sábado, 17 de dezembro de 2016

A CAMPANHA DA OTAN CONTRA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO


Thierry Meyssan*

Esta é uma história que se prolonga por quinze anos. Primeiro a Otan tentou reduzir ao silêncio os cidadãos que procuravam saber a verdade sobre os atentados do 11-de-Setembro. Depois, atirou-se aqueles que contestavam a versão oficial das «primaveras árabes» e da guerra contra a Síria. De enfiada, ela atacou aqueles que denunciavam o golpe de Estado na Ucrânia. Agora a Otan vêm acusar, através de uma pseudo-ONG, aqueles que fizeram campanha por Donald Trump de serem agentes russos.

Os atentados de 11 de Setembro de 2001 foram seguidos, ao mesmo tempo, por um Estado de Emergência permanente e por uma série de guerras. Como eu escrevia à época, a teoria segundo a qual eles teriam sido comanditados por jiadistas desde uma caverna afegã não resiste a uma análise mínima. Tudo leva a pensar que foram, pelo contrário, organizados por uma facção do complexo militar-industrial.

Estando esta análise certa, a sequência dos acontecimentos só podia conduzir a uma repressão nos Estados Unidos e nos Estados Aliados.

Quinze anos mais tarde a ferida que eu abri ainda não fechou de vez, muito pelo contrário devido aos eventos que se seguiram. Ao Patriot Act e às guerras do petróleo acabam de se juntar as «primavera árabes». Não só a maioria da população norte-americana não acredita mais no que diz o seu governo desde o 11/09 como, ao votar por Donald Trump, ela acaba de exprimir a sua rejeição do Sistema post 11-de-Setembro.

Acontece que eu lancei, a nível mundial, o debate sobre o 11/09, que eu fiz parte do último governo da Jamahiriya Árabe Líbia e que relato a partir do terreno a guerra contra a Síria. Inicialmente, a administração dos EUA acreditou poder apagar o incêndio acusando-me de escrever fosse o que fosse apenas para ganhar dinheiro, e atingindo-me no sítio onde segundo ela dói mais, ou seja na carteira. Ora, as minhas opiniões não pararam de se espalhar. Em Outubro de 2004, quando 100 personalidades Norte-americanas assinaram uma petição reclamando a reabertura da investigação sobre os atentados do 11/9, Washington começou a ficar assustada [1]. Em 2005, eu reuni em Bruxelas mais de 150 personalidades do mundo inteiro —entre os quais convidados sírios e russos, como o antigo chefe de Estado-maior das Forças Armadas da Federação, o General Leonid Ivashov— para denunciar os neo-conservadores mostrando que o problema se tornava global [2].

Se durante o mandato de Jacques Chirac, o Eliseu se preocupava com a minha segurança, em 2007 a administração Bush pediu ao recém-eleito Nicolas Sarkozy para me eliminar fisicamente. Assim que eu fui avisado da sua resposta positiva, por um amigo oficial do Estado-maior, apenas me restava um único caminho: o exílio. Os outros meus amigos — eu era há 13 anos Secretário-nacional do Partido Radical de Esquerda— encararam-me com incredulidade, enquanto a imprensa me acusava de mergulhar na paranóia. Ninguém veio, publicamente, em meu socorro. Encontrei refúgio na Síria e tenho percorrido o mundo, fora da zona da OTAN, escapando a numerosas tentativas de assassinato ou de rapto. Nos últimos quinze anos, abri debates que se generalizaram. Sempre fui atacado quando estava sozinho, mas, a partir do momento em que as minhas ideias foram partilhadas, já passaram a ser milhares as pessoas que têm sido perseguidas por as terem repetido e desenvolvido.

Foi por essa altura que Cass Sunstein (o marido da embaixatriz dos Estados Unidos na ONU, Samantha Power [3]) redigiu, com Adrian Vermeule, para as Universidades de Chicago e Harvard, um memorando para lutar contra as «teorias da conspiração» —é assim que eles chamam ao movimento que eu iniciei—. Em nome da defesa da «Liberdade» face ao extremismo os autores definem, nele, um programa para aniquilar esta oposição:

«Podemos facilmente imaginar uma série de respostas possíveis. 

- 1. o governo pode interditar as teorias da conspiração.
- 2. o governo poderia impor uma espécie de taxa, financeira ou outra, sobre os que difundem tais teorias.
- 3. o governo poderia empenhar-se num contra-discurso para desacreditar as teorias de complô.
- 4. o governo poderia chamar partes privadas credíveis a implicar-se num contra-discurso.
- 5. o governo poderia envolver-se na comunicação informal com terceiras partes e encorajá-las» [4].

A administração Obama hesitou em escolher publicamente esta via. Mas, em Abril de 2009, ela propôs à Cimeira da OTAN, em Estrasburgo-Kehl, criar um serviço de «Comunicação estratégica». Ao mesmo tempo, em 2009, despediu Anthony Jones da Casa Branca porque o célebre advogado falou abertamente sobre o assunto [5].

O projecto de Serviço de comunicação estratégica da OTAN fica na gaveta até que o Governo letão o apoia. Ele foi finalmente instalado em Riga, sob a direção de Janis Karklinš —também responsável na ONU pela Cimeira Mundial sobre a sociedade de Informação e do Fórum sobre a governança da Internet—. Concebido pelos Britânicos, inclui as participações da Alemanha, da Estónia, da Itália, do Luxemburgo, da Polónia e do Reino Unido. No início, contenta-se apenas em multiplicar estudos.

