segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O FUTURO DO PORTUGUÊS EM TIMOR-LESTE (9) – A RIVALIDADE ENTRE SUCOS




DAVI B. DE ALBUQUERQUE* - EAST TIMOR LINGUISTICS: state of the art

Nesta última sexta-feira, 06 de outubro, o Jornal Independente publicou uma notícia a respeito da declaração do porta-voz do Sindicato dos Professores de Timor-Leste (SPTL), Agostinho Soares, sobre a implementação do ensino em língua materna. Tive acesso à notícia no blogue Timor Hau Nian Doben pela indicação do amigo António Veríssimo, que eu registro aqui meus agradecimentos. 

Segundo, Agostinho Soares, a futura geração leste-timorense será dividida, principalmente, poderá ser retomadas antigas rivalidades entre 'sucos' (divisão político-administrativa nativa, do Tetun suku, semelhante a pequena vila ou vilarejo), o chamado 'suquismo' (Isto foi um dos meus argumentos no post O futuro do português em Timor - 5 Análise do Educação multilíngue baseada na língua materna, que pode ser lido no link: http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2011/09/o-futuro-do-portugues-em-timor-leste-5.html).

Ainda, ele fala também da impossibilidade e da inconstitucionalidade de tal proposta (também já discutida por mim no post O futuro do português em Timor - 2 A legalidade da nova política linguística que pode ser lido no link: http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2011/08/o-futuro-do-portugues-em-timor-leste-2.html).

Vale lembrar aos leitores do blogue também que qualquer estrangeiros que visitou Timor-Leste, e os próprios cidadãos leste-timorenses sabem disso, há línguas e grupos etnolinguísticos que já gozam de um status social superior a outros grupos, considerados menores. Como exemplo, posso mencionar o grupo manbófono, falantes da língua Manbae (ou Mambae, Mambai), que, além de serem em grande número, estão localizados na região central de Timor-Leste e possuem diversos representantes nas camadas sociais mais altas, como políticos, professores universitários, nobres etc. Outros grupos etnolinguísticos que gozam de um status social  superior aos demais são: o Makasae, que possuem certas características sociais próximas ao grupo Manbae, e os falantes de Tetun Terik, que sempre possuíram uma posição de prestígio e destaque na sociedade leste-timorense, principalmente por causa do mito de manterem a língua Tetun 'pura' (a variedade Tetun Terik).    

Após essas breves informações para se refletir, e quem sabe até mereçam uma pesquisa ou análise mais aprofundada, a notícia pode ser lida inteira no link http://timorhauniandoben.blogspot.com/2011/10/politica-do-uso-das-linguas-maternas.html.

*Davi B. de Albuquerque é linguista na Universidade de Brasília

Ler também:

*Todos os relacionados sobre o tema em TIMOR-LÍNGUA

2 comentários:

Anónimo disse...

Dou um prémio a quem conseguir identificar todos os erros ortográficos, mas não só, do Despacho seguinte:


REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE



Despacho



3/GM ME/III/2011

--------------------------------------------------------------------------------
Que autoriza o Instituto de Ciências Religiosas a conferir a segunda Graduação em Lecenciatura e Bacharelato em Cursos Superiores legalmente credenciados


Considerando que o Instituto de Ciências Religiosas SãoTomás de Aquino, abrevidamente designado "ICR", foi licenciado e devidamente acreditado através do Diploma Ministerial N° 5 / 2009, publicado em 25 de Fevereiro;

Tendo em conta que, nos termos do Artigo 3.° do citado diploma, o ICR foi autorizado por S. Exa o Ministro, a Ministrar os seguites cursos superiores.Curso Formação de Professores do Ensino Moral e Religião Católica-Licenciatura, Curso de Formação de Professores do Ensino Moral e Religião Católica, Curso de Serviços Sociais Bacharelato.

Estando preenchidos os requisitos legais formais de submissão de pedido identificativo e discriminado a que se refere o Artigo 6. ° do Diploma Ministerial N° 5/ 2009, publicado em 25 de Fevereiro e devidamente analisado;

Determino, nos termos e para os efeitos do artigo 6 ° do Diploma Ministerial n°: 5 / 2009, de 25 de Fevereiro;

1. Autorizar o Instituto de Ciências Religiosas SãoTomás de Aquino (ICR ), a efectuar a segunda graduação dos formandos nos Curso Formação De Professores Do Ensino Moral E Religião Católica-Licenciatur, Curso De Formação De Professores Do Ensino Moral e Religião Católica, Curso De Serviços Sociais Bacharelato, em conformidade com a lista que se encontra em anexo ao presente despacho.

