Martinho Júnior,
Luanda
10 – Justino Pinto
de Andrade “aproveitando” a “esteira que lhe foi estendida” e que ele próprio
também cultivou, abandonou o MPLA, ao que tudo indica “arrastando” entre
outros, o seu irmão Vicente e fundou o Bloco Democrático em finais de 2010.
Esse foi talvez um
dos seus poucos actos de honestidade política, mas fê-lo precisamente no
momento que, tendo ele próprio constatado à sua maneira a deriva do MPLA dos
seus princípios e convicções originais, era possível começar a acção de deitar
fora o “ditador” produzido a partir do momento em que, a 19 de Maio de 1993, os
Estados Unidos reconheceram o governo angolano, substituindo-as por jovens “moscas”
que nem ele!
Para tal teve de
esperar a oportunidade suscitada pela administração democrata de Barack Hussein
Obama e a 2ª fase de relacionamento Estados Unidos – Angola, com sua orientação
de “mudança dialéctica”, ou seja, preparar a contradição entre o MPLA e uma
oposição formatada no cadinho duma estratégia de tensão similar a muitas que
vêm ocorrendo noutras partes do mundo após a implosão da União Soviética e o
fim do “socialismo real” na Europa do Leste.
Logo na sua
primeira intervenção em Benguela, a 30 de Dezembro de 2010 ele deu o mote “à
esquerda” (como esse tipo de “orientação” gosta de se rever à “esquerda”),
propiciando-se a “líder de massas”, a “líder da juventude revolucionária”,
crítico do poder, do MPLA, do estado angolano e de muitas das entidades
angolanas ao mais alto nível:
…“35. A noite está
grávida de punhais. Temos que arrancá-los, um a um, e fazer nascer um dia
luminoso, símbolo da nossa fé e da nossa esperança.
36. Aos que se
pretendem eternizar no poder – muitas vezes utilizando a violência e a fraude –
só temos um recado a dar: Estamo-nos a organizar e a estruturar, para
proporcionarmos ao nosso povo condições de vida mais dignas, mais justas.
37. O nosso partido
funda as suas raízes no humanismo e o progresso. É um partido virado para o
futuro, e pretende dar satisfação aos mais profundos anseios dos angolanos.
38. Nós recusamos o
projecto daqueles que, colocados no poder, transformaram um partido com
história numa espécie de empresa em que os dirigentes passaram a funcionar como
o seu Conselho de Administração, para maximizar os rendimentos e distribuir os
dividendos entre si (na sua parte de leão…) e algumas migalhas aos restantes
accionistas. É por isso que perderam a alma e deixaram de ter respeito por
todos quantos consentiram suor e lágrimas para transformar a pátria oprimida
numa pátria realmente libertada.
39. Chegou a hora
de dizermos basta à delapidação dos nossos recursos, ao açambarcamento, ao
nepotismo, ao tráfico de influências, ao roubo descarado do património do
Estado. Para nós, quem quer ser rico, que trabalhe, que se empenhe, que se esforce.
Nós não pactuaremos com sanguessugas”…
Pelos vistos tinha
muitas motivações na “luta contra o ditador”, ainda que para isso tivesse que
subverter o entendimento sobre a história dum país que sofreu a “guerra dos
diamantes de sangue” e foi obrigada a travá-la, ainda que ela fosse uma guerra
ilegítima provocada por interesses que eu não tenho deixado de identificar como
elitistas e conformam o comportamento do cartel dos diamantes, do “lobby” dos
minerais, do “lobby” do petróleo e do carácter dos estados instrumentalizados,
entre eles o dos Estados Unidos e o sul africano, neste caso quer com o “apartheid”,
quer durante os governos liderados sobretudo por Nelson Mandela e Thabo M’Beki!
Justino Pinto de
Andrade tem procurado cultivar audiências e, se não tirou assim tanto proveito
delas, “abriu caminho” a outras “sensibilidades” de forma “automática”… foi
fácil actuar nesse sentido “no terreno”!
