Rodolpho Motta Lima* – Direto da Redação
Não tem mais jeito:
está aberta a temporada eleitoral. A imprensa costuma dizer que os políticos a
antecipam, mas bem que ela gosta do ambiente, propício a especulações,
pareceres de especialistas e muita possibilidade de armação embutida...
Mesmo achando que é
cedo demais, vou tentar analisar, a partir de minha visão do mundo e
consequentes convicções ideológicas, o panorama que se está desenhando. Cabe a
expressão “convicções ideológicas” porque é impossível, nessa matéria,
imaginar-se uma isenção total. Achar, por exemplo, que o Merval ou o Sardenberg
vão, em um momento qualquer de suas vidas, aplaudir uma plataforma que se
coloque, ainda que parcialmente, contra o neoliberalismo, é entrar em devaneios
profundos. A política não só é a arte do possível, mas também relativiza esse
possível, conforme as intenções do poder e os sistemas econômicos que lhe são
impostos.
No meu caso, e sei
que há muitos que pensam como eu, não enxergo a política com ilusões. O que eu
desejaria efetivamente para o meu país está longe do que é possível obter-se.
Na nação dos meus sonhos, haveria educação e saúde totalmente públicas,
funcionaria um regime fiscal de taxação forte das grandes riquezas dos
exploradores NO país e DO país, não se admitiriam os lucros abusivos dos bancos
nem a ganância, incompetência, desrespeito das empresas de telefonia campeãs de
reclamações, existiria uma séria lei dos meios que impediria o antidemocrático
e perverso monopólio da grande mídia comandada por bilionários e que manipula
informações, seria implantado um orçamento impositivo, sim, mas participativo,
com o povo definindo claramente o que devem fazer os seus representantes.
As utopias nos
colocam em paz com a consciência, mas a política nos traz de volta à realidade.
Por isso, e agora sem rodeios, reafirmo minha posição, diante do quadro que aí
está, de que o melhor para o povo brasileiro (e esse melhor está muito longe do
ideal) não é um sistema que coloca o mercado no topo e reduz a cidadania ao
consumo e o Estado a mero executor de interesses de grupos empresariais
corporativos. Para mim, e acredito que para a maioria dos brasileiros, o melhor
é a continuidade das políticas públicas de combate à exclusão e à imensa
desigualdade que ainda marcam nossa sociedade.
Tudo sem ilusões.
As fraudes e falcatruas que o país experimenta desde sempre jamais se
encerrarão em um passe de mágica, como querem fazer crer os hipócritas
jornalistas subservientes aos patrões, só porque está terminando o
suspeitíssimo processo do “mensalão”. Continuarão a existir, não porque
petistas ou quaisquer outros “istas” ocupem o poder, mas porque são endêmicas e
fazem parte desse sistema em que vivemos, calcado na acumulação indevida do
capital, na ganância dos espertalhões. Não é verdade – e qualquer cidadão bem
informado sabe disso - que esse tenha sido, como apregoa a mídia de oposição,
“um julgamento para ficar na história”. Foi, sim, um julgamento onde o caráter
político atropelou o jurídico para tentar alterar a história, com aparato
midiático jamais visto no país e expectativas bem nítidas, quase golpistas, de
que pudesse influenciar o processo eleitoral, o de 2010 e o de agora.
Será um julgamento
histórico se, em razão da forma como se deu, vier a levar às ruas os cidadãos
efetivamente interessados em combater a corrupção, para exigir outras
apurações, conclusões e, se for o caso, punições. Será um julgamento histórico
se, apesar do casuísmo que o motivou, puder deflagrar uma investigação séria
sobre o denunciado processo de privataria no governo FHC, vier a colocar em
juízo o mensalão mineiro (anterior ao petista, até hoje não julgado), propiciar
o exame transparente do volumoso caso Cachoeira (o que é feito do Demóstenes?),
da corrupção de Brasília com políticos do DEM (e o Arruda?), dos apregoados
problemas dos governos tucanos e as propinas para o favorecimento de empresas
multinacionais, dos desvios praticados e explicitados à farta na Prefeitura do
Kassab etc etc etc
As pessoas podem e
devem ter seus posicionamentos políticos e/ou ideológicos sem que, por isso,
compactuem com erros. Não dá é para ser míope por conveniência e aceitar essa
orquestrada compulsão da mídia intencionalmente caolha, ou a hipócrita cruzada
dos tucanos e de outros bichos contra a suposta imoralidade DOS OUTROS,
livrando a cara dos seus “correligionários”.
Acho, e posso estar
errado, que o que vem por aí vai frustrar os que imaginam que esse oba-oba feito
em torno do mensalão vá alterar o quadro eleitoral . O povo, que não é bobo,
percebe intenções não reveladas.
Acredito que Dilma
continua a ter as melhores condições de ser eleita - e isso se reflete até
agora nas pesquisas - porque são importantes para o povo em geral as medidas
sociais que vêm sendo implementadas e não parece haver outra candidatura mais
voltada para isso. Acredito que essa maioria que a elegeu voltará a fazê-lo, em
primeiro ou segundo turno, apesar de não ter dúvidas sobre as tentativas que se
fazem e se farão com intensidade crescente, para desqualificar seu governo.
Claro, quem não
pensa como eu pode achar que Aécio ou Serra sejam melhores opções. Quem quer o
Estado mínimo, o primado do particular sobre o coletivo, tem mesmo que defender
o neo-liberalismo. E há também uma terceira corrente, resultado da união de
Marina (a que “pintou o seu rosto” com outras cores e consegue falar muito sem
dizer nada) e Eduardo (o que, depois de 11 anos ao lado do PT, promete agora
“mais do mesmo”). Difícil crer que os dois emplaquem juntos, pois suas ideias
são claramente conflitantes.
É isso. Minhas
escolhas políticas estarão sempre voltadas para quem combate a miséria e a
desigualdade. Escolho o que mais se aproxima dos meus sentimentos, mas, sempre,
com os pés no chão.
*Advogado formado
pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa
do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições
do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura,
particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do
Brasil.
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