Tudo mudou em 2014, quando o “think-tank” da família Khodorkovsky, o Institut of Modern Russia (Instituto da Rússia Moderna) em Nova Iorque, publicou uma análise dos jornalistas Peter Pomerantsev e Michael Weiss [6]. De acordo com o seu relatório, a Rússia teria implantado um vasto sistema de propaganda no estrangeiro. No entanto, mais do que se apresentar sob uma luz favorável, como durante a Guerra Fria, Moscovo teria decidido inundar o Ocidente com «teorias da conspiração» de maneira a criar confusão geral. E, os autores especificando que essas «teorias» não dizem respeito apenas ao 11-de-Setembro mas, também, à cobertura da guerra contra a Síria.

Procurando reactivar o anti-sovietismo da Guerra Fria, este relatório marcou uma mudança de valores. Até agora, a classe dirigente dos EU buscava apenas mascarar o crime do 11-de-Setembro acusando, para tal, alguns barbudos sem importância. Agora, tratava-se de acusar um Estado estrangeiro de ser responsável pelos novos crimes que Washington tinha cometido na Síria.

Em Setembro de 2014, o governo britânico criou a 77ª Brigada; uma unidade encarregada de contrariar a propaganda estrangeira. Ela consta de 440 militares e mais de um milhar de civis vindos do Foreign Office (Ministério dos Estrangeiros), incluindo o MI6, da Cooperação e da Stabilisation Unit. Ignora-se quais são as suas metas. Esta brigada trabalha com a 361ª Civil Affairs Brigade do Exército terrestre norte-americano (sediada na Alemanha e na Itália). Estas unidades militares foram utilizadas para perturbar os sítios Internet ocidentais tentando restabelecer a verdade tanto sobre o 11-de-Setembro como sobre a guerra contra a Síria.

No início de 2015, Anne Applebaum (a esposa do antigo ministro da Defesa polaco Radosław Sikorski) cria no seio do Center for European Policy Analysis(Centro para Análise da Política Europeia), de Washington, uma unidade chamada Information Warfare Initiative (Iniciativa para Guerra de Informação) [7]. Tratava-se originalmente de contrariar a informação russa na Europa central e oriental. Ela confia esta iniciativa a Peter Pomerantsev (já citado) e a Edward Lucas, um dos redactores-chefe do The Economist.

Muito embora Pomerantsev seja, ao mesmo tempo, co-relator do Institute of Modern Russia e o co-reponsável da Information Warfare Initiative não apresenta, mais, a mínima referência ao 11-de-Setembro, e não considera também mais a guerra contra a Síria como central, mas, apenas como um tema recorrente permitindo especular sobre a ação do Kremlin. Ele concentra os seus ataques sobre o canal de TV Russia Today e sobre a agência de notícias Sputnik; dois órgãos públicos russos.

Em Fevereiro de 2015, o “think-tank” do Partido Socialista francês e contacto do National Endowment for Democracy (NED), a Fundação Jean-Jaurès, publica por sua vez uma Nota chamada Conspirationnisme, un état des lieux [8]. Ignora os desenvolvimentos sobre a Rússia e retoma o debate onde Cass Sunstein o tinha deixado. Ela preconiza pura e simplesmente interditar os «conspiracionistas» de se exprimirem. Por seu lado, o Ministro da Educação organizou cursos nas escolas para pôr os alunos em alerta contra os «conspiracionistas».

A 19 e 20 de Março de 2015, o Conselho Europeu solicitava à Alta-Comissária Federica Mogherini para preparar um plano de «comunicação estratégica» afim de denunciar as campanhas de desinformação da Rússia quanto à Ucrânia. O Conselho não mencionava nem o 11-de-Setembro, nem a guerra contra a Síria, e mudava de alvo para visar unicamente os acontecimentos na Ucrânia.

Em Abril de 2015, a Srª Mogherini criou no seio do Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE), uma unidade de Comunicações Estratégicas [9]. Ela é dirigida por um agente do MI6 britânico, Giles Portman. Ela distribui a inúmeros jornalistas europeus, duas vezes por semana, textos de argumentação pretendendo demonstrar a má-fé de Moscovo; argumentações que alimentam abundantemente os média (mídia-br) europeus.

Desde a sua criação, o Centro de Comunicação Estratégica da OTAN adicionou um serviço do Atlantic Council, o Digital Forensics Research Lab. Um Manual de comunicação estratégica foi redigido pela OTAN. Ele visa coordenar e substituir todo o conjunto anterior em matéria de Diplomacia pública, de Relações públicas (Public Affairs), de Relações públicas militares, de Operações sobre os sistemas electrónicos de comunicação (Information Operations) e de Operações psicológicas.

Inspirada pela OTAN, a antiga Ministro dos Negócios Estrangeiros polaca tornada Deputada europeia, Anna Fotyga, fez adoptar pelo Parlamento Europeu, a 23 de Novembro de 2016, uma Resolução sobre «a comunicação estratégica da União visando combater a propaganda dirigida contra ela por parte de terceiros» [10]. De novo, o alvo é desviado: não se trata de contrariar o discurso sobre o 11/9 (velho de 15 anos), nem o da guerra contra a Síria, mas, antes de criar uma amálgama entre o discurso de contestação dos eventos ucranianos e o do Daesh (EI). Nisto volta-se ao início: aqueles que contestavam o 11/09 visavam segundo a OTAN reabilitar a Al-Qaida, aqueles que fazem o jogo da Rússia visam destruir o Ocidente tal como o Daesh (EI). E, tanto faz quando a OTAN apoia a Al-Qaida em Alepo-Leste.

