Chefe Jean-Claude
Juncker demonstra que sua paciência está chegando ao fim: países do Eurogrupo
precisam "chegar aos finalmentes" no pagamento da nova parcela para
Atenas. Enquanto isso, gregos se sentem injustiçados.
Após o fiasco da
cúpula para o planejamento orçamentário da União Europeia, uma parte do bloco
terá nesta segunda-feira (26/11) a chance de demonstrar sua capacidade de ação.
Trata-se do Eurogrupo: sob a presidência de Jean-Claude Juncker, os ministros
das finanças dos 17 países-membros tentarão pela terceira vez decidir sobre o
pagamento da próxima parcela do pacote de ajuda à Grécia.
Antecipando o
encontro em Bruxelas, o também primeiro-ministro de Luxemburgo deixou claro que
sua paciência tem limites. "Sou da opinião que na segunda-feira nós
devemos chegar aos finalmentes".
No sábado, Juncker
realizara uma conferência telefônica com os 17 chefes de pasta, como
preparativo para o encontro, sem que fosse oficialmente divulgado qualquer
resultado. Durante a cúpula da UE, ele já interpelara isoladamente alguns
chefes de Estado e governo, para explicitar quão urgente é uma solução para o
país em crise e praticamente insolvente.
"Tive uma boa
conversa de trabalho com meu bom amigo Antonis Samaras [premiê grego], e
conversei ainda mais longamente sobre a Grécia com a chanceler federal [alemã]
Angela Merkel e outros chefes de governo", declarou Juncker ao fim da
conferência.
Súbito,14 bilhões a
mais
Na última
segunda-feira, os 17 países da União Monetária e a diretora-gerente do Fundo
Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, haviam fracassado nas
negociações para financiamento do plano de ajuda para Atenas.
O problema é que,
para subsistir, o país não necessita apenas dos 31 bilhões de euros planejados
para a próxima parcela, mas sim de 45 bilhões de euros. Devido à grave
recessão, os gregos disporão de mais dois anos para alcançar um nível de
endividamento admissível, e essa prorrogação custará mais 14 bilhões de euros
ao Eurogrupo e ao FMI.
O ministro alemão
das Finanças, Wolfgang Schäuble, recusa-se a apresentar um programa de ajuda
complementar para a Grécia e fazê-lo aprovar pelo Bundestag, a câmara baixa do
Parlamento em Berlim. Assim ,
os peritos do Eurogrupo estão pesquisando outras fontes de financiamento.
Alternativas
questionáveis
A palheta de
alternativas vai desde a redução dos juros para créditos em curso até a
recompra de antigos títulos de dívidas gregas nos mercados de finanças, passando
pela renúncia total a juros por parte do Banco Central Europeu (BCE).
No entanto,
observadores do Eurogrupo questionam se com tais medidas será possível reunir
os necessários 14 bilhões de euros. Outra possibilidade seria escalonar a nova
parcela do pacote grego, liberando-a em quantias menores, e ir resolvendo pouco
a pouco a questão do financiamento.
A ideia de comprar
de volta as dívidas gregas a baixos preços nos mercados de finanças já ameaça
fracassar como alternativa, pois a cotação desses títulos vem subindo, segundo
fontes do Eurogrupo. Corretores dos mercados informam que grandes fundos hedge
estariam adquirindo esses papéis em massa, vislumbrando lucros com a recompra.
"Grécia
cumpriu seu dever" – tarde demais?
A hesitação do
Eurogrupo enfurece o premiê grego Samaras. Durante a cúpula da UE, ele declarou
à imprensa com uma expressão séria, quase irritada: "Cumprimos nosso
dever. Agora está na hora de nossos parceiros europeus e o Fundo Monetário
Internacional cumprirem o dever deles":
De fato, a troica
composta pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e FMI registrou
que a Grécia já haveria imposto as necessárias e rigorosas reformas e programas
de austeridade.
Porém a troica
também aponta que o país está atrasado no cronograma para a implementação das
medidas – sendo este um dos motivos para a necessidade de mais dois anos até
que a carga de débito grego seja reduzida a 120% do PIB, como exigido. Além
disso, a recessão se apresenta mais grave do que se pensava.
Por outro lado,
segundo informações não confirmadas de círculos do Eurogrupo, a chefe do FMI,
Christine Lagarde, teria suspenso sua resistência contra o relaxamento do
cronograma para a Grécia.
Assim, o fundo
internacional estaria disposto a aceitar para 2020 um endividamento de 124% do
PIB, em vez dos 120% exigidos. No momento, as dívidas gregas somam 170% do
Produto Interno Bruto e espera-se que cresçam no próximo ano, devido à
renitente recessão.
"Que não se
esperem milagres"
Falando à emissora
alemã SWR, o ex-presidente do Deutsche Bank Josef Ackermann insistiu ser necessário
um segundo corte parcial das dívidas gregas. "O momento certo será agora,
ou só no fim do processo? Do ponto de vista econômico isso não é relevante, mas
antes uma questão política", observou o banqueiro suíço.
Diversos
Estados-membros do Eurogrupo rechaçam tal proposta, da mesma forma que o BCE,
pois, na qualidade de – eles mesmos – credores da Grécia, um corte lhes traria
enormes prejuízos.
Em março de 2012,
credores privados como bancos, grandes investidores e seguradoras abriram mão
de parte de suas exigências em relação a Atenas. Agora, Ackermann tem como
certo o corte parcial por parte dos credores públicos. "Alguma hora ele
terá que vir, não consigo imaginar que a Grécia sairá por seus próprios meios
dessa situação de miséria, os impulsos de crescimento são simplesmente fracos
demais."
O país precisa
fazer mais e colaborar mais intensamente com o empresariado, aconselha Josef
Ackermann. "É claro que é também necessário que se torne mais atraente
investir na Grécia. Isso implica também reformas de cunho estrutural. Mas, por
outro lado, não se podem esperar milagres, lá."
Autoria: Bernd
Riegert (av) - Revisão: Carlos Albuquerque
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