Os ensinamentos
recolhidos no laboratório de Cuba, que têm recebido uma resposta digna e
inteligente por parte da revolução cubana no que toca ao alvo que por
ingerência norte americana constitui a sociedade cubana, em Angola começam a
frutificar, uma vez que os ambientes sócio-políticos de África são muito mais
vulneráveis e o poder é de outro cariz!
Em Cuba não
conseguiram bloquear psico, emocional e politicamente a sociedade cubana, mas
em Angola estão pelo menos a conseguir condicionar desde já a sociedade
angolana, por tabela alguns sectores do próprio MPLA e a prova está no recente
processo sócio-político com expressão nas próprias eleições!
Desde a proclamação
do Bloco Democrático a 30 de Dezembro de 2010 em Benguela que a estratégia de
tensão começou a ser instalada em Angola, envolvendo a mobilização duma
coligação tácita de sensibilidades políticas, sociais e, como não podia deixar
de ser, os “media independentes” que vão desde a Voice of America, ao Folha 8,
ao Angolense, ao Maka Angola…
Para os “activistas
jornalistas” envolvidos na “encomenda” estimulada pelos Estados Unidos em sua
ainda curta nova fase de ingerências em Angola à maneira da “inteligência” da
administração democrata de Barack Hussein Obama, não é preciso que as notícias
fabricadas sejam muito verídicas… o que interessa é que elas sejam oportunas, “bombásticas”,
apelem às emoções, esqueçam a história e sobretudo alinhem na “mudança
dialéctica” com vista a pelo menos instalar a “alternância política” de maior
conveniência, a coberto dos direitos humanos, a coberto da “luta contra a
corrupção” e sempre contra a “ditadura do MPLA”… conformes aos interesses da
hegemonia do império!
Justino Pinto de
Andrade teve uma boa aprendizagem em preparação dessa trilha: Open Society,
professor universitário da Universidade Católica, “activista jornalista” na
Rádio Eclésia, promotor de “rappers” que se auto intitulam de “revolucionários”…
A Igreja Católica,
ou pelo menos alguns sectores dela, serviu (e serve) “humildemente” aos
interesses das ingerências norte americanas ao dar guarida aos agenciados do
seu percurso em Angola e em 2003 não se sabia de facto, em relação a Cabinda,
onde começava e onde acabava a Igreja Católica com o padre Congo à cabeça, a “Open
Society” e as correntes com maior cobertura mediática da FLEC, conforme artigo
que na altura coloquei no desaparecido semanário Actual.
Foi em Benguela que
o Bloco Democrático foi oficialmente proclamado a 30 de Dezembro de 2010 e na
altura estavam em plena gestação as “primaveras árabes” do norte de África:
Tunísia, Líbia e Egipto, em cadeia.
Nelas ressoavam os “slogans”
mil vezes enunciados da “luta contra os ditadores” Ben Ali, Kadafi e Moubarak,
gente identificada ou mais ou menos intimamente associada nos últimos 20 anos
com os Estados Unidos, a Grã Bretanha ou a França e que via chegada a sua hora!
Havia que apeá-los
em nome da “mudança dialéctica” mais ou menos discretamente controlada pelo
AFRICOM e pela NATO, para os neo conservadores hastearem suas bandeiras, que
nem a do rei Idris na Líbia, por exemplo!
Nenhum deles teve
percurso resultante dum movimento de libertação ao nível dum MPLA, mas Justino
Pinto de Andrade, obediente ao esquecimento da história, pela sua “reinterpretação”,
fiel ao filósofo Karl Popper com todos os recursos do “especu-tropo” George
Soros e dos que o integram nas ingerências norte americanas (recordo a CIA, a NED,
ou a USAID) recorre, à maneira das conveniências do império, à “luta contra os
32 anos de ditadura de JES”!