Lançado por um retumbante artigo do Washington Post, a 24 de Novembro de 2016 [11], um misteriosos grupo Propaganda or Not? (Propaganda ou Não?-ndT) estabeleceu uma lista de 200 sítios Internet —entre os quais Voltairenet.org— pretensamente encarregados pelo Kremlin de espalhar a propaganda russa, e de intoxicar a opinião pública norte-americana ao ponto de a ter condicionado a votar Trump.

Muito embora a Propaganda or Not? Não publique os nomes dos seus responsáveis, ela indica juntar quatro organizações : Polygraph, The Interpreter, o Center for European Policy Analysis e o Digital Forensic Research Lab. 

- O Polygraph é um sítio da Voice of America (Voz da América-ndT), a rádio e televisão pública norte-americana controlada pelo Broadcasting Board of Governors.
- O The Interpreter é a revista do Institute of Modern Russia, agora difundida pela Voice of America.
style='font-variant-ligatures: normal;font-variant-caps: normal;orphans: 2; text-align:start;widows: 2;-webkit-text-stroke-width: 0px;word-spacing:0px' alt=- class=puce v:shapes="_x0000_i1032"> O Center for European Policy Analysis é um pseudópode da National Endowment for Democracy (NED) dirigida por Zbigniew Brzeziński e Madeleine Albright.
- Finalmente o Digital Forensics Research Lab é um programa do Atlantic Council.

Num documento difundido pela Propaganda or Not?, esta pseudo-ONG, saída de associações financiadas pela administração Obama, nomeia o inimigo: a Rússia. Ela acusa-a de estar na origem do Movimento pela Verdade do 11/9 e dos sítios Internet de apoio à Síria e à Crimeia.

O Congresso dos Estados Unidos votou, a 2 de Dezembro de 2016, uma lei interditando toda a cooperação militar entre Washington e Moscovo. Em poucos anos, a OTAN reactivou o macarthismo.


*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Documentos anexados
Complaint Voltaire Network International vs Prop or Not ?(Queixa da Rede Voltaire Internacional vs Prop ou Não?)
 - Plainte déposée devant l’Inspecteur général du département d’Etat. Réseau Voltaire International, 2 décembre 2016 - (PDF - 43.4 kb)

Notas
[1] « 100 personnalités contestent la version officielle du 11 septembre » («100 personalidades contestam a versão oficial do 11-de-Setembro»- ndT), Réseau Voltaire, 26 octobre 2004.
[2] «Axis for Peace», Réseau Voltaire.
[3] “A face escondida da Administração Obama”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 11 de Novembro de 2015.
[4] « Conspiracy Theories » («Teorias da Conspiração»- ndT), Cass R. Sunstein & Adrian Vermeule, Harvard Law School, January 15, 2008.
[5] « 11-Septembre : Obama congédie un de ses conseillers », Réseau Voltaire, 8 septembre 2009.
[6] «The Menace of Unreality: How the Kremlin Weaponizes Information, Culture and Money» («A Ameaça da Fantasia : Como o Kremlin Manipula a Informação, Cultura e Dinheiro»- ndT), Peter Pomerantsev & Michael Weiss, The Interpreter/ Institute of Modern Russia, 2014.
[7] Information Warfare Initiative, site officiel.
[8] “O Estado contra a República”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Março de 2015.
[9] “A propaganda da União Europeia contra a Rússia”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Julho de 2016.
[10] “European Parliament Resolution on EU strategic communication to counteract propaganda against it by third parties” (“Resolução do Parlamento europeu sobre a Comunicação estratégica da UE para enfrentar a propaganda dirigida contra ela por terceiros”-ndT), Voltaire Network, 23 November 2016.
[11] “Russian Propaganda Effort Helped Spread ’Fake News’ During the Election, Experts Say” ”(«O Esforço de Propaganda Russo Ajudou a Espalhar “Notícias Fabricadas” Durante as Eleições, Peritos Afirmam»- ndT), Craig Timberg, The Washington Post, November 24, 2016.

Foto: Logo do Centro de comunicação estratégica da Otan

MPLA 60 ANOS DE LUTA E DE VITÓRIAS!



O camarada Vice-Presidente do MPLA, João Lourenço, em representação do camarada Presidente José Eduardo dos Santos, fez uma intervenção para as dezenas de milhar de militantes, simpatizantes e amigos do MPLA que estavam no Estádio 11 de Novembro, com audição em todo o país e a nível internacional, que relembrou a história do MPLA e o seu papel inserido na história contemporânea de Angola, os desafios do presente e do futuro, sempre num tom pedagógico que se inscreve nos propósitos a curto prazo, no que estará em aberto em 2017, ano de eleições gerais em Angola.

Num estádio onde imperava uma canícula de mais de 40º ao nível do terreno de jogo (onde estava a tribuna e onde se sentavam os convidados ao ato), ficou bem patente a força do MPLA, que em paz, com harmonia, unidade e coesão, está apostado em levar por diante a luta contra o subdesenvolvimento, confirmando sua prontidão para nesse longo percurso trazer benefícios para todo o povo angolano, fiel aos seus compromissos que o animam desde a sua formação há 60 anos!

Palavras de ordem como "na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul, está a continuação da nossa Luta", ou "o mais importante é resolver os problemas do povo", foram marcando a intervenção do camarada João Lourenço, que lembrou os esforços de solidariedade e de internacionalismo que se juntaram ao MPA e a Angola, para garantir independência e soberania, ampliando os esforços progressistas comuns por toda a África Austral e por toda a África.

