SINAIS CONTROVERSOS – V

 

Martinho Júnior, Luanda
 
9 – É contudo a partir do “eixo maduro” da “Open Society” que pouco a pouco os Estados Unidos e organizações por si controladas, de há pouco mais de 20 anos a esta parte foram elaborando o espectro político e de intervenção social de feição em Angola, destacando-se entre outras, no caso angolano, personalidades que “estagiaram” nessa “forja” como Justino Pinto de Andrade e Rafael Marques de Morais, dois exemplos de figuras “preparatórias” e “intervenientes” para a “mudança dialéctica” da 2ª fase dos relacionamentos dos Estados Unidos para com Angola.
 
Sob o ponto de vista filosófico, ideológico e político, “enterrado” Karl Marx em Angola, tornou-se possível “abrir as portas” a Karl Popper e ao seu “liberalismo democrático”, ou seja, a maneira mis arguta e inteligente de, em pleno capitalismo neo liberal, defendendo os interesses da aristocracia financeira mundial e das suas corporações multinacionais, ir colocando no poder as “moscas” de sua conveniência, mesmo que isso fosse um dia feito às custas do movimento de libertação!
 
Assim sendo, para a “Open Society” só há um tipo de “democracia representativa”: aquela aberta ao liberalismo e aos mecanismos que o promovem, aquela aberta a processos elitistas, procurando fazer esquecer que em África isso é mais que meio caminho andado para o neo colonialismo!
 
Nesses termos é o “fim da história”, ou pelo menos a história contada à maneira “liberal” da conveniência dos poderosos!
 
A “Open Society” chega ao extremo: o seu fundador, George Soros, é um “híbrido” entre especulador e filantropo, um “especu-tropo”… o que serão aqueles que o seguem?...
 
A “Open Society” em Angola dedica-se hoje em dia a uma “independência”, a das análises sócio-político-económicas conjugadas com o activismo “cívico” que seguem a linha Karl Popper – George Soros, deixando as questões “operativas”, sob os pontos de vista sócio-político e de agitação-propaganda, mais entregues a essas duas entidades que, por vias distintas seguem, uma (Justino Pinto de Andrade) a “carreira política” e outra (Rafael Marques de Morais) uma trilha de “activismo” jornalístico “de investigação” que se evidencia na panorâmica da própria “media independente e democrática”… pago pela National Endowment for Democracy, uma reconhecida (por muitos) intermediária da CIA!...
 
Em qualquer dos casos para os “operativos”, as mensagens têm ultimamente recorrido muito mais a aspectos psico-emocionais do que a discursos burilados, estando qualquer deles a “especializarem-se” contra o Presidente Eduardo dos Santos, tirando partido de trajectória de aproximação forçada dele em relação aos próprios interesses que os tutelam e “lançam” e à própria “Open Society”: os interesses “inequívocos” dos Estados Unidos da América agora em versão da administração do democrata Barack Hussein Obama, “abrindo sociedades” para melhor conduzir o capitalismo neo liberal e o neo colonialismo por via das “mudanças dialécticas” no plasma sócio-política de cada país!
 
A “dialéctica da mudança” da secreta “Presidencial Study Directive 11” conferem a “orientação” última às agências norte americanas como por exemplo a “Open Society”, a NED e a USAID, para que os destinatários, no escalão inferior da hierarquia em pirâmide e “no terreno” cumpram com as “suas obrigações”: é para isso que se está a fazer a globalização capitalista neo liberal de acordo com os interesses da hegemonia, do império, onde a aristocracia financeira mundial é de facto o fulcro do poder nos dois lados do Atlântico Norte e o elemento decisório!
 
Constate-se como a “Open Society Initiative for Southern Africa” introduz o entendimento que faz sobre Angola, ocupando o espaço sócio-político “à esquerda”, anos depois do MPLA ter abandonado a perspectiva de socialismo que detinha, que foi muito útil para fazer a guerra e, por influência do império, Parece nada servir para a paz:
 
“Over a decade since the end of its long-running civil war, Angola remains a closed and repressive society, where a small political, military and business elite enjoys a lavish lifestyle while the vast majority of the population lives in acute poverty with little – or no – access to water, sanitation, health, shelter, education and other basic human rights. Elections, economic growth and a new constitution should have contributed to a more open and democratic society. But the opposite is the case. Instead of speeding up the transition towards genuine democracy, both the 2012 and 2008 elections saw the ruling MPLA party secure a super-majority and consolidate its control of the country (even though the MPLA's share of the vote did drop from 82% to 70%). The 2012 elections were also the first time that President Jose Eduardo dos Santos was directly elected – representing his first ‘genuine’ mandate after 32 years in office. And another 5 years in State House.
 
