quarta-feira, 25 de outubro de 2023
ANTÓNIO GUTERRES, UM HOMEM QUASE SÓ POR AMOR À PAZ E À HUMANIDADE
EM QUE MUNDO É QUE ANTÓNIO GUTERRES VIVE?
Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião
Já muitos dos leitores deste texto leram a notícia: o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel perguntou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, "em que mundo vive?" e o embaixador desse país nas Nações Unidas exigiu mesmo a demissão imediata do português.
A indignação israelita sucede depois de Guterres ter dito, no Conselho de Segurança, que "o povo palestiniano foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante. Viram a sua terra constantemente devastada por colonatos, assolada por violência, a sua economia esmagada, as suas populações deslocadas e as suas casas demolidas".
Note-se que Guterres sublinhou que "o sofrimento do povo palestiniano não pode justificar os terríveis ataques do Hamas", mas que isso, por seu lado, não podia fundamentar as "claras violações da Lei Internacional em Gaza", que Israel está a cometer, vitimando a população civil palestiniana.
Isto chegou para o ministro israelita insinuar que Guterres "vê o massacre cometido pelos terroristas nazis do Hamas de uma forma distorcida e imoral", associando o nome do secretário-geral da ONU a uma qualquer complacência para com o Holocausto (o Governo Português e o Presidente da República, sempre tão orgulhosos pelo papel de António Guterres na ONU, já terão reagido a esta deplorável acusação?).
A questão posta pelo político israelita é, porém, muito interessante. De facto, em que mundo é que António Guterres vive?
É um mundo que advoga os Direitos Humanos consagrados pela ONU para toda a Humanidade ou é um mundo onde a defesa dos Direitos Humanos só pode ser invocada quando corresponde à proteção dos interesses das nações mais poderosas do planeta?
É um mundo onde o direito de um país combater de armas na mão contra as agressões militares de um invasor externo é reconhecido de forma universal ou é um mundo que seleciona, conforme a conveniência das potências dominantes, os povos que podem lutar pela sobrevivência?
É um mundo que reconhece o direito à autodeterminação de todas as nações, ou é um mundo que aceita a imposição do domínio de umas sobre as outras?
É um mundo onde tanto um ataque mortal contra centenas de jovens num festival de música como o bombardeamento indiscriminado de populações desamparadas numa região cercada são igualmente classificados como "terrorismo", ou esse epíteto só se usa quando é útil para a propaganda do lado mais forte desse confronto?
É um mundo onde o corte de eletricidade, combustível e água a dois milhões de pessoas é considerado um crime de guerra ou é um mundo que legitima, compactua ou é indiferente a essa atrocidade?
É um mundo onde a tentativa de deslocação forçada de cerca de um milhão de pessoas merece uma firme condenação internacional ou é um mundo onde se limpa a consciência com benevolentes e inconsequentes pedidos de "proporcionalidade" ao autor dessa barbaridade?
É um mundo que considera abjeto, e bem, que sejam feitos reféns em qualquer tipo de combate militar ou é um mundo que esconde ou ignora, há décadas, um processo de limpeza étnica e de apartheid de um povo inteiro?
É um mundo onde um banal pedido de cessar-fogo discutido no Conselho de Segurança das Nações Unidas pode ser impedido, como aconteceu agora, por causa de um único voto de um único país: Estados Unidos da América?
É um mundo onde é legítimo e corriqueiro bombardear hospitais, casas e escolas?
É um mundo onde a selvajaria não se combate com civilização, mas sim com selvajaria ainda maior?
Sim, em que mundo é que vive António Guterres? Em que mundo queremos, nós e ele, continuar a viver?
*Jornalista
DISCURSO DO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU IRRITA ISRAEL
António Guterres disse estar preocupado com as claras violações do direito humanitário internacional na Faixa de Gaza. No seu discurso nesta terça-feira (24), na abertura do Conselho de Segurança, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse estar preocupado com as claras violações do direito humanitário internacional na Faixa de Gaza.
“É importante ter princípios claros, começando pelo princípio fundamental de respeitar e proteger os civis", afirmou.
Guterres também condenou as ações sem precedentes no ataque do Hamas no dia 7 de outubro e ressaltou ainda que nada justificasse as mortes e os feridos. No entanto, o líder da ONU acrescentou que ocorre há anos a ocupação de Israel em Gaza.
"É importante reconhecer que os atos do Hamas não aconteceram por acaso. O povo palestino foi submetido a 56 anos de uma ocupação sufocante. Eles viram suas terras serem brutalmente tomadas e varridas pela violência. A economia sofreu, as pessoas ficaram desabrigadas e as suas casas foram demolidas. Mas, o sofrimento do povo palestino não pode justificar os ataques do Hamas. E esses ataques não podem condenar todo o restante povo palestino", afirmou.
Mais lidas da semana
-
São mais de 13 mil. A maioria vem da Polônia e EUA. Operam armas sofisticadas. São atraídos por altos salários. Empresas especializam-se em ...
-
María Jesús Montero abre o comité federal do PSOE e incentiva Sánchez: “Fique, eles não podem escapar impunes” Milhares de pessoas reúnem-...
-
Global Times | opinião | # Traduzido em português do Brasil Numa entrevista ao Financial Times, o comandante das forças dos EUA na região...
-
“Não há absolutamente nenhuma razão para Biden estar envolvido nisso”, disse um analista. “Mas, mais uma vez, Biden intervém para proteger N...
-
Raquel Ribeiro , opinião «Na Alemanha, a criminalização de movimentos de esquerda, seja contra a guerra da Ucrânia, seja de apoio à Palest...
-
Morreram a lutar pela vida, por uma míngua de descanso pessoal e de disponibilidade para a família, por porem cobro a jornadas de trabalho q...
-
Bom dia. Hoje descarrilamos para o jornal Observador . Só depois seguiremos para o Expresso Curto. Não queremos deixar no esquecimento as fa...
-
Al Mayadeen | # Traduzido em português do Brasil A Federação Palestina de Sindicatos afirma que 235 mil trabalhadores palestinos nos 48 t...
-
Artur Queiroz *, Luanda O País dos Dembos esteve em guerra entre 1872 e 1919. Os pombeiros e funantes de Luanda pagavam portagens para irem ...