Logicamente que o exemplo de Cuba revolucionária e do seu povo, sob a direção do Comandante Fidel, tiveram o seu espaço no discurso, pois os amigos das horas mais difíceis, que vieram irmãmente ajudar sem nada pedir em troca, sem riqueza alguma pedir em troca, aqueles que em consciência afirmam e na prática confirmam que Pátria é Humanidade, teve um lugar destacado na memória histórica que foi evocada...

O MPLA insiste com toda a legitimidade histórica, na identidade para com todo o povo angolano inscrevendo sua ação na lógica com sentido de vida, reconstruindo, reconciliando e reinserindo socialmente, mostrando-se disposto a com sua filosofia de libertação, com sua vontade histórica, com um melhor sentido de justiça social, independentemente das velocidades da trilha nacional, que não está isolada das conjunturas globais correntes.

O MPLA está consciente que nos trópicos não há "primaveras" conformadas a outros climas, nem vontades cujas correntes nascem fora do espaço nacional segundo agendas que ao patriotismo dizem nada, sopradas por outros ventos e iluminadas por outros propósitos que, se antes se inscreveram no choque neoliberal, se inscrevem hoje numa terapia que nada tem a ver com o renascimento que agora é mais possível que nunca, para Angola e para África!

SE NÃO FOR O MPLA A LEVAR POR DIANTE A LIBERTAÇÃO DE TODO O POVO ANGOLANO, PERSEGUINDO UMA LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA, QUE INSTITUIÇÃO SÓCIO-POLÍTICA ANGOLANA ESTÁ EM CONDIÇÕES DE O FAZER?...

A Luta Continua

A Vitória é Certa! 

Foto: O camarada Vice-Presidente do MPLA, João Lourenço, durante sua intervenção no Estádio 11 de Novembro, em Luanda.

O ANO EM QUE O GLOBALISMO ESTOUROU


Pål Steigan [*]

Pontos de viragem históricos são muitas vezes difíceis de verificar no momento em que acontecem. Normalmente somos capazes de vê-los mais claramente em retrospetiva. Não obstante, atrevo-me a argumentar que 2016 foi o ano em que o globalismo estourou. Até agora, tanto apoiantes como opositores viam o projeto globalista como algo que avançava inexoravelmente ao longo de seu percurso predeterminado, deixando toda a oposição de lado. Mas o globalismo não é apenas uma orientação política. Primeiro e acima de tudo, é a natureza do capitalismo atual. É global. As transnacionais conquistam o mundo, submetendo as nações e os povos sob a sua engrenagem poderosa como um rolo compressor.

Não há nenhum bom funcionamento 

Como sempre no passado, o facto de a história nunca ocorrer de forma suave e regular está novamente a ser confirmado. A tentativa do capitalismo de subjugar o mundo inteiro é uma tendência objetiva. Corresponde à necessidade inerente ao capital para uma acumulação sem limites. E como Karl Marx e Friedrich Engelsescreveram no Manifesto Comunista: "os preços baixos tornam-se a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China".

Neste sentido, é irresistível. Como Marx e Engels também escreviam, a burguesia é uma reminiscência do "feiticeiro que já não é capaz de controlar os poderes ocultos que evoca. Desde há décadas, a história da indústria e do comércio tem sido a história da rebelião das forças de produção da era moderna contra as condições de produção da era moderna."

Assim, o globalismo enfrenta os conflitos criados pelo próprio capitalismo, e que não é capaz de resolver, levando às crises e ao caos. A repressão, fortalecendo a luta de classes, é uma das consequências. Mas o próprio capitalismo não evolui estavelmente. Alguns Estados capitalistas mantêm-se de pé, enquanto outros se afundam, e os seus mútuos conflitos já levaram a duas guerras mundiais e inúmeras outras guerras e conflitos.

Particularmente agora, quando vários dos principais países capitalistas entraram numa recessão duradoura, até mesmo depressão, conflitos violentos irão necessariamente a ocorrer. Quando os tempos estão difíceis, mesmo o melhor dos amigos pode tornar-se inimigo. Esses conflitos são questões de vida e morte, nada menos. Não passou muito tempo desde que Barack Obama em 2014 fez um discurso onde falou sobre uma futura nova ordem mundial:

"(…) parte da preocupação das pessoas é apenas no sentido de que o mundo não está suportando a velha ordem e ainda que não estejamos seguros de para onde necessitamos ir em termos de uma nova ordem baseada num diferente conjunto de princípios, como um senso de humanidade comum, baseado em economias que funcionem para todas as pessoas."

Os EUA quase tiveram êxito 

Após o colapso da União Soviética, os EUA têm sido de facto o único poder supremo e esta posição tem sido explorada nas suas tentativas de dominar o resto do mundo. Isso tem sido feito através de acordos de comércio assimétricos, favorecendo os grandes grupos capitalistas dos EUA. E, não menos importante, tem sido feito através de guerras, golpes de Estado, assassinatos, ameaças e subornos. Também usaram o seu sobrevalorizado dólar, como um martelo pilão contra todos os outros. A artilharia ligeira nesta batalha tem sido os media dominados pelos EUA e o seu objetivo altamente bem sucedido de controlar a mentalidade dos povos e as formas de atuação dos políticos.

