deu
inicio à presença do telefone em nossa capital. Transcorridos três anos, em 15
de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, encerraria o ciclo de 67 anos
(1822-1889) do regime monárquico no Brasil, quando ele proclamou, por meio de
um golpe militar, a República dos Estados Unidos do Brasil.
Tendo 72 assinantes e
localizado num sobrado na esquina da Rua Riachuelo com a Gen. Câmara (antiga
Rua da Ladeira), o Centro Telephonico de Porto Alegre seria demolido, em
1912, quando se iniciaram, naquele local, as obras para a construção da atual
Biblioteca Pública do Estado, da qual participou o engenheiro Teóphilo Borges
de Barros. Este engenheiro também atuou na construção de um novo prédio,
durante o Centenário da Indepedência do Brasil (1822-1922), para sediar o
jornal republicano A Federação (1884-1937). Desde 10 de setembro 1974, nesse
local , em pleno Centro Histórico, encontra -se instalado o Museu da
Comunicação Hipólito José da Costa ( MuseCom) , que completou, em 2019, seus 45
anos , prestando relevantes serviços junto à comunidade cultural do nosso
Estado.
Tempos difíceis
Entre a chegada
do telefone até a fundação, em 1895, de outra empresa na cidade gaúcha de
Pelotas, cujo nome era União Telephonica, a prestação deste serviço, na capital
gaúcha, viveu uma década de várias interrupções. Buscando ampliar suas
atividades nas cidades de Rio Grande e Porto Alegre, esta empresa veio a ocupar
o antigo prédio do Centro Telephonico de Porto Alegre.
O
empreendedor Ganzo
Na virada do século,
em 1900, Juan Ganzo Fernandez (1873-1957) - um espanhol oriundo do Uruguai –
onde já havia estimulado a telefonia - chegou a Jaguarão e implantou, ali, um
centro telefônico. No ano de 1905, a telefonia já se fazia presente em Alegrete,
Bagé, Cachoeira do Sul, Itaqui, Quaraí, Santa Maria, São Gabriel, Santana do
Livramento, e Uruguaiana.
Em torno de
1906, o Coronel Ganzo – como era conhecido - organizou a Ganzo, Durruty &C.
estabelecendo centros telefônicos em Rio Grande, Pelotas, Canoas, São Leopoldo,
Novo Hamburgo e Santa Cruz do Sul.
A
Companhia Telephonica Riograndense
No ano de 1908,
Ganzo e os capitalistas Possidônio da Cunha, Manuel Py , entre
outros nomes, fundaram, em Porto Alegre, a Companhia Telephonica Riograndense (CTRG),
com o capital de Rs 1.100:000$000 (mil e cem contos de réis). Ao incorporar a
esta a Ganzo, Durruty e CIA , na sequência compraram, também, o acervo da União
Telephonica de Pelotas.
Criada a Cia
Telephonica RioGrandense, ocorreu um salto qualitativo quando se implantam
novas linhas e centrais vindas da Casa Siemens da Alemanha. Em
maio de 1912, foi inaugurada a linha Telefônica de longa distância Porto Alegre
– Pelotas, sendo esta um verdadeiro marco da Telefonia Gaúcha.
Pelotas cria a
sua própria empresa
Descontentes com
altas tarifas telefônicas, locais ou interurbanas, os pelotenses criaram, em
1919, uma empresa própria, cujo nome era Companhia Telephonica Melhoramento e
Resistência ( CTMR), vindo a ser privatizada, mais tarde, pela Brasil Telecom.
No mês de abril de
1922, a Central Automática de Porto Alegre entrou em operação, tendo sido, na
época. a primeira cidade a dispor deste sistema, que utilizava telefones de
disco.
A Companhia
Telefònica Riograndense (CTRG) passou, em 1927, às mãos do grupo
estadunidense International Telephone End Telegraphi (ITT). No Ano de
1950, a ITT alterou o nome da Companhia Telefònica Riograndense para
Companhia Telefônica Nacional (CTN), permanecendo no seu comando até
Março de 1962, quando o Governador Leonel de Moura Brizola (1922-2004) a
nacionalizou, dando origem à Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT).
Com a assinatura, em fevereiro de 1962, do decreto 13.186 , ocorreu a
nacionalizacão dos serviços de telefonia no Rio Grande do Sul.
