quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Portugal | Saúde em câmara lenta

Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião

Envolvido em lutas partidárias e parlamentares, por força de um Orçamento que tem de ser negociado com recurso a máquina calculadora, o Governo aparenta estar a agir reativamente ao crescimento galopante do número de infetados pela SARS-CoV-2 em Portugal, quando devia ter antecipado medidas para aquilo que há muito se previa.

Uma segunda vaga da pandemia ainda mais forte do que a primeira - o período de maior aperto, em conjugação com a gripe, que ainda nem começou - impunha uma estratégia bem definida no tempo e não ao sabor de números diários de internados, isolados e confinados.

Bem sei que a situação é muito abrangente, não se circunscrevendo às autoridades portuguesas. Começa numa União Europeia órfã de grandes líderes e composta por países que têm sempre muitas dificuldades em entender-se. Foi o que se viu com a "bazuca". Portugal vai depender desesperadamente da Europa para recuperar a economia, mas também é vítima em contextos que não pode controlar, como a exigência de uma resposta comum e objetiva em termos de saúde pública.

Esta é só mais uma razão para sermos diligentes, rápidos e eficazes nas situações passíveis de serem controladas. Como a articulação entre o Serviço Nacional de Saúde e os hospitais privados. É indesculpável que, chegando a este ponto de saturação, não esteja esclarecido cabalmente de que forma o Estado poderá aproveitar as camas disponíveis nestas unidades, que representam cerca de um terço da oferta nosso país.

As divergências com os privados não são de hoje, são problemas recorrentes e os diferendos em relação à ADSE estão aí para o provar. Até por isso, esta articulação devia ter sido acautelada mais cedo pelo Ministério da Saúde, que corre agora o risco de ter de ceder em toda a linha para descongestionar os hospitais públicos, onde começam a escassear camas e há cada vez mais profissionais a trabalhar no limite da exaustão.

*Editor-executivo

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