Os EUA levaram guerras ao Afeganistão, Jugoslávia, Somália, Iraque, Iêmen, Líbia e Síria, desencadearam um golpe de Estado na Ucrânia e asseguraram mudanças de regime, em muitos outros países. Na África, os Estados Unidos realizam dezenas de operações militares todos os anos garantindo o controlo para os seus principais grupos capitalistas. Os EUA deram um passo gigante na destruição e pilhagem da Rússia durante a presidência de Boris Yeltsin. Os EUA também subjugaram quase completamente a Europa reduzindo as antigas potências coloniais do velho mundo, como Alemanha, França e Reino Unido, à condição de vassalos.

Batendo contra a parede 

Sem oficialmente tornar esta questão um grande problema, a China aproveitou os benefícios da globalização para a construir uma indústria que se tornou a fábrica do mundo e sistematicamente desenvolver as suas infraestruturas, a investigação, a ciência e tecnologia para garantir que a China não permanecesse uma nação exportadora de segunda classe. Isso aconteceu parcialmente com elevados investimentos das empresas dos EUA. As relações de comércio assimétrico entre os EUA e a China têm surgido devido à necessidade inerente ao capital dos EUA de bens baratos, mas criou um sistema econômico que implacavelmente reforça a China à custa dos EUA.

Os EUA aprenderam dolorosamente que a competição global não é um jogo para apenas um único ganhar. O lema de Donald Trump "fazer de novo a América grande" ("Make America Great Again") é uma desesperada admissão que os EUA perderam o seu próprio jogo.

Além disto, os EUA fracassaram em todas as suas guerras. A guerra do Afeganistão, para a qual ainda não se vê um fim, é a mais prolongada na história dos EUA. E o custo é tremendo. Linda Bilmes, antiga CFO (Chief Financial Officer) do Departamento de Comercio dos EUA estimou que os custos diretos e indiretos totais das guerras no Iraque e no Afeganistão acabarão na faixa dos 4 a 6 milhões de milhões de dólares . Este cálculo foi publicado em Harvard.

Os EUA têm sido capazes de financiar a sua poderosa máquina de guerra com vendas de títulos do governo à China. Mas esta fonte agora seca rapidamente, à medida que a China se encontrar suficientemente forte e pronta para "desdolarizar" a economia global.

A guerra do Iraque foi um desastre que continua a produzir miséria. Com a Noruega a apoiar, os EUA destruíram a Líbia, mas a catástrofe deste país vai continuar a afectar grandemente a Europa, No final do verão de 2015, parecia que os exércitos de jihadistas dos EUA ganhariam a guerra na Síria, mas a Rússia interveio e os mais brilhantes estrategas dos EUA agora encaram a derrota.

Annus horribilis 

Em 2015, os cinco presidentes da UE apresentaram um plano para abolir as democracias nacionais nos Estados-membros da UE em 2025 . Se pudessem seguir a via que traçaram, a partir de 2025 os parlamentos nacionais dos Estados membros já não poderiam decidir sobre seus próprios orçamentos. Os cinco presidentes são o líder da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, o presidente da Cimeira da UE Donald Tusk , o Presidente do EurogrupoJeroen Dijsselbloem , o Presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi e presidente do Parlamento EuropeuMartin Schulz . Nenhum destes cavalheiros tem um mandato democrático, mas eles emitem diretivas e regulamentos para 500 milhões de pessoas que então têm de respeitá-los.

Porém, 18 meses depois podemos indiscutivelmente determinar, que isso não vai ser assim. Como sabemos a UE já não existe. A UE não é uma " união cada vez mais unida" , citando a formulação otimista de tratados. É antes o que afirma um sarcástico comentário do The Economist, "uma união sempre mais distante" .

E assim os acontecimentos ocorrem uns após outros. Alguns países revoltam-se contra a política migratória da UE, uma política que não tem o apoio da maioria dos eleitores em nenhum país, tendendo assim a estourar mais cedo ou mais tarde.

A mudança mais crucial ocorreu com o Brexit. A resolução britânica de retirada da UE abriu a válvula de escape para a saída da UE. Se adicionarmos a derrota do TPP (Parceria Transpacífica) e TTIP (Parceria de Comércio e de Investimento Transatlântica), temos a extensão dos problemas que os globalistas enfrentam justamente em 2016.

Outras tensões sobre a coesão da União têm sido as políticas de guerra e as sanções contra a Rússia. São políticas em grande medida contrárias aos interesses objectivos dos Estados europeus, mas são mantidas apesar de forte resistência interna devido às imposições dos EUA.

O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi não foi eleito por ninguém. Alcançou a liderança do seu próprio partido e ocupa o cargo de primeiro-ministro, porque fez um acordo com Berlusconi: " eu coço as suas costas se você coçar as minhas ". Mas ele decidiu assemelhar-se a Cameron, propondo ao seu próprio povo um voto de confiança para obter a maioria através de emendas constitucionais. Contudo, colocou-se em risco de se tornar ainda mais parecido com Cameron do que gostaria de ser. O povo italiano não quer estas alterações e Renzi está em perigo de ter que engolir um grande murro no estômago ao pequeno-almoço – um murro que o fará ver cinco estrelas, pois Beppe Grillo e o seu movimento Cinco Estrelas estão à espera desta oportunidade.

Além disto, ao que parece as eleições presidenciais francesas vão ser entre dois candidatos ambos defensores da détente e cooperação com a Rússia. Um desafio completo à doutrina da NATO.