Meanwhile, years of impressive oil-based GDP growth – around 7% per annum – have not translated into gains for the poor and the marginalised but rather into super-profits for those in power and those with access to natural resources and public funds. Angola is one of the most unequal societies on earth, with 38 percent of the population still living below the poverty line. Angola has one of the highest child mortality rates – with almost 1 in 5 children dying before the age of 5. Maternal mortality is also extremely high. Overall, Angola is ranked 143rd out 182 countries in the UN’s Human Development Index”…
 
Justino e Rafael são por si “provocações” ao bom estilo das “damas de branco” do “laboratório” de Cuba, na tese dessa “mudança dialéctica” que visa “instalar a alternância” conveniente, absorvendo outros mais condimentos: eles estão a fazer aproveitamento dos contextos das “revoluções coloridas” e das “primaveras árabes”, duma forma pouco criativa, pois até os símbolos e os “slogans” se identificam com os símbolos e os “slogans” de outras paragens (Ucrânia, Sérvia, Geórgia, Tunísia, Egipto…), não há mais nada que inventar, pois está tudo inventado!
 
Basta, um dos “slogans” mais utilizados “contra o ditador”, por exemplo, é igual a Kmara (Geórgia, “revolução rosa”), ou a Pora (Ucrânia, “revolução laranja”), Kefaya (Egipto)…
 
A mão verde aberta do Bloco Democrático inspira-se no mais sofisticado símbolo do Pora (Ucrânia), ou do “tradicional” punho negro fechado do Otpor (Sérvia)…
 
A partir de 2010 as mensagens de captação e mobilização foram sendo cada vez mais dirigidas em sintonia com a “juventude revolucionária”, à medida que se foi aproximando o período eleitoral, ainda que outras franjas da sociedade, entre elas as dos antigos combatentes e membros da comunidade de inteligência angolana não tivessem sido descuradas, dada a sua situação histórica de vinte anos de periferia, em alguns casos à beira da indigência, talvez por que eles eram antes alguns dos garantes da trajectória socialista que se estava a procurar fazer arrancar em Angola para depois da luta contra o “apartheid”!
 
Entende-se a atracção de alguns para se auto-intitularem “de esquerda”!
 
Essa via possibilitou a reaproximação àqueles que deram continuidade à direcção da UNITA, entre eles Isaías Samakuva e o aparentemente “periférico” Abel Chivukuvuku, até numa questão que já tem pelo menos uma década, a interpretação consensual que fazem sobre Cabinda!
 
Quando o Bloco Democrático viu inviabilizada a sua afirmação como partido nas últimas eleições, os resultados das suas actividades foram “automaticamente” endossados à UNITA (Isaías Sanakuva) e ao expeditamente criado CASA-CE (Abel Chivukuvuku)!
 
Esse “passo de mágica” só foi possível com os “bons ofícios” dos interesses norte americanos “de nova geração”, que procuram elevar as contradições surgidas em “novos termos”, a uma “nova dialéctica” com polarização “irredutível”, conforme à “Open Society” que tende a ser aproveitada em desenvolvimentos próximos que podem pôr em causa o actual quadro de paz, ou de ausência de tiros em Angola e seguramente visam impedir a possibilidade de se aprofundar a democracia dando abertura a concepções e opções alternativas, ou sequer haver a veleidade de evocar o socialismo, mesmo aquele conhecido por “socialismo democrático”!
 
O surgimento desse espectro político organizado em Angola tornou-se mais exequível num quadro em que África era atingida pelas “primaveras árabes”, com alterações profundas no ambiente ideológico como na estrutura e sociologia do poder, removendo dos cargos mais elevados aqueles que se haviam nele enquistado, se haviam tornado “obsoletos”, a fim de dar lugar a “jovens democracias representativas” fruto da emoção, agitação, propaganda e provocação “das massas” inquinadas pela inteligência norte americana e seus dilectos agentes, eles próprios experientes provocadores, incentivadores e… finalmente “vencedores”.
 
Os Estados Unidos e seus aliados portaram-se em relação aos “ditadores” (Ben Ali na Tunísia, Kadafi na Líbia, Moubarak no Egipto…) da maneira mais manipuladora, cínica e amoral possível: usaram-nos, “espremeram-nos” e à sua “entourage” por vezes durante décadas a fio, “captaram” uma parte importante do dinheiro colocados em bancos de sua tutela, para depois perante as pressões desencadeadas por causa das distorções que esse uso implicou, conjugadas com as ingerências resultantes das “experiências” e “ensinamentos” recolhidos do laboratório cubano, os deitarem fora e substituírem-nos por agentes “modernos”, mas suficientemente neo conservadores, de sua inteira conveniência!
 
Na Líbia, Kadafi e sua “entourage” não se souberam furtar a isso e o mesmo se passou na Tunísia e no Egipto; como a “ementa” pegou agora estão a tentar aplicá-la a outras paragens, sendo o exemplo corrente “mais quente” a Síria, mesmo que isso resulte em consequências imprevisíveis, quiçá fora de controlo na vasta região envolvente…
 
Na Líbia foram alguns dos mais próximos de Kadafi que se tornaram agentes da CIA, do MI-6 ou dos franceses, conforme tive oportunidade de detalhar em tempo oportuno em várias intervenções.
 
Para os Estados Unidos o “usa deita fora” é um risco assumido em especial pelas suas “moscas”, de outra forma seria muito mais difícil construir-se o império e, no caso de África, avassalá-la numa perspectiva neo colonial!
 
