sábado, 19 de novembro de 2022

COMUNIDADE BRASILEIRA DIVIDIDA RECEBEU LULA EM LISBOA

Em modo absolutamente incomunicável, os dois lados da barricada brasileira mediram forças, em Belém e São Bento. PSP obrigada a reforçar contingente para evitar confrontos diretos.

Centenas de brasileiros residentes em Portugal concentraram-se esta sexta-feira em frente ao Palácio de Belém, obrigando ao reforço de medidas policiais de segurança, para "receber" o Presidente eleito do Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva. De um lado da barricada muitas dezenas de apoiantes do Presidente eleito e do outro muitas dezenas de apoiantes do Presidente derrotado, Jair Messias Bolsonaro.

A radical polarização da política brasileira chega a todo o lado e Lisboa - a maior cidade brasileira fora do Brasil em número de eleitores registados, cerca de 45 mil - não é exceção, manifestando-se isso em frente ao Palácio de Belém, onde Lula foi recebido pelo Presidente português. A PSP conseguiu evitar confrontos diretos.

A comunidade brasileira - a maior comunidade estrangeira em Portugal, com cerca de 250 mil pessoas e em continuo crescimento nos últimos anos - tradicionalmente votava à direita mas nas últimas eleições a situação inverteu-se: Lula venceu claramente Bolsonaro, tanto na primeira volta como na segunda.

Vindo do Egito, onde participou COP 27, Luíz Inácio Lula da Silva - que se faz acompanhar de Fernando Haddad, o candidato do PT que Bolsonaro derrotou em 2018 e que agora foi novamente derrotado (pelo bolsonarista Tarcísio Meira) na candidatura a governador de São Paulo - aterrou em Lisboa depois do meio-dia e foi logo encaminhado para Campo de Ourique.

Almoçou com empresários brasileiros em Portugal no Cícero Bistrot, um restaurante (com galeria de arte) onde, segundo o respetivo site, o chef português Hugo Cortez Teixeira, "com o critério de anos de experiência em cozinhas com técnicas francesas, como a do restaurante Eleven, além do espaço de Henrique Sá Pessoa" oferece "um diálogo entre a culinária de autor e os ingredientes luso-brasileiros", em menus que podem ir até aos 95 euros por pessoa (mas se for só uma omolete com um copo de vinho fica a 22 euros).

A informação de que Lula estava a almoçar neste restaurante foi rapidamente parar ao Twitter, acabando à saída o Presidente eleito do Brasil cercado por alguns apoiantes, que saudaram a sua presença gritando palavras de ordem como "Lula guerreiro, do povo brasileiro". Para hoje está previsto um encontro de Lula da Silva com apoiantes e líderes da comunidade brasileira em Portugal.

Depois seguiu para o hotel onde ficará hospedado. A seguir voltou a sair, para Belém, onde às 17.00 seria recebido pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. E aqui tudo funcionou com algum improviso.

Às 15.00, o PR português tinha começado a receber o seu homólogo de Moçambique, Filipe Nyusi . Porém, este encontro prolongou-se mais do que o que estava previsto e, em simultâneo, Lula chegara a Belém cerca de vinte minutos antes da hora prevista.

Assim, Marcelo resolveu juntar as audiências, fazendo o Presidente eleito do Brasil juntar-se à reunião que já decorria com o Chefe de Estado moçambicano - e, evidentemente, permitindo que o encontro fosse registado pelos fotógrafos e operadores de câmara. Marcelo e Lula acabaram por estar juntos em Belém durante cerca de uma hora e quinze minutos, não tendo nem um nem outro feito declarações aos jornalistas.

Pelas 20.00, Lula já estava no Palacete de São Bento, para um jantar com o primeiro-ministro, António Costa - que o recebeu com um abraço e exibindo com os dedos o L símbolo da campanha de Lula no Brasil. Mais uma vez, encontraram-se à porta "claques" dos dois lados da barricada brasileira, com a PSP pelo meio a dissuadir confrontos diretos.

Em Belém, segundo a Lusa, os dois grupos de dezenas de manifestantes - ligeiramente em maior número do lado contra Lula da Silva - tinham tido menos de cinco metros a separá-los entre si, atrás de grades metálicas e perante um contingente policial reforçado.

"Lula ladrão, o seu lugar é na prisão", gritaram manifestantes que contestam a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva nas presidenciais de 30 de outubro. "Brasil, Brasil, Brasil, vitória", replicavam, por sua vez, os apoiantes de Lula.

O empresário Daniel Rolha, há 18 anos radicado em Portugal, disse que apesar da divisão evidente entre os brasileiros concentrados em frente ao Palácio de Belém, "o Brasil não é um país divido". "Não acredito num Brasil dividido, mas reconheço que o grande desafio de Lula da Silva é unir os brasileiros."

A administradora de empresas Joyce, há seis anos a viver em Portugal, afirmou que estava em frente ao Palácio de Belém, "para protestar contra a corrupção e o roubo da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro" nas eleições de 30 de outubro. Questionada sobre a inevitabilidade de Lula da Silva tomar posse em 1 de janeiro próximo, Joyce, que recusou revelar o apelido, foi perentória: "As Forças Armadas não vão permitir."

A seu lado, eram muitos os cartazes em que se podia ler "SOS Forças Armadas", um dos desejos dos apoiantes de Bolsonaro, nas manifestações dentro e fora do Brasil desde o anúncio do resultado das eleições. Os apoiantes de Lula da Silva foram os primeiros a abandonar a concentração, seguidos algum tempo depois dos de Bolsonaro. Do próximo dia 21 a 24 estará em Lisboa o ainda vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão.

João Pedro Henriques | Diário de Notícias

Imagem: Presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, com o PR português, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém © EPA/TIAGO PETINGA

Sem comentários:

Mais lidas da semana