A página de Junho
de 2012 do Bloco Democrático em Benguela, resume bem ainda hoje as linhas de
força do “activismo” dos dois anos dessa formação política; constate-se os
títulos:
- Fraccionismo:
Antecedentes - Isomar Pedro Gomes;
- Marcolino Moco
Condena Demolições no Lubango e Apresenta Memorando em Luanda;
- Bloco Democrático
denúncia que os seus comunicados não passam na TPA, RNA, no Jornal de Angola e
na ANGOP;
- Luaty Beirão o
também Ikonoklasta em liberdade”.
Uma das
preocupações evidentes do Bloco Democrático, de acordo com o seu blog em
Benguela, é mesmo mobilizar a seu favor a comunidade de antigos combatentes que
integra membros do ex-Ministério da Segurança do Estado, que foram esquecidos
na sua passagem à disponibilidade e reforma desde 1992, um assunto que o estado
angolano antes das eleições assumiu tratar (está em fase inicial esse
tratamento, mas está em curso)!
Como, segundo
consta, quer Francisco Viena (Delegado do Bloco em Benguela), quer o
articulista Isomar Pedro Gomes, são reportados como membros do ex-Ministério da
Segurança do Estado, pelo que é evidente que uma das “orientações” no âmbito da
estratégia de tensão dos norte americanos em Angola é captar para a causa da “primavera
em Angola” membros da comunidade de antigos combatentes e da comunidade de
inteligência, como se não tivesse de ser o MPLA a encarregar o estado angolano
a assumir o papel que lhe compete e de acordo com as normativas dos acordos que
foram estabelecidos com vista à instauração da “democracia representativa que
estamos com ela”, para o âmbito dos antigos combatentes e veteranos da pátria,
inclusive em função das razões históricas intrínsecas ao próprio MPLA!
Desse modo o Bloco
Democrático sob orientação de Justino Pinto de Andrade procura atrair para os
processos de inteligência dos norte americanos, o que compete ao estado
angolano fazer, o que evidencia até onde chegou a ingerência a tocar as raias
de subversão e o “modos operandi” dessa ingerência, a fim de instalar os processos
de “mudança dialéctica” conformes ao que tem sido estimulado pela administração
democrata de Barack Hussein Obama!
Esquecem-se que a
esmagadora maioria dos membros dessa comunidade que o Bloco Democrático tem
como alvo, mesmo fazendo travessias no deserto de mais de 25 anos, são fieis à
origem do MPLA, são hoje seus membros consequentes (e não oportunistas de
última hora), participaram muitos deles no parto sangrento da independência,
participaram na luta contra o colonialismo, na luta contra o “apartheid”, na
luta contra as suas sequelas, assumem a luta pela revitalização do socialismo
em Angola nos termos possíveis para o século XXI e de acordo com a perspectiva
do sentido de vida que eu próprio, a título de exemplo, tenho assumido e
sobretudo, aprenderam a não ser mercenários, muito menos corruptos, ou produtos
manipuláveis por ideólogos ao estilo dum Karl Popper, ou dum “especu-tropo” que
nem George Soros, muito menos por agências como o BD (ou seus “pares”
candidatos à “revolução colorida”), por mais pintadas de verde, de amarelo, ou
de vermelho e verde que estejam!
No MPLA há muitos
que não alinham, nem perfilham “jogos africanos” da natureza dos que o
capitalismo neo liberal pretende injectar, nem se deixam arrastar pelas
filosofias do “liberalismo democrático”, por muito persuasivas ou poderosas que
elas sejam, por que avaliam e sabem na universidade da sua própria vida, o peso
específico histórico do movimento de libertação em África, os resgates que há
que realizar sobre as ruínas que advêm desde os tempos da escravatura imposta
aos africanos e afro-descendentes e as responsabilidades que ocorrem hoje no
que diz respeito para com a própria vida tal qual ela é conhecida no planeta!
