<> Artur Queiroz*, Luanda
O grande rio Zambeze corre em terras angolanas graças ao Almirante Gago Coutinho, que desenhou a fronteira de forma a incluir na então colónia aquela fatia da Zambézia, onde a flor do cobre abunda e as comunidades ribeirinhas têm uma cultura única. Fiz lá uma série de reportagens durante dois meses. Depois passei para o Cassai e mergulhei no mais espantoso mosaico cultural angolano. Fui ficando até que a polícia mineira da Diamang me expulsou. Desconfiavam que era um kamangista disfarçado de maluco excêntrico. Entreguei-lhes fitas gravadas com coros e músicas que recolhi mas eles não se comoveram. Achavam que era um alibi esfarrapado.
O Brigadeiro Boris Munbombe faleceu. A família proibiu a presença de bandeiras e sicários da UNITA no velório, ele que foi um servidor incansável de Savimbi. A folha oficial do Galo Negro apresenta-o assim: “Estava em missão de serviço no Burkina Faso quando a UNITA perdeu os bastiões do Bailundo e Andulo. A partir do exterior, ele, juntamente com o embaixador Marcelo Karrica, eram os homens que cuidavam da logística do partido, comercialização dos diamantes, compra de armas”. Era este brioso oficial general que vendia os diamantes roubados ao Povo Angolanos. Os diamantes de sangue. Kamangista com uma estrela. Savimbi ou Adalberto da Costa Júnior tinham pelo menos cinco estrelas.
Meu Pai foi apanhado com quilos de explosivos escondidos num “fundo falso” do carro. Disse aos agentes da PIDE que o material era para pescar à bomba. Não acreditaram e ficou preso até ser desterrado. No Tribunal da Comarca do Huambo começou o julgamento dos suspeitos da preparação de atentados terroristas. Aposto que vão dizer ao colectivo de juízes que os explosivos iam ser usados para pescar garoupas nas pedras do Morro dos Veados. Meu Pai tinha os explosivos para derrubar Salazar. Estes queriamm destruir Angola, objectivo da UNITA desde que se atrelou ao colonialismo e ao regime racista de Pretória.
Liberty Chiaka, presidente da bancada parlamentar da UNITA, é suspeito de ligações (mandante?) aos arguidos que estão a ser julgados na cidade do Huambo, por terrorismo. As autoridades titulares da investigação e acção penal vão pedir a suspensão da imunidade parlamentar para o deputado responder perante a Justiça. Vai fazer-se de vítima!
De Fevereiro a Abril temos os calores tropicalíssimos que brigam com a Corrente Fria de Benguela. Há anos em que os temporais chegam em Março, quando normalmente ocorrem entre Abril e Julho. Do Sombreiro, nas cercanias da Cidade de São Filipe de Benguela, ao Cabo Frio, as belas baías são varridas pelas calemas. A Baía dos Elefantes, que oferece aos navegantes um excelente fundeadouro, também é palco das “voltas de mar”, ondas gigantescas bem conhecidas das comunidades piscatórias. Há 40 anos, jovens “Comandos” em fim de formação, mais os seus instrutores, foram apanhados por esse fenómeno natural. Morreram afogados. Poucos sobreviveram.
A culpa não foi do socialismo nem da corrupção. Não comemorar a data desse desastre também não é desprezo pelas vítimas e pela dor de familiares e amigos. Entre 11 de Novembro de 1975 e 22 de Fevereiro de 2002 morreram milhares de militares e civis. Todos os dias. É o horror da guerra. Não podemos viver prisioneiros dessa dor. Jaime Azulay escreveu sobre o desastre da Baía de Santo António, que roubou a vida aos jovens “Comandos” e instrutores. Os desastres naturais levam tudo à frente, até tropas especiais. Pior catástrofe é isto que o autor escreveu: “Ao chegar, doente e quase em farrapos aos 64 anos de idade, vou deixando o orgulho de ter pertencido a uma gesta que dedicou os anos mais caros da vida em defesa de uma causa justa”.
Terrível desastre! Jaime Azulay
está na lista dos melhores cronistas angolanos de sempre. É um repórter de
altíssimo nível. O Estado Social, bandeira monumento do MPLA, abandonou-o. A
classe ignora-o. A indiferença dos camaradas deixou-o
O Presidente João Lourenço, na entrevista encomendada ao “Jeune Afrique” disse que ninguém consegue eliminar a corrupção. Bem-vindo à realidade. Em 2017, encheu o peito prometendo acabar com a corrupção destruindo o “ninho dos marimbondos”. Agora mordeu a língua. Bom sinal.
O sacrossanto FMI sobre Angola escreveu: “Os contratos adjudicados através de concursos não concorrenciais (Contratação Simplificada) representaram mais de 80 por cento de todos os contratos e continuam a ser a forma dominante de contratação pública. Esta prática levanta preocupações significativas relativamente à transparência, responsabilidade e equidade. Pode levar à corrupção e a preços de contrato inflaccionados”.
Afinal o Presidente João Lourenço
também vai ou deixa ir à caixa das bolachas! Vera Daves diz que vai lá, guiada
pelo Espírito Santo e pela sua fé
Na entrevista comprada, João Lourenço também disse que não persegue familiares e colaboradores próximos do Presidente José Eduardo dos Santos. Por isso é que começou hoje o julgamento, no Tribunal Supremo, dos Generais Manuel Hélder Vieira Dias Júnior (Kopelipa) e Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino).
Comigo aconteceu. Fui contratado pelo General Kopelipa para criar o Grupo Medianova. Partimos de uma ideia e criámos a maior e mais moderna gráfica de África (Damer). Um canal de televisão (Zimbo). Uma estação radiofónica (Rádio Mais). Um jornal de referência (O País). O projecto era começar como semanário e durante dois anos, cada jornalista sénior, formava cinco estagiários. Criada uma Redacção nascida na casa, passava a diário.
O General Kopelipa todos os dias
me dizia: “Temos de criar rapidamente os Media sérios, rigorosos, livres, para
devolvermos ao Jornalismo Angolano credibilidade e prestígio”. Todos os dias me
cobrava: “Precisamos de lançar os Media credíveis e sérios urgentemente”. O
Jornalismo Angolano deve muito ao General Kopelipa. A classe está indiferente,
Se o Poder Judicial já está livre das ordens superiores, se a separação de poderes existe, então façam a este processo aquilo que o Tribunal Constitucional fez com o Decreto Presidencial, que dava dez por cento por cada sentença condenatória na “recuperação de activos”. Lixo!
O Presidente João Lourenço tem tudo para acabar com as vinganças mesquinhas e as encomendas ao Poder Judicial. Do meio do seu mandato até ao fim, em 2027, só tem mesmo que governar e dignificar a figura do Chefe de Estado. E nunca esqueça que devemos ao MPLA tudo o que somos e tudo o que temos.
Comigo aconteceu. Sem as lições do MPLA nunca passaria de um rapaz dos jornais que escrevia umas larachas para boi dormir. O jornalista que sou, sem o MPLA não passava de um escriba oco, contente da vida por usufruir dos privilégios que a sociedade colonial garantia aos brancos.
* Jornalista
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