Bernardo
Ferrão – Expresso, opinião
Tudo
à defesa. Da direita à esquerda. "À política o que é da política e à
justiça o que é da justiça". As cautelas são muitas e é assim que deve
ser. Sócrates ainda está a ser ouvido e para já, nada mais há do que
indícios.
Cavalgar
agora a detenção de Sócrates, quando o que existe é apenas isso, a detenção, é
perigoso e os partidos sabem disso. Os estilhaços deste caso, se se provar que
há de facto um caso, podem atingir várias frentes.
E
é neste cenário que surge a frase de Passos Coelho: "os políticos não são
todos iguais". Não são de facto. Ao dizer isto precisamente no dia de hoje
e rompendo as cautelas que impôs ao seu partido, Passos quis dizer que não é
igual a Sócrates.
Mas
o primeiro-ministro devia lembrar-se que não há só uma herança socrática, também
há uma herança da direita. Afinal este é o país do Bloco central. E foi com ele
que chegámos onde chegámos.
É
certo que o líder do PSD não estava a falar diretamente do ex-PM, mas ao trazer
para o seu discurso o debate sobre o regime e a sua regeneração, Passos nem
precisou de apontar o dedo a Sócrates e à sua detenção.
Passos
atirava assim a primeira pedra? É o que parece e sem esperar pelas conclusões
no campus da justiça. Na política não pode valer tudo. Não era Passos que se
estava a lixar para as eleições?
Nos
cenários que a direita já traça nos bastidores, há um que não pode ser
esquecido: é que se nada se provar contra Sócrates, o PS sairá em força para a
rua reclamando justiça. O jogo é ainda uma incógnita e por isso merece todos os
cuidados. Dizer agora que uns não são iguais a outros, além de perigoso, é
também pouco avisado. E Passos mostrou que afinal não é assim tão diferente.
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