sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Human Rights Watch exige indemnizações para famílias dos que morreram no Catar

"Só chegou o corpo." Human Rights Watch exige indemnizações para famílias dos trabalhadores que morreram no Catar

Organização não governamental falou com familiares de vítimas no Nepal, um dos muitos países asiáticos que mais forneceram mão de obra essencial à prova.

Entre os três mortos das contas oficiais do Catar e os 6500 avançados pelo jornal The Guardian, ninguém sabe ao certo quantos trabalhadores morreram a construir este Mundial. A Human Rights Watch também não conhece os números, mas exige que sejam indemnizadas as famílias dos que morreram, ficaram gravemente feridos ou os que não receberam o que lhes foi prometido durante as obras para o evento.

A organização não governamental falou com familiares de vítimas no Nepal, um dos muitos países asiáticos que mais forneceram mão de obra essencial à prova. Como em grande parte do globo, neste país a imaginação das crianças transforma qualquer descampado num luxuoso estádio de futebol. É assim que Hari aparece num vídeo, de costas, a ver o filho treinar o sonho de ser jogador profissional.

Hari é o nome falso deste construtor do Mundial. Uma profissão que cresceu como cogumelos desde há 12 anos na região de Lusail, em Doha.

"Não havia ali nada. Agora há por todo o lado. Quando estava calor trabalhávamos com a cara coberta e transpiravamos tanto que o suor encharcava os sapatos. O meu filho não me reconheceu quando voltei", lembra Hari.

O filho deste homem é fã da seleção portuguesa. Hoje ainda mal o conhece, mas 14 anos depois tem o pai de volta.

O marido de Nanda Kali nunca voltou. Agora que ficou sozinha com a velhice e a viuvez, esta mulher parece render-se, mas não se conforma.

"O meu marido era motorista, vinha a casa de dois em dois anos. Da última vez passaram quatro, mas só chegou o corpo dele. Costumava dizer que havia de trabalhar lá enquanto fosse capaz para pagar os nossos empréstimos, era o meu sustento. Quem me há-de valer agora? A quem hei de mostrar estas lágrimas?", pergunta Nanda Kali.

Tal como Kshitz Sigdel, fundador de um clube de fãs de futebol em Katmandu. Está cansado de contar caixões.

"Todos os dias vou ao aeroporto desalfandegar produtos. Chegam muitas vezes caixões com corpos de trabalhadores nepaleses, é muito triste. A questão não é se devem ou não pagar, têm de pagar", defende Kshitz Sigdel.

No Catar, a lei considera que não há direito a indemnização por morte sem que a causa seja suspeita e se faça uma autópsia. Oficialmente, todos os que perderam a vida a construir este mundial morreram de causas naturais.

As autoridades do país criaram um fundo de indemnização salarial para apoiar trabalhadores explorados, mas só a partir de 2020 é que a FIFA, autoridade máxima do futebol internacional que entregou a organização do Mundial do Catar, admitiu fazê-lo. No entanto, até hoje nunca aceitou indemnizar as vítimas das obras no país.

Dora Pires com Cátia Carmo | TSF

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