2. A presente autorização de graduação abrange apenas os formandos incluídos na lista de candidatos anexada ao presente despacho, cuja cerimónia será realizada em data a ser fixada depois da sua publicação.

3. O presente Despacho produz efeitos a partir do dia seguinte ao da sua publicação.


Dili; 17 Março de 2011


O Ministro da Educação


João Câncio Freitas, Ph.D


De fato, o nível é elevadíssimo!lol ...rs
Que assessoria jurídica tem este Gabinete Ministerial?

Hussi barak, ida disse...

Dou o meu prêmio para o ministro e a pessoa que redigiu este documento. É preciso compreender que a língua em que eles são mais fluentes e mais confortáveis são o Inglês, o Bahasa Indonesio, o Tétum e a sua língua materna, uma vez que são parte da geração que cresceu e nasceu após a invasão Indonésia de 1975 e, como tal, não beneficiram de uma educação em que foram ensinados o Português ou a oportunidade de aprofundar as suas competências com o Português, seja falado ou escrito. Devemos reconhecer que esses erros de gramática e ortografia, que merecem ser lamentados, são os produtos destas circunstância que é a realidade actual de Timor Leste.

Por mais alguns anos ainda é muito possível que Portugal será visitada por ministros e secretários de estado timorense que fazem parte da geração do pós-Portugal, que cresceram e foram educados depois da invasão indonésia de 1975. Estes timorenses terão coisas importantes para dizer que muito bem demonstra uma compreensão plena de qualquer ministério em que eles são responsáveis e que tambem demonstra que conhecem bem os desafios locais e globais que afetam o destino de Timor Leste. Se eles falarem em Tétum, Bahasa Indonesia, Inglês ou em sua língua materna, línguas que lhes permite comunicar os seus pensamentos mais facilmente, seria uma descortesia para Portugal e para os Portuguêses, e sendo assim, eles vão falar em Português, que para eles é uma língua estrangeira, não por escolha, mas é porque eles são um produto da história do Timor Leste. Mesmo assim, estes ministros e secretários de estado timorense vão fazer o esforço de falar em Português, mas provavelmente não vão ter uma gramática correta e muito provavelmente não vão pronunciar algumas palavras como devem ser pronounciadas. E o Português escrito destes ministros e secretários de estado, apesar dos seus melhores esforços, vão ter erros de ortografia e gramática. Se este seja o caso, talvez alguns dos ouvintes ou leitores vão fazer piadas sobre a pobre competência que estes ministros ou secretários de estado timorense têm com o Português, mas espero que a maioria vai appreaciar o esforço que eles estão fazendo - porque para a maioria dos timorenses é um grande esforço que bem demonstra a importância que eles colocam nos laços que Timor tem com a Lusofonia - e vão escutar com a intenção de ouvir e ler com a intenção de saber o que eles têm para dizer.

No entanto, um tempo virá em que uma proficiência indígena no Português escrito e falado irá desenvolver em Timor-Leste. Será um Português que contará com as corretas regras estabelecidas para a gramática e ortografia. Mas também vai ser um Português que trará consigo o sabor único de Timor, que podera ser ouvido nas palavras que adotou das várias línguas dos timorenses, incluindo o Bahasa Indonésio, que não vão ter um equivalente no Português falado em cada país da CPLP. Este será um tempo em que os timorenses vão ser tão competentes e confortáveis com a sua habilidade de expressar os seus pensamentos e desejos com a língua Portuguêsa que não vão ser tímidos de adicionar novas palavras ao Português para melhor ajudá-los a descrever o contexto social e cultural de Timor em que vivem. Este vai ser um momento onde será a vez do Português de receber a contribuição de algumas novas palavras de Timor, que irá enriquecer o seu vocabulário, mas talvez não na medida em que tem enriquecido o Tétum.

Para chegar a esse futuro imaginado, o programa adoptado pelo sistema de ensino envolvendo o uso da língua materna como língua de ensino na pré-escola e no primeiro ano de escolaridade são necessárias e fundamentais, dada a realidade atual de Timor Leste. Vamos pensar não só dos professores timorenses que ensinam em Dili ou nas principais cidades dos 13 Distritos. Vamos também pensar dos professores que ensinam em escolas isoladas de Sucos e Aldeias nas áreas rurais e montanhosas de Timor Leste, onde a maioria dos timorenses vivem.

Mais lidas da semana