O projecto de
transformar Benguela em Benghazi, não passa por esses antigos combatentes e
veteranos da pátria!
Angola tem todo um
imenso trabalho de unidade nacional, de identidade nacional, de reconciliação,
de reconstrução e de paz a cultivar e isso implica em desde já evidenciar e
expor à opinião pública aqueles que, por ambição pessoal e agenciamento, querem
instaurar nos paralelos da África Austral uma “primavera árabe” ao sabor da
subversão ao estilo do AFRICOM e da NATO, ao serviço da hegemonia do império e
do neo colonialismo em África!
Entre os “sinais
controversos” , há com cada “dama de branco”!... esta é de verde!
Gravura: Justino Pinto de
Andrade e o logo do Bloco Democrático – “déjà vu”!
A consultar:
- África atravessa
a pior fase da sua história – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/05/africa-atravessa-pior-fase-da-sua.html
- Crises no
continente acentuam clivagens – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/4/21/Crises-continente-acentuam-clivagens-secretaria-Estado-para-Cooperacao,397cad0c-ace6-4315-94fe-00edd6ba6d9d.html
- A estratégia de
tensão – http://www.pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2273:a-estrategia-de-tensao-o-terrorismo-nao-reinvidicado-da-otan&catid=43:imperialismo
- THE SPECTER OF AL
QAEDA IN AFRICA: A Cover for Western Reconquest of the Continent – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=30151
- USAFRICOM –
Research – http://www.africom.mil/research.asp
- USAFRICOM –
Posture Statement 2011 – http://www.africom.mil/pdfFiles/2011PostureStatement.pdf
- USAFRICOM –
Posture Statement 2012 – http://www.africom.mil/fetchBinary.asp?pdfID=20120301102747
- A Doutrina
Rumsfeld – http://hablandorepublica.blogspot.com/2012/03/la-doctrina-rumsfeld-alta-tecnologia-y.html
- La penetración de
los Estados Unidos en el África Subsahariana – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=29423
- Comandante do
AFRICOM efetua visita de trabalho de horas a Angola –
- Colour revolution
– Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Colour_revolution
- Primaveras árabes
– Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Arab_Spring
- Kefaya –
Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Kefaya
- Angola tem novo
partido político – http://www.angolaresistente.net/2010/07/08/angola-tem-novo-partido-politico-o-bloco-democratico-bd/
- Discurso de
Benguela – http://www.angolaresistente.net/2010/12/30/discurso-de-benguela-conselho-nacional-do-bloco-democratico-justino-pinto-de-andrade-28122010/
- Bloco Democrático
Benguela – http://blocodemocraticobenguela.blogspot.com/
- Bloco democrático
pretende ser alternativa ao MPLA – http://www.opais.net/pt/opais/?id=1929&det=17051&mid=
- Bloco Democrático
alinha pelo diapasão da UNITA – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/accao-de-limpeza-bloco-democratico.html
- Angola diz basta!
– http://www.angola24horas.com/index.php?option=com_content&view=article&id=3913:angola-diz-basta&catid=23:angola24horas&Itemid=34
- O estado da nação
– http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/o-estado-da-nacao-o-rap-que-incomoda-o.html
- Com morte de
Kadafi, presidente de Angola vira africano há mais tempo no poder – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/com-morte-de-kadafi-presidente-de.html
- Bloco democrático
exige demissão de Governador de Benguela – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/angola-bloco-democratico-exige-demissao.html
- Democracia sem o
mito das primaveras árabes – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/08/democracia-sem-o-mito-das-primaveras.html
- Damas de branco –
Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Damas_de_Branco
- Protege la
policía cubana marcha de mujeres opositoras al gobierno – http://www.jornada.unam.mx/2010/03/19/index.php?article=024n1mun§ion=mundo
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1 comentário:
Cheira a CIA que trezanda .
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