Perdendo na Síria e na Ucrânia 

Os EUA, o Ocidente, a Turquia e os Estados ditatoriais do petróleo financiam uma guerra de mercenários da Jihad para destruir a Síria. (o papel da Noruega tem sido financiar a componente mais ou menos civil da guerra e empenhar-se numa economia de guerra contra a Síria). A guerra esteve perto de sucesso visado pela NATO em 2015, mas agora verifica-se que os jihadistas e o Ocidente vão perder. Este é verdadeiramente um grande revés para os imperialistas neoconservadores e estabelece uma bifurcação de importância decisiva nas vias da política internacional.

Desde o verão de 2014 que os neocons dos EUA, tentaram fomentar uma guerra na Ucrânia. Em fevereiro de 2014, desencadearam o golpe da praça Maidan em Kiev, prometendo à população riqueza e sucesso. O que conseguiram foi guerra, pobreza, fascismo e um Estado falido. Mesmo que oficialmente responsáveis da NATO não se atrevam ainda a dize-lo, eles sabem que também esta guerra está perdida. E a bancarrota da Ucrânia será passada para os contribuintes da UE (e da Noruega).

Hillary Clinton e a derrota do Partido Democrático da guerra 

Donald Trump foi o candidato opositor que a campanha de Clinton desejava para ter certeza de eleger o seu próprio candidato impopular. Todos os grandes bancos e financeiros estavam na equipa de Clinton, Wall Street, a indústria de armamento, todos os meios de comunicação importantes. E todos eles estavam expectantes sobre Hillary Clinton para uma escalada da guerra na Síria e talvez atacar aí as forças armadas russas. Mas então eles perderam. Donald Trump é um demagogo de direita, reacionário, capitalista, mas aparentemente percebeu que a era dos EUA como "A nação indispensável" acabou.

Isto também é um golpe à lealdade dentro da NATO. Responsáveis europeus da NATO temem as consequências da perdar da proteção dos EUA. Envolveram-se pessoalmente em crimes de guerra, assegurando-se confiadamente que os EUA sempre os protegeriam e os manteriam longe dos tribunais internacionais. Agora já não podem ter tanta certeza disso. Se nada mais sair desta eleição nos Estados Unidos, pelo menos temos a hipótese de ver que espécie de patéticos vassalos são realmente os líderes europeus.

E a Turquia, que mantém o segundo maior exército da NATO, constituindo o vulnerável flanco sul da NATO, namora a ideia de aderir à Aliança da Eurásia na Organização de Cooperação de Xangai, em estreita ligação com a China e a Rússia.

A fábrica chinesa continua a girar sem ser ultrapassada 

Deng Xiaoping aconselhou os líderes do seu país a não serem visíveis na política internacional, para evitar atenção indesejada. Eles na realidade têm seguido este conselho. A economia da China é atualmente a fonte mais importante de crescimento que ainda existe no mundo, o país estabeleceu seu próprio banco de desenvolvimento, pretende construir uma nova "estrada da seda" (One Belt, One Road) e aí investir centenas de milhares de milhões de dólares. Se nenhuma grande guerra eclodir, a economia da China será maior do que a economia dos EUA em valores absolutos daqui até 2020. Nessa altura, a China também terá ultrapassado largamente os Estados Unidos como uma nação de pesquisa e desenvolvimento. A China é já o maior parceiro comercial e o maior investidor em grande número de países que têm sido tradicionalmente aliados da América.

Bem antes dos destaques deste ano, podemos já estabelecer 2016 como um ano memorável. Para os globalistas, é o seu "Annus horribilis". Podemos constatar como isto terá um significado histórico em todo o mundo. De que forma permanece ainda desconhecido. Os EUA conduziram desde há muito uma guerra indireta contra seus "aliados", agora esses conflitos finalmente poderão romper à superfície e expor-se à plena luz do dia. Pode até haver uma situação de "todos contra todos". Velhas alianças irão desfazer-se e novas surgirão. Estas coisas raramente ocorrem de forma pacífica. Mas tempos de caos são também tempos de oportunidades. É mais fácil para os povos oprimidos lutar contra inimigos que estão divididos, do que com inimigos que permanecem unidos. 

[*] Escritor, norueguês.

O original encontra-se em steigan.no e a versão em inglês em www.informationclearinghouse.info/article45968.htm . Tradução de DVC.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
 

**COM GRAVURAS E MAPA NO ORIGINAL

VEJA SE É UM “CONSPIRACIONISTA”


José Goulão – AbrilAbril, opinião

Combater o «conspiracionismo», definido não apenas como atentado à democracia mas também como uma espécie de subproduto do terrorismo e da «ameaça russa», tornou-se um objectivo de estruturas de espionagem e propaganda criadas especificamente no âmbito da NATO, da União Europeia e do aparelho de poder norte-americano.

Ao contrário do que, inocentemente, poderá ainda pensar-se, zurzir alguém com a acusação de dar asas a «teorias da conspiração» não é um argumento banal de uma discussão de café, ou mesmo de salão ou de comentadores encartados com escasso jeito para lidar com opiniões diferentes.

No estado actual do mundo e das forças que o dominam numa amplitude que pretendem global, o «conspiracionismo» foi elevado a preocupação central das centrais de inteligência, ideológicas e de propaganda que abastecem o poder militar e de segurança, os governos e a comunicação social main stream com os fundamentos para as suas condutas.

Combater o «conspiracionismo», definido não apenas como atentado à democracia mas também como uma espécie de subproduto do terrorismo e da «ameaça russa», tornou-se um objectivo de estruturas de espionagem e propaganda criadas especificamente no âmbito da NATO, da União Europeia e do aparelho de poder norte-americano.

