Fabíola Maciel - Público
Conferência
organizada pela comissão promotora do apelo “Em defesa de um Portugal soberano”
ficou marcada por muitas críticas ao Governo.
A conferência
nacional “Em defesa de um Portugal soberano e desenvolvido” foi o palco
escolhido para lançar um manifesto ao povo português contra as “políticas
anti-democráticas e anti-patrióticas”, que alegam estar a “destruir o débil
estado social”.
O evento teve como
objectivo discutir o apelo ao povo português, lançado em Dezembro de 2011 e
subscrito por mais de mil personalidades – entre as quais, Siza Vieira, Souto
Moura e Mário de Carvalho -, que invoca a que “os democratas e patriotas
manifestem a sua opinião e para que se inscrevam, como imperativo patriótico da
sua intervenção cívica e política, a denúncia e rejeição do programa que está a
ser imposto ao país”.
Na conferência,
realizada no auditório da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa,
António Avelãs Nunes, professor catedrático jubilado, centrou a sua intervenção
em críticas à União Europeia e ao Governo português. “Estado português está em
prisão domiciliária, sujeita visitas periódicas”.
Perante um
auditório quase cheio, Avelãs Nunes sustentou que “o Governo não tem
legitimidade”, uma vez que ”, acrescentando que “a democracia está em perigo”.
O professor jubilado do Instituto Superior Técnico criticou também a “situação
algo esquizofrénica” criada pela União Europeia, referindo-se à atitude de
“deixar os estados-membros sozinhos ou mal-acompanhados quando enfrentam
dificuldades”.
João Vilela, mestre
em História, direccionou o discurso para a resistência popular a políticas dos
sucessivos governos. “Se existe um principio que deve estar na base da luta
contra políticas é da soberania nacional”, argumentou Vilela, acrescentando que
“ a intervenção da troika diz “claramente que se entrega alguma soberania”.
O advogado
especialista em Direito do Trabalho Fausto Leite, utilizou um tom irónico para
“descer ao terreno”, ou seja, dar a visão de quem conhece de perto a
realidade.. Fausto Leite recorreu às estatísticas para alertar que “as
condições de trabalho se têm degradado” e que a “actividade laboral se tornou
mais insegura e perigosa do que nunca”.
Ao padre e poeta
Tolentino Mendonça coube fazer uma prospecção sobre a situação da Cultura,
tendo lançado um alerta: “Há um recuo histórico”. O também professor defendeu
que “este é o momento de reafirmar o lugar da Cultura” e de mostrar que “uma
sociedade tem necessidade de artistas da mesma forma que precisa de cientistas
e professores.”
A intervenção mais
aplaudida da conferência foi realizada por Joana Manuel. A actriz contou a
história dos seus pais para mostrar a evolução do conceito de “jovem”.
“Hoje percebo que aquilo que tornava o meu pai num adulto é aquilo que hoje me
impede de o ser”, disse, referindo-se ao facto de, há algumas décadas, muitas
serem as pessoas a trabalhar desde cedo. “Hoje tenho 36 anos e chamam-me
jovem”, afirmou Joana Manuel, acrescentando: “Continuo a comer todos os dias,
ter um tecto e continuo a passar recibos 15 anos depois. Isso faz de mim uma
privilegiada, mas não uma adulta.”
Sobre o papel da
Constituição, Guilherme da Fonseca, juiz jubilado do Tribunal Constitucional,
vincou que “a lei não deve ser um obstáculo” e deu alguns exemplos de matérias
que podem ser melhoradas sem custos para o Governo. “A Constituição não é uma
simples bóia no meio do mar que está lá para acudir a qualquer emergência, é
uma âncora firme no fundo do mar que não cede às ondas”, sustentou.
No final destas
intervenções, vários membros do público subiram ao púlpito para realizarem
breves declarações.
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