No caso de Angola é um processo que deliberadamente não leva em conta que o Presidente José Eduardo dos Santos é, quer queiram quer não quem governe o império, um símbolo de unidade nacional e de identidade nacional, uma entidade que, nas condições mais adversas e nas mais controversas, tem incansavelmente procurado soluções num tortuoso caminho de paz que em grande parte lhe tem sido imposto a partir do exterior!
 
Mesmo fazendo travessias no deserto que já vão em mais de vinte e cinco anos, os fieis ao MPLA e às possibilidades de socialismo, sabem-no e avaliam-no, por que eles próprios tiveram uma vida de luta, enfrentando todo o tipo de riscos e obstáculos semeados e incentivados pelos Estados Unidos, desde os tempos do “complexo de Kissinger”, até ao presente!
 
Esse tipo de expedientes tornava-se de tal maneira inquinado que na Líbia recorreu por outro lado a fracções “amigas” locais da Al Qaeda ao mesmo tempo que provocava a sua disseminação através do Sahel , a disseminação de fracções “inimigas” como a AQMI, muito úteis para a desestabilização forçada e manipulada do espaço CEDEAO a fim de melhor fazer vincar regimes como os da Costa do Marfim, do Burkina Fasso e por fim do Senegal…
 
Os ensinamentos de Maquiavel estão perante isto ao nível dos conhecimentos dum “aprendiz de feiticeiro”!
 
O processo em curso em África é eminentemente neo colonial e o actual “alvo” mais sugestivo, o espaço CEDEAO, até permite agora fazer aparecer a França como defensora de nobres causas da ocidental civilização, “muito preocupada” pelos riscos de expansão dos radicais islâmicos por África e também pela Europa, pois a CEDEAO é um espaço de migração… e nunca se sabe a qualidade de personagens que se movem nesse tipo de migração!
 
Sinais controversos nos processos sócio-políticos em curso em todo o mundo, estimulados pela globalização implementada pelo império, é o que há por demais e neste momento nem a Europa escapa ao anátema da hegemonia unipolar que nos entra porta dentro!
 
Foto: A “mudança dialéctica” permite superar as ambiguidades: Hillary Clinton recebe dissidentes egípcios preparando a era post Moubarak, manipulando com “moscas”, as do passado uma e as do presente outras. A foto foi recolhida do artigo "O movimento de protesto no Egipto: Ditadores não ditam, obedecem ordens", da autoria de Miche Chossudovsky e publicado no Resistir Info.
 
A consultar:
- Presidential Policy Directives – Barack Obama Administration – http://www.fas.org/irp/offdocs/ppd/index.html
- O movimento de protesto no Egipto:
"Ditadores" não ditam, obedecem ordens – Michel Chossudovsky –
http://resistir.info/chossudovsky/egipto_29jan11.html
- Operação de inteligência encoberta de Washington – Michel Chossudovsky – http://resistir.info/chossudovsky/egipto_07fev11.html
- CIA NED em nome da Democracia cínica e malograda prevalecente nos Estados Unidos – Cuba – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/06/12/cia-ned-em-nome-da-democracia-cinica-e-malograda-prevalecente-nos-estados-unidos/#comment-2872
- Rothschield – George Soros – uma conexão que espreita Angola por via de Cabinda – Publicado no nº 348, a 1 de Março de 2003 e reapresentado no Página Um, a 25 de Janeiro de 2011 – http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/rothschild-george-soros-uma-conexao-que.html
- A Geórgia no horizonte dos interesses da potência hegemónica e da OTAN – publicado pela 1ª vez a 20 de Dezembro de 2003 no Actual e de novo, agora no Página Um a 18 de Fevereiro de 2011 – http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/georgia-no-horizonte-dos-interesses-da.html
- O Cáucaso alvo de todas as ingerências – Publicado no Página Um a 14 de Feveriro de 2011, repescando o artigo do Actual publicado no nº , a – http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/o-caucaso-alvo-de-todas-as-ingerencias.html
- O módulo georgiano da revolução rosa – Publicado no nº 376 do Actual, a 20 de Dezembro de 2003 e no Página Um a 15 de Fevereiro de 2011 – http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/o-modulo-georgiano-da-revolucao-rosa.html
- Jogos africanos de George Soros – http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/blog-post_26.htm (já retirada do Página Um).
- Rapidinhas do Martinho – 24 – Benguela – Benghazi – Publicado a 21 de Junho de 2011 – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/07/rapidinhas-do-martinho-24.html
- Coisas que a globalização tece – 05 – Os deuses estão loucos! – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/02/coisas-que-globalizacao-tece-05-os.html
- Rapidinhas do Martinho nº 46 – Lutar contra o elitismo – Publicado a 25 de seyembro de 2011 – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/09/rapidinhas-do-martinho-46.html
- A DITADURA DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS-MPLA – Telmo Vaz Pereira – Zwela Angola – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/ditadura-de-jose-eduardo-dos-santos.html
 
Relacionado
 
* Para ler todos os textos de Martinho Júnior, clique aqui
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana