Paulo Guinote* | Diário de Notícias | opinião
Quem pensar que é apenas na área da “Segurança” que se têm tomado medidas baseadas naquilo que se entendem ser as “percepções” da opinião pública ou publicada é porque anda desatento em relação ao que se passa em outras áreas da governação.
É verdade que não é fenómeno novo, este de governar na busca de satisfazer aparências ou necessidades criadas artificialmente com o exacto objectivo de serem resolvidas de modo fictício. Mas parece ter ganho uma maior centralidade nestes últimos tempos de um equilíbrio parlamentar instável em que cada um dos actores políticos pretende reclamar para si a aparência de ter resolvido algo.
O caso da operação policial no Martim Moniz foi o que teve maior impacto político-mediático, na tentativa do governo apresentar acções no sentido de combater a “percepção de insegurança”. Mas os recentes cartazes do Partido Socialista acerca do aumento das pensões também se destinam a criar uma “percepção”, a de que a responsabilidade pela medida é apenas sua.
Nesta competição por aparentar que algo se está a fazer, a Educação também se tem destacado, com as sucessivas medidas apresentadas para combater a escassez de professores. Medidas que, na maior parte dos casos resultam não apenas do desejo de transmitir para a sociedade a tal “percepção” de acção, mas de igual modo surgem com base no que são “percepções” equívocas do problema que se pretende alegadamente resolver.
Apresentaram-se medidas que só podem ter tido origem em algo muito próximo do chamado “achismo”, porque ninguém com um conhecimento mínimo da realidade da vida nas escolas e do seu quotidiano muito pouco atractivo poderia acreditar que existiriam algumas centenas de professores aposentados a regressar ao activo ou que mais centenas de investigadores, bolseiros ou doutorados estarão interessados em ingressar na docência no Ensino Básico e Secundário. Do mesmo modo, só por ignorância ou pensamento mágico, se pode achar que, nas condições actuais, será um concurso “extraordinário”, com vinculação quase instantânea, a conseguir recrutar pessoal docente devidamente qualificado na quantidade necessária. Mas transmite-se a ideia de que se está a fazer algo.
Continuando no domínio das “percepções”, a mim parece que há quem tenha interesse na continuação do problema da escassez de professores na rede pública de ensino, de modo a justificar medidas parecidas às tomadas na área da Saúde, com a deslocação dos alunos para a rede privada, alegando que nesta poderão ter aulas, não interessa muito em que condições, desde que o Estado pague os respectivos encargos. Ou seja, a agenda do cheque-ensino e da “liberdade de escolha” camuflada pela “necessidade” de assegurar o “direito à Educação”.
Posso estar errado, mas, no actual contexto, a minha percepção é tão válida quanto qualquer outra.
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