Orçaminto ou orçamento? Virá o retificativo? No Curto diz-se orçamento, via teclado da editora de sociedade do Expresso, Joana Pereira Bastos, jornalista do Expresso. Dos milhões anunciados pela UE… só lá para o verão de 2021 é que vão chegar, dizem os entendidos. Até lá, importa tomar em conta, já morreram muitos mais idosos, gente nas pensões e reformas, que deixam de pesar à dita Segurança Social. No total serão menos uns milhões a ter de pagar em reformas de miséria e assim-assim. Pode ser que ajude, dará jeito. Isso se não virmos esses tais milhões escoarem-se para o Novo Banco ou para outro qualquer ‘beneficiário’ dessas seitas. Temos, por tal e por outras contas, um orçamento que pode redundar num orçaminto. Certo é que seremos muitos milhões a contribuir para o dito… que nunca chega. Até porque os ofshores é que estão na moda e esses vão abarrotando à força toda. Sabemos disso e disso somos as vítimas. Pagar e não bufar. Já com Salazar era o mesmo. A diferença é que o país era espoliado por meia-dúzia de famílias e agora são várias, demasiadas. Tantas que nem sabemos exatamente quantas… Ou tudo fazem para que não se saiba.
Da nossa parte fomos longos sobre o dito (escrito). Fica espelhada a imensa desconfiança que muitos políticos, empresários e governos nos inspiram. Várias máfias estão instaladas nos poderes. E podem mesmo fazer quase tudo que querem. Justiça é palavra e significado esfarrapado. Até já há juízes envoltos em suspeições de negociatas por esta ou aquela ‘palha’. De milhares, de milhões? Apurem lá. Pensem… mas paguem. Bufem… mas paguem. É a democracia. Dizem ‘eles’. Pois.
Mudando de assunto. Breve. Um convite, para lerem a peça de opinião que aqui no PG se segue a este Curto. Portugal | Os picos na mortalidade – reflexões que se impõem – é o título. Uma espécie de contas feitas à mortalidade. Nem pomos as questões nem as conclusões a que podemos chegar sobre esses números mortos. Curiosos que a chamada comunicação social não pareceu interessada em somar o possível evidente. É que dois mais dois são quatro e dois e dois são vinte e dois. A arte de manipular ou de omitir, ou de não destacar e “passar por cima”… O que dizer mais? O que fazer? Um conselho em forma de despertador muito sonante: Abram os olhos, mulas! Usem os vossos poderes. Porque cada um tem o seu poder e todos juntos temos todo o poder, pacífico e democrático na realidade. Não o poder desta democracia de faz-de-conta com que nos estão a endrominar.
Bom dia e boa fome que se avizinha em massa para os plebeus que pagam mas nem bufam, saturados da exploração, cansados das promessas que nunca se realizam mas que alimentam a corja de políticos desonestos, de empresários desonestos, de seitas desonestas, de lobies acoitados nas impunidades, tal como certos e incertos políticos. Toda essa mole cumpliciada, alapada na crença de que em terra de cegos quem tem olho é rei. Fazendo da atual democracia uma selva em que prevalece a lei do predador mais forte.
Pois. Mas nem todos são cegos, apesar de vítimas deste caldeirão de cidadania, justiça e democracia da treta.
Lamentemos o evidente descrédito de democracia assim, da falta de transparência e de abundante desonestidade.
Siga para o Curto, do Expresso. É de ler. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena... nem a miséria a que nos condenam e é aceite com largas doses de carneirismo.
MM | PG
Da bonança à tempestade vai um Orçamento do Estado
Se ainda restassem dúvidas de que tudo pode mudar de um dia para o outro, o
Orçamento do Estado ajuda a dissipá-las. A 17 de dezembro do ano passado, o
ainda ministro das Finanças Mário Centeno entregava no Parlamento um Orçamento
que ficou para a história da democracia como o primeiro a prever um saldo
positivo nas contas públicas. Apesar desse excedente inédito, o documento não
contemplava um reforço substancial do investimento do Estado, nem uma diminuição
significativa dos impostos. Na altura, Centeno justificou a prudência nos
gastos, alegando que o superavit era fundamental para ajudar o país a resistir
"à eventual materialização de riscos externos".
Mal sonhava Centeno que um "risco externo" de dimensões nunca
vistas chegaria apenas duas semanas depois. A 31 de dezembro, a China
comunicou à Organização Mundial da Saúde o estranho aparecimento de "casos
de pneumonia de causa desconhecida em Wuhan". E nada mais voltou a
ser como dantes. Em Portugal, a
pandemia fez desaparecer quase 15 mil milhões de euros das contas do
Estado e o superavit transformou-se num dos maiores défices das últimas
décadas. Ao Orçamento da bonança sucede agora um Orçamento feito para
responder a uma tempestade social e económica sem paralelo.
"O tempo é de exceção", frisou
ontem à noite António Costa depois de o documento ser entregue no
Parlamento. São quase 400
páginas que vão mexer com a nossa vida e que, garante
o primeiro-ministro, "vão deixar no bolso dos portugueses mais 550
milhões de euros", graças a medidas fiscais como a redução das taxas de
retenção na fonte de IRS, que não equivale a uma diminuição de impostos, mas
dará às famílias mais rendimento disponível ao final do mês. Aumento das
pensões mais baixas, do salário mínimo e do subsídio de desemprego, alargamento
das creches gratuitas a mais 15 mil crianças ou criação de um novo
apoio social para os trabalhadores mais desprotegidos e para os que
perderam rendimentos com a pandemia são algumas das medidas
com impacto direto na carteira.
No total, a despesa pública deverá ultrapassar, pela primeira vez, a fasquia
dos 100 mil milhões de euros. Nunca os cofres do Estado gastaram
tanto. Em tempos de pandemia, o SNS absorverá grande parte da fatia, com a
contratação de mais 4200 profissionais, a criação de um subsídio de risco para
os que estão na linha da frente, mais
verbas para os centros de saúde e maior
folga para os hospitais.
Para apoiar alguns dos sectores mais fortemente afetados pela pandemia, como a
cultura, a hotelaria e a restauração, é criado um 'voucher' que
devolve aos consumidores o valor do IVA que pagarem nessas áreas para voltarem
a gastar nas mesmas atividades. Os empresários
dizem que é pouco para estimular a economia e consideram
"extremamente escassas" as medidas dirigidas às empresas.
Crítica foi também a oposição, incluindo os antigos parceiros da geringonça.
Embora poucos acreditem que o Orçamento chumbe, a verdade é que neste momento
as negociações
estão tremidas. O Bloco de Esquerda já avisou que votará contra se não
forem feitas alterações "estruturais" e o PCP reconhece que houve um
"esforço de aproximação", mas ainda "claramente
insuficiente" e, para já, não
diz sim nem não ao documento. O Governo está disponível para negociar
"até ao último minuto" e há vários caminhos
possíveis para conseguir a aprovação. A votação final está marcada para 26
de novembro.
Daqui a pouco, João Leão, que substituiu Centeno já em plena pandemia, dará
início à habitual conferência de imprensa, que pode acompanhar no Expresso minuto
a minuto, para apresentar o que o novo ministro das Finanças classifica
como "um Orçamento sem austeridade", mas que não deixa de ser de contenção.
OUTRAS NOTÍCIAS
Portugal registou ontem 1.249 novos casos de infeção com covid-19 e
mais 14 mortos, o que iguala o pior
registo em termos de óbitos dos últimos quatro meses. O número
de internamentos está a subir há nove dias, mas o Governo garante que os
hospitais continuam com capacidade de resposta. Ainda assim, já há várias unidades
de saúde pública em rutura, sem meios para fazer o rastreio de contactos e
o controlo da infeção.
Globalmente, a Europa está a tornar-se novamente num dos maiores cenários de
contágio, representando já mais de 16% dos casos de covid e 22% das mortes a
nível mundial. Ontem, o continente europeu registou, pela primeira vez, mais de
100 mil casos num único dia. Vários países estão a bater recordes de novas
infeções diárias e são cada vez mais os que apertam
medidas.
Por cá, o ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, soube ontem que estava
infetado com o novo coronavírus, o que obrigou a testar os colegas de Governo,
com quem tinha estado no Conselho de Ministros da passada quinta-feira. Todos
os outros estão negativos. Mesmo assim, por determinação da Direção-Geral
da Saúde, o ministro do Planeamento e a ministra do Trabalho, que
estiveram sentados ao lado de Heitor na reunião, vão permanecer
Em Fátima
Em Guimarães, não haverá mais espetáculos ao vivo. A decisão
foi tomada pela Câmara depois de terem sido partilhadas na internet
fotografias de um evento com humoristas no Pavilhão Multisusos da cidade em que
supostamente teriam estado demasiadas pessoas. Na verdade, as regras de
segurança foram cumpridas, o evento foi autorizado pela Direção-Geral da Saúde
e a sala estava apenas a 40% da lotação. Todos usaram máscara, as entradas e
saídas foram controladas e nenhum espectador tinha pessoas sentadas à frente,
atrás ou ao lado. Ainda assim, a autarquia cedeu às críticas nas redes sociais
e suspendeu todos os espetéculos, por tempo indeterminado.
Até aqui nomeados pelo Governo, os próximos presidentes das Comissões de
Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), responsáveis máximos no
terreno pela execução dos milhões de euros de fundos europeus de apoio à
coesão territorial, vão
hoje a votos pela primeira vez, numa eleição indireta composta por um
colégio eleitoral que inclui os presidentes de Câmara.
Nos EUA, Donald Trump voltou ontem às ações de campanha, depois de os
resultados dos testes
à covid-19 terem dado negativo "durante dias consecutivos",
segundo garantiu o médico da Casa Branca. Escassos dez dias depois de saber que
estava infetado, o presidente norte-americano discursou num comício na Florida,
perante uma plateia em que muitos não usavam máscaram e onde o distanciamento
social não existiu.
A União Europeia mostrou ontem "disponibilidade" para avançar com sanções
contra o Presidente bielorrusso, Aleksander Lukashenko, caso mantenha a violência
contra os protestos pacíficos que decorrem no país desde as
presidenciais de agosto, que os manifestantes consideram fraudulentas e que
conduziram à reeleição do chefe de Estado, há 26 anos no poder. Reunidos
ontem no Luxemburgo, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE frisaram que
Lukashenko "carece de qualquer legitimidade democrática" e defenderam
a realização de "novas eleições, livres e justas", apelando à
libertação de todos os presos políticos. Só no domingo foram detidas
mais de 700 pessoas.
No Cáucaso, uma guerra nunca resolvida voltou a acender, com as forças
separatistas arménias de Nagorno Karabakh e o exército do Azerbaijão
a envolverem-se ontem em novos confrontos, violando o acordo de cessar-fogo
humanitário que tinha entrado em vigor no passado sábado.
O Nobel da Economia foi ontem atribuído a dois norte-americanos especialistas
em leilões. A distinção foi atribuída ao trabalho de Paul Milgrom, de 72
anos, e Robert Wilson, de 83, por "melhorar a teoria dos leilões e
inventar novos formatos". Com o prémio de Economia ficou completa a
lista dos Nobel de 2020, que serão entregues a 10 de dezembro.
FRASES
"Nada daquilo que é essencial ficou para trás, nem se alterou o rumo
iniciado em novembro de 2015. Não há recuos em nenhum dos progressos alcançados
desde então. Não ficámos a marcar passo e recusámos a resposta austeritária a
esta crise", António Costa, sobre o Orçamento do Estado para 2021
"Têm-se manifestado muitas e poderosas atitudes manipuladoras, populistas
e interesseiras, sem remorso de usar e manipular o sofrimento, o desconcerto e
a desorientação para daí tirar dividendos políticos (...) Esse é o monstro de
que nos fala o quadro do Apocalipse", D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal, ontem à noite em Fátima
"Passei por aquilo e agora dizem que sou imune. Sinto-me tão poderoso que
vou andar no meio deste público e vou dar beijos a todos", Donald Trump, no regresso aos comícios, escassos dez dias depois de ter testado
positivo para a covid-19
"Na primeira oportunidade vão roubar-me o primeiro lugar. Sou o alvo a abater", João Almeida, ciclista português que lidera a Volta à Itália
O QUE ANDO A LER
"Os enamoramentos", de Javier Marías
Luísa e Miguel pareciam formar o casal perfeito. Maria observava-os todas as
manhãs a tomar o pequeno-almoço no mesmo café que também frequentava. Não os
conhecia, mas via-os falar e rir, a uma hora em que ninguém tem tempo ou cabeça
para nada, e menos ainda para romance ou gargalhadas.
Conversavam como se tivessem acabado de se conhecer e não como se se deitassem
e acordassem na mesma cama há anos, se tivessem arranjado à pressa na mesma
casa de banho e corressem para deixar os filhos na escola antes de sair para o
trabalho. Vê-los diariamente pela manhã, mesmo que nunca com eles tivesse
trocado uma palavra, tornava melhores os dias de Maria. Ofereciam-lhe uma visão
de harmonia e de entrega que lhe fazia encarar a vida com mais otimismo. Até à
manhã em que deixou de os ver. O desencontro repetiu-se durante dias até
descobrir que Miguel fora brutalmente assassinado no meio da rua, num crime
desprovido de sentido perpetrado por um sem-abrigo que aparentemente perdera a
razão.
Não cheguei ainda à parte em que é revelada a verdade sobre a tragédia, mas a
história vai muito além do mistério. Eleito o melhor livro do ano em
Espanha em 2011, no mesmo ano
Depois de Coração Tão Branco e Berta Isla, é a terceira obra que leio de
Marías, considerado o melhor escritor espanhol da atualidade e eterno
candidato ao Nobel. Como os outros, está tão bem escrito que só nos faz desejar
que o dia tivesse mais horas para nos podermos perder na leitura.
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