O primeiro
Orelhão e o processo de privatização
Nos anos de
1970, a CRT, era integrada ao sistema Telebrás. Nesse período , em março de
1973, foi instalado, em Porto Alegre, o primeiro “orelhão” na Praça da Alfândega,
de acordo com a matéria e a fotografia, na época, registrada pelo jornal Zero
Hora, cuja coleção, desde a sua fundação, em maio de 1964, faz parte da
hemeroteca do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (MuseCom). Em 1993, a
Revista Exame a considerou como a melhor empresa de serviços públicos do país.
Dois anos depois, em
1995, foi parcialmente privatizada e, em 1998, no período do governo de Antônio
Britto, foi a primeira empresa pública de telefonia a ser desestatizada. Após
ser vendida à Telefônica, ela foi revendida à Brasil Telecom, que, em 2008,
foi comprada pela OI. Já o sistema celular seguiu como Telefônica
Celular, passando a ser, em 2003, uma das formadoras da Vivo.
Ganzo na
memória de Porto Alegre
Envolvido com iniciativas
do setor de eletricidade e da indústria fabril, Ganzo criou , de acordo
com o Dr. Sérgio da Costa Franco, em seu livro Porto Alegre / Guia
histórico (1988), um Jardim Zoológico em sua propriedade, na Vila
Diamela, situada à Av. Getúlio Vargas, no Bairro Menino Deus. Este Jardim
Zoológico, que abriu as suas portas ao público em 1913, tornou-se um local de
lazer, reunindo , na época, multidões de frequentadores naquele tradicional
bairro de origem açoriana.
Pioneiro
no desenvolvimento da telefonia no Rio Grande do Sul, o espanhol Juan Ganzo
Fernadez nasceu, nas Canárias, em 1873, e faleceu, no dia 02 de abril de 1957,
em Florianópolis, onde , desde 1940, havia fixado residência. Em homenagem a
sua importante contribuição para os gaúchos, foi criada a Av. Ganzo, que foi
aberta no local da antiga Vila Diamela, na qual ele havia
criado o famoso Jardim Zoológico.
Bell
versus o italiano Meucci
Faz-se
necessário, neste texto, que se registre uma importante disputa judicial
ocorrida, em 2002, quanto à legitimidade de patente, que resultou na aprovação,
pelo Congresso dos Estados Unidos, de uma resolução, estabelecendo, a partir
daquela data, que a invenção do telefone deveria ser creditada ao italiano
Antônio Santi Giuseppe Meucci (1808-1889). Embora essa decisão jurídica, o nome
de Alexander Graham Bell segue aclamado como o legítimo inventor do telefone, o
que é ratificado pelo milenar ditado latino: “vox populi, vox Dei” (“a voz do
povo é a voz de Deus”) !!
*Pesquisador,
articulista e responsável pelo Núcleo de Pesquisa do MuseCom
Imagens
1- Juan Ganzo Fernandez ( o
grande empreendedor espanhol da nossa telefonia) - Blog da Famíla Ganzo
2- Deodoro da Fonseca
( Primeiro alô na capital da Província gaúcha )
3- Brizola assinando a a
criação da CRT / 1962 Acervo do MuseCom
4- Primeiro "orelhão"
em POA / Memorial CRT - Zero Hora / março de 1973 / Acervo MuseCom
5- Texto: Alô ! Surge
o telefone na Capital Gaúcha..
6- Dom Pedro II /
responsável pela introdução do telefone no Brasil
7- Graham Bell - O inventor
Bibliografia
FORTINI, Arquimedes. O Passado
através da Fotografia. Porto Alegre: Editora Gráfica Papelaria Andradas, 1959.
FRANCO, Sérgio da Costa, ROZANO
Mário (org.) Porto Alegre Ano a Ano/ Uma cronologia histórica 1732/ 1950. Porto
Alegre: Letra & Vida,
———————— Porto Alegre / Guia
Histórico. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1988.
GUIMARAENS Rafael. Rua da Praia /
Um passeio no tempo. Porto Alegre: Libretos, 2010.
OLIVEIRA, Clóvis Silveira de.
Porto Alegre / A cidade e sua formação. Porto Alegre: Gráfica e Editora Norma,
1985.
Jornal : Zero Hora / março de 1973
Sites:
http://memorialcrt.blogspot.com/2012/08/imagens-da-historia-da-companhia.html
Acessado em 21/ 04-2020, às 18:23
Texto “O telefone no Rio Grande
do Sul”, do historiador Rogério Verlindo, que fez parte da Exposição Memória
Visual de POA, realizada, no MuseCom, em 2007.
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