António Freitas de
Sousa - Económico
Os islandeses não
resgataram o sistema bancário. Mas a economia recuperou rapidamente: cresce a
2,7% e taxa de desemprego ronda os 4%.
A Islândia, em
Setembro de 2008, tornou-se o primeiro país fora dos EUA a sofrer com os
desvarios do sistema financeiro, que passaram à história sob o nome de
‘subprime'.
O figurino da crise
espalhar-se-ia rapidamente: o sistema bancário entrou em falência - os bancos
Kaupthing, Glitnir e Landsbanki Islands fechariam as portas menos de um ano e
meio depois -, o mercado de capitais colapsou, as famílias acumularam dívidas
astronómicas e a inflação entrou de rompante no dia-a-dia dos islandeses. Nas
fronteiras, os credores internacionais faziam fila para serem reembolsados.
Contra todas as expectativas, o governo islandês decidiu não seguir o ‘road
book' que as instâncias internacionais propunham como solução: não ajudaram os
bancos a saírem de uma dívida na ordem dos 60 mil milhões de euros, seis vezes
mais que o PIB do arquipélago. Sigmundur Gunnlaugsson, o primeiro-ministro
liberal de 38 anos, mantém hoje a rota: os problemas da banca "não vão
passar a ser dívida soberana".
A Islândia continua
a debater-se com uma série de casos em tribunal levantados pelos credores
britânicos e holandeses, mas isso ainda não é suficiente para alterar as opções
económicas do governo. E, apesar da pressão internacional, a economia está a
responder positivamente graças a uma profunda depreciação da coroa islandesa,
um instrumento fora do alcance dos países periféricos do euro.
No último ano,
segundo a Bloomberg, a coroa apreciou cerca de 10% face ao euro mas o câmbio de
156 coroas por cada euro continua muito longe das 88 registadas, em média, em
2007. Segundo a OCDE, a Islândia vai crescer 2,7% em 2014, contra os 2,3% da
média dos membros da organização. Por outro lado - e esse é o problema que está
na ordem do dia - o governo quer adoptar medidas que permitam estabilizar o
desemprego nos 2%.Um esforço assinalável, dado que, em Dezembro, a taxa de
desemprego estava nos 4%, que compara com os 26% da Grécia, os 25% de Espanha e
os 15,6% de Portugal.
Gunnlaugsson é
peremptório: "Os islandeses não estão acostumados ao desemprego". O
país estima alocar 43% do orçamento à economia social este ano. Uma das últimas
decisões nesta área foi isolar 7% do PIB para aliviar as dívidas hipotecárias
dos que enfrentam o risco de despejo. "O aumento da estabilidade vai
significar mais investimentos, mais empregos, mais criação de riqueza, para que
possamos manter o Estado social islandês", disse Gunnlaugsson. Quanto aos credores,
vão ter de esperar.
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