É o caso do Serviço de Comunicação Estratégica da NATO, instalado em Riga, na Letónia, com a participação da Alemanha, Estónia, Itália, Luxemburgo, Polónia e Reino Unido; e de uma unidade de Comunicação Estratégica criada no âmbito do Serviço Europeu de Acção Externa, dirigida pelo espião do MI6 britânico, Giles Portman, que distribui duas vezes por semana, a numerosos jornalistas europeus, o argumentário actualizado para demonstrar as malfeitorias de Moscovo.

O governo britânico criou uma brigada para contrariar «a propaganda estrangeira», que actua em coordenação com a 361.ª brigada de assuntos civis do exército de terra dos Estados Unidos, a funcionar na Alemanha e em Itália. Os Estados Unidos formaram uma unidade sobre a guerra da informação dentro do Centro para a Análise Política Europeia, entregue, entre outros, a Edward Lucas, um dos chefes de redacção do The Economist, como se sabe uma bíblia do main stream.

Entretanto, o Parlamento Europeu aprovou há um mês uma resolução sobre «A Comunicação Estratégica da União para combater a propaganda contra ela dirigida por terceiros»; na mesma ocasião, o Washington Post deu voz destacada a um grupo designado «Propaganda or Not», que publicou a lista de 200 websites acusados de estar «ao serviço do Kremlin» e da «propaganda russa» para intoxicar a opinião pública norte-americana e fazer eleger Trump, o que se harmoniza com as teses postas a circular pela CIA e o FBI sobre o papel de Moscovo nas eleições presidenciais norte-americanas; por seu turno, o Serviço de Comunicação Estratégica da NATO já elaborou um «Manual de comunicação estratégica» a adoptar pelos serviços da organização.

É fácil deduzir que este sistema capilar de espionagem, manipulação, intriga e delação também está vocacionado para ser uma antecâmara da perseguição e da criminalização dos cidadãos e entidades que sustentam e divulgam as supostas «teorias da conspiração»; isto é, as medidas tomadas como alegada defesa na guerra da informação traduzem, afinal, mais um avanço na repressão do direito de expressão, do exercício de discordar das versões comumente adoptadas sobre factos e acontecimentos que recheiam os discursos oficiais e a comunicação social dominante, servindo de base ao roteiro com que deve ser acatada a ordem mundial e global.

«Devemos agir a nível europeu, e mesmo internacional, por um quadro jurídico a definir de modo a que as plataformas de Internet que gerem as redes sociais sejam colocadas perante as suas responsabilidades e contra elas pronunciadas sanções em casos de falha», sentenciou o presidente francês, François Hollande, em 27 de Janeiro de 2015.

Nada mais natural, portanto, que exista já trabalho feito e publicado sobre a definição de «conspiracionismo» e dos conteúdos das «teorias da conspiração». Um dos documentos mais minuciosos sobre o assunto foi divulgado em Fevereiro de 2015 precisamente pela Fundação Jean Jaurès, órgão de produção ideológica do Partido Socialista Francês, isto é, do «hollandismo».

Uma organização que é igualmente uma sucursal da norte-americana National Endowment for Democracy (NED), entidade promotora de golpes de Estado sobretudo na América Latina e dirigida pelos eternos conspiradores Zbigniew Brezekinski e Madeleine Albright, um de origem polaca, a outra checoslovaca.

Pois segundo a citada fundação hollandista, o «conspiracionismo» é «um discurso alternativo que pretende baralhar, de modo significativo, o conhecimento que temos sobre um acontecimento e assim estabelecer concorrência com a versão comumente aceite, estigmatizada como "oficial"». Ou seja, ter uma opinião diferente da governamental ou da linha dos telejornais é o mesmo que lançar a confusão e denegrir o que oficialmente se deve saber sobre factos determinantes na nossa sociedade e modo de vida.

Os que pensam de maneira diferente pertencem, segundo a Fundação Jean Jaurès, a uma corrente «fortemente ligada à tendência negacionista, na qual se acotovelam admiradores de Hugo Chavez, incondicionais de Vladimir Putin, antigos militantes de esquerda ou extrema-esquerda, ex-indignados, soberanistas, nacionais-revolucionários, ultranacionalistas, nostálgicos do III Reich, militantes anti-vacinação, revisionistas do 11 de Setembro, anti sionistas, afrocentristas, survivalistas, adeptos de medicinas alternativas, agentes de influência do regime iraniano, bacharistas (de Bachar Assad), integristas católicos ou islamitas».

Não exijamos que a enumeração seja exaustiva. É óbvio que escaparam aos ideólogos hollandistas, provavelmente, em alguns casos, por razões de prudência táctica, categorias com pacifistas, cidadãos anti NATO ou mesmo contra a moeda única europeia, revisionistas da «libertação» da Líbia, do Iraque, do Afeganistão e casos semelhantes, inquietos com o aquecimento global, adeptos da renegociação das dívidas soberanas, adversários do TTIP, conhecedores das cumplicidades dos governos dos Estados Unidos, Israel e de países da União Europeia com o terrorismo salafita, designadamente o Daesh e a Al-Qaida, críticos do golpe na Ucrânia, considerando-o uma manobra fascista.

Ainda assim, da enumeração feita pela fundação francesa há que reter como «conspiracionistas» todos quantos se revoltam com o comportamento sionista contra os palestinianos e outros povos, os que estão solidários com a democracia venezuelana, os que consideram o drama sírio fruto de uma ingerência, ou mesmo de uma invasão mercenária patrocinada por grandes potências mundiais.

