Por cá (Portugal), o Governo inventa problemas de segurança que não temos, enquanto se agravam as dificuldades da nossa indústria em vários setores, e delinquentes políticos corroem as condições de funcionamento e o papel da Assembleia da República.
Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião
Adensam-se nuvens negras sobre toda a Europa e, no espaço da União Europeia (UE), abate-se uma tempestade. Sobre nós, portugueses, sopram ventos perigosos.
Estão em colapso os governos da Alemanha e da França, e os de outros países sobrevivem com plásticas constantes. Os processos que sustentam estes falhanços reforçam o avanço das forças ultraconservadoras e fascistas, que vão entrando nas instituições democráticas para as destruir por dentro. A UE, apresentada aos povos como projeto de afirmação e defesa da paz, está agora envolvida numa escalada belicista, em resposta a perigos imaginários e reais decorrentes de novas relações de forças, e também por pressão dos Estados Unidos da América e do Reino Unido. E falta uma estratégia de relacionamento internacional com princípios.
A Alemanha foi defendendo a sua industrialização, embora pouco diversificada, mas os enredos da guerra na Ucrânia, os conflitos tarifários com a China e o atraso na transição energética e digital avariaram o motor da sua economia. É significativo que o ato identificado como causa da queda do Governo alemão tenha sido a irredutibilidade do ministro das Finanças (liberal) na oposição ao investimento, sem o qual o setor produtivo não sobreviverá. As suas indústrias-bandeira, que têm extensões diretas e indiretas em Portugal, estão a despedir milhares de trabalhadores.
A França está mergulhada numa profunda crise política, económica, orçamental e social, de que resultou a queda do Governo. Macron criou um Governo sustentado no namoro com a extrema-direita, para não reconhecer e assumir a vitória das esquerdas e para atacar direitos sociais, A França é hoje, perigosamente, uma nação sem rumo.
Do outro lado do Atlântico sopra uma imprevisibilidade carregada de receios. Continuam a rufar os tambores das guerras exportadas. A liderança de Trump ampliará a corrosão, e o descrédito das instituições americanas e internacionais. No plano económico, o Governo dos bilionários enfraquecerá as condições das economias europeias. Vão tentar quebrar todas as barreiras à “liberdade do negócio” e acionar o excecionalismo americano, para garantirem apoio popular.
Esta semana, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, disse que “perante o que os países gastam em pensões, no sistema de segurança social e na saúde, basta uma fração desse gasto para garantir o orçamento de defesa” que a NATO está a querer impor. Ora, o “rearmamento da UE”, a acontecer, é tarefa onerosa e que levará décadas, não é algo que se faça com uns cortes pontuais e temporários na segurança social e na saúde. Trata-se, pois, de uma ameaça gravíssima aos direitos dos cidadãos da UE.
Por cá (Portugal), o Governo inventa problemas de segurança que não temos, enquanto se agravam as dificuldades da nossa indústria em vários setores, e delinquentes políticos corroem as condições de funcionamento e o papel da Assembleia da República.
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