Posto isto, sabemos agora o que está em causa quando alguém brande contra alguém a acusação de recurso à «teoria da conspiração». É o mesmo que apontar o dedo delator a quem pensa pela própria cabeça e não está conformado a sintonizar-se com o pensamento unificado. O pluralismo de ideias e opiniões está em vias de se tornar crime. Em nome, claro, do reforço e da defesa da democracia global.

Se o leitor, por algum acaso, se viu reflectido nas categorias enumeradas, considere-se então avisado.

Foto: François HollandeCréditos/Agência Lusa

PS e direita votam contra o salário mínimo nos 600 euros



O projecto de resolução do PCP foi chumbado pelo PS, pelo PSD e pelo CDS-PP. Bloquistas defendem aumento gradual, lembrando acordo de 2006, que acabou por não ser cumprido pelo governo.

A deputada Rita Rato intervém na discussão do projecto de resolução sobre o aumento do salário mínimo nacional durante a sessão plenária na Assembleia da República, em Lisboa.

«Para o PSD e o CDS-PP, a Assembleia da República só tem legitimidade para cortar salários e rendimentos, nunca tem para os repor», acusou a deputada comunista Rita Rato, na discussão da iniciativa do PCP em que se exigia ao Governo o aumento do salário mínimo nacional (SMN) para os 600 euros já em Janeiro.

O projecto de resolução teve os votos a favor do PCP, do PEV e do PAN, assim como do BE, apesar da posição conjunta que mantém com o PS, onde acordou um aumento para 557 euros. Coube a Jorge Costa a defesa da posição do partido, que lembrou o acordo de concertação social de 2006, onde se fixou uma trajectória de subida para o salário mínimo até 2011.

O governo do PS acabou por rasgar o acordo nesse ano, fixando o valor do SMN em 485 euros, patamar de que não saiu até Outubro de 2014, quando o anterior governo do PSD e do CDS-PP o aumentou em 4,1% – 505 euros mensais.

Rita Rato lembrou que, caso fosse actualizado de acordo com a taxa de inflação e a evolução da produtividade, o SMN seria hoje de cerca de 900 euros. O valor defendido pelo partido e pela CGTP-IN resulta num «salário líquido de 530 euros por mês», lembrou a deputada.

Enquanto o PS concordou com o aumento do SMN para os 600 euros, ainda que apenas em 2019, o PSD e o CDS-PP queriam amarrar a sua evolução aos humores do patronato, através da concertação social. Os patrões propõem um aumento inferior aos 540 euros, já não sentindo força para exigir o seu congelamento e optando por procurar ganhos por outras vias.

O projecto de resolução do PSD, que recomendava que o Governo alcance um acordo de médio prazo na concertação social, incluindo nele a evolução do SMN, também foi chumbado, com os votos a favor do PSD, do CDS-PP e do PAN, e a oposição dos restantes partidos.

A fixação do SMN é competência do Governo, que deverá avançar para o aumento até ao final do ano. A consulta da concertação social já teve início, estando marcada uma nova reunião para a próxima segunda-feira, onde não é expectável que surja qualquer acordo entre patrões e sindicatos. 


Rogériografias - Um novo processo, muito menos invasivo que a ablação por lobotomia



Rogério V. Pereira - Jornal Tornado, opinião

Não sei se todos estarão a acompanhar estes meus textos científicos. Mas caso não tenham lido os meus trabalhos anteriores não terão perdido muito se compararmos com o que poderão ganhar em seguir este

Egas Moniz, foi nome reputado da ciência, nosso primeiro Nobelizado e que através de estudos e aturadas investigações desenvolveu perícias que permitiram resolver questões relacionadas com demências pelo uso de procedimento cirúrgico, a leucotomia.

A leucotomia foi a primeira técnica de psicocirurgia, ou seja, a utilização de manipulações orgânicas do cérebro para curar ou melhorar sintomas de uma patologia psiquiátrica. Resumindo, se um tipo tinha manias, localizava-se lá na cuca onde pairava a ideia maluca e pimba, lóbulo fora. O tal tipo ficava meio abananado, mas lá ia indo.

Ora as rogériografias trazem outra evidência menos invasiva. Relacionando os tipos com os seus contextos (não interessa quais, e as imagens acima são meramente exemplificativas de um case study) percebe-se que os respectivos cérebros nascem e desenvolvem-se normais até uma certa altura. Depois, a partir de uma certa idade (ainda jovem), dá-se uma espécie de auto mutilação de algumas partes funcionais.

Segundo a moral vigente, uns consideram “quem diria, parecia um tótó e agora vejam só”. Outros dizem que nada fazia esperar que aquela criança tão viva e inteligente deu em tão azedo e mirabulante personagem. Isto é, nuns tipos, a auto mutilação (uma espécie de degenerescência), incide mais num hemisfério que noutro e com graduações diferentes. Pois.

As rogériografias apenas trazem (novamente) para cima da mesa a questão da relação do cérebro com aquilo que o cerca. Ou seja: “Diz-me com quem andaste, dir-te-ei quem és”! ou ainda “esta merda do neoliberalismo só podia dar nisto!”

A imagem ao lado reproduz uma rogériografia de um cérebro profundamente afectado por um neoliberalismo exarcerbado que foi evoluindo, evoluindo, sem dor e sem qualquer sintoma exterior.

PS: Qualquer ligação entre a chapa rogeriográfica e as fotos acima (não